domingo, 31 de janeiro de 2010

Kirk Hammett, James Hetfield, Robert Trujillo e Lars Urich incendiaram o Morumbi


Deve ter rolado uma intima: “Olha aqui meu chapa, tá chovendo há mais de um mês na minha cidade, já morreu uma pá de gente e cê tá ligado que eu nunca me meti nessas tuas paradas aí com o tempo. Mas olha só, amanhã tem rock and roll no estádio do meu time e tu não vai embarreirar, senão eu rogo uma praga e todo mundo em Águas de São Pedro vai virar bambi!”.
O fato é que após mais de um mês de chuvas que devastaram São Paulo nos últimos trinta e seis dias, a cidade não viu uma gota de chuva no sábado, 29 de janeiro, dia da primeira apresentação do Metallica. Valeu, São Paulo, a ameaça deu certo.
O Sepultura subiu ao palco às oito para o show de abertura. De cara tocou Moloko Mesto, tema que também abre o CD A-Lex, seu mais recente trabalho. E apesar de fazer um show empolgante e sincero, como sempre, foi prejudicado pelo som abaixo da potência para cobrir todo o Morumbi. A banda empolga mesmo quando vem com os temas clássicos: Refuse/Resist, Arise, Territory, Dead Embryonic Cells e Roots Bloody Roots.
O Sepultura levou um pouco mais de uma hora para liquidar a fatura e em alguns minutos o set do Metallica começou a aparecer e o bumbo da bateria de Lars Ulrich já estava soando pelo estádio, mostrando o que vinha adiante.
Às nove e quarenta as luzes do estádio apagaram e a tradicional música de abertura começou a soar nos P.A.s, e um trecho de The Good, The Bad & The Ugly, western clássico dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood, Lee Van Cliff e Lee Wallach, apareceu nos telões.
Parênteses: O tema de abertura é o mesmo desde a primeira vez em que o Metallica veio ao Brasil, em 1989. O primeiro show foi no Ginásio do Maracanãzinho e os outros dois foram no Ginásio do Ibirapuera dias 4, 6 e 7 de outubro, respectivamente. Eu e meu companheiro de shows Werner Brucha estávamos lá para conferir.
Após anos como banda underground, o Metallica começava a ficar grande com o recém lançado ...And Justice For All, disco duplo e de temas longos e trabalhados, porém, com porradas inesquecíveis como Blackened e ...And Justice for All. Além do tema que levou a banda ao (quase) grande sucesso comercial, One.
Foi a primeira turnê com a participação do baixista Jason Newsted, vindo do Flotsam na Jetsam. Por muitos anos esse show ecoou em minha cabeça como um dos melhores shows da minha vida. E olha que a lista inclui Motorhead, Kiss, Nirvana, Red Hot Chili Peppers, New Order, Siouxie and the Banshees, Albert Collins, B.B. King, James Brown, Bob Dylan, Buddy Guy, Chuck Berry e mais uma porrada de gente boa.
O show de 1989 marcou pela competência dos músicos em executar os temas exatamente como eles eram no CD, pela qualidade do som – apesar da acústica do Ibirapuera ser ruim – pela garra dos caras e porque eu gostava do Metallica pra caralho. Acompanhava a banda desde o início e tinha todos os discos, em vinil, claro: Kill’Em All, Ride The Lighting, Master Of Puppets e o ...And Justice.
Também foi a primeira vez que uma das bandas da Santíssima Trindade do thrash metal se apresentava por aqui. Para quem não sabe, Slayer e Anthrax são as outras duas.
Voltando à São Paulo 2010: Creeping Death abriu o espetáculo e, finalmente, após 11 anos de espera a maior banda de thrash do mundo aterrissou no Brasil.
A primeira música de um show desses é para lavar a alma, mas a segunda foi para avacalhar. Sinos começaram a soar e um dos riffs mais matadores do metal criado, quem, diria, por um baixista, Cliff Burton, ecoou nos quatro cantos no Morumbi, que é redondo.
Parênteses 2: Apesar de ter chegado depois de Hetfield e Lars, Cliff Burton era a alma da banda no começo. Tocava ensandecidamente e criava linhas melódicas poderosas. Em uma excursão pela Europa, em 1986, Cliff dormia no ônibus quando o motorista perdeu a direção arremessando-o para fora do veículo que tombou sobre ele. O baixista tinha 24 anos. Depois dele vieram Jason Newsted e agora Robert Trujillo, um menino de ouro para o metal, cuja ficha corrida conta com passagens pelo Suicidal Tendencies, Infectious Grooves e Ozzy.
2010: Como ia dizendo, o riff de For Whom the Bell Tolls levou a platéia à emoção. Com a terceira da noite, Four Horsemen, outro clássico do primeiro disco, o Murumbi cantou o refrão em uníssono com os punhos levantados: “Die, die, die”. Foram raros os momentos em que o público não cantou as letras inteiras.
Um dos passatempos mais legais de um show com uma banda que tem tantos clássicos como o Metallica, é tentar adivinhar as músicas que serão tocadas. Confesso que Harvester of Sorrow, - a quarta - e Blackened, do …And Justice não estavam na minha lista e nem Sad But True, do Black Album.
Fade to Black começou acústica, com Kirk Hammett dedilhando um violão com corda de aço, mas como todas as lentas da banda, acabou virando porrada. Maravilhosa.
A partir da sexta música começou o bloco com as novas de Death Magnetic, That Was Just Your Life, The Day That Never Comes e Broken, Beat & Scarred. Como é bom ver e ouvir Kirk Hammett voltar a solar com a rapidez de um raio. Um dos melhores guitarristas do metal.
Sad But True veio em seguida: “For our friends of Sepultura”, diz Hetfield. Após uma artilharia e fogos de artifício começa One, seguida por Master of Puppets e Blackened. Nessa, cada vez que a palavra “fire” era cantada, subiam duas colunas de fogo ao lado do palco.
Nothing Else Matters e Enter Sandman, essas sim, as duas músicas que içaram o Metallica ao mainstream, foram as próximas. O estádio inteiro cantou com primeira e pulou com a segunda. A banda saiu para uma água, mas voltou em poucos minutos para o bis.
Stone Cold Crazy foi a escolhida para representar aquele disco lá das covers. Motorbreath foi a penúltima a ser tocada, fazendo as rodas de mosh se multiplicarem e aumentarem. E para o grand finale a música escolhida foi Seek and Destroy que, com todos aqueles riffs e variações de dinâmica, mudaram toda a história do rock and roll. Seek and Destroy é música que mais representa o Metallica: em alguns momentos rápida, em outros rítmica, mas sempre carregada de chumbo. Pra dizer o que foi ruim, os telões da lateral estavam uma merda, um viado vomitou vinho puro do meu lado e um outro mané fumetado e bêbado encheu o saco até a metade do show. Depois apagou.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tarso Carnal precisa de ajuda


Tarso Wierdak, vocalista da Carnal Desire, banda de São Vicente, está internado desde o começo do ano por complicações da diabetes. Ele luta contra a doença há muitos anos e uma simples bolha evoluiu para uma ferida enorme na sola do pé, que infeccionou e comprometeu todo o pé e parte da perna.
Após ter passado um tempo se tratando pelo SUS, sua situação agravou ao ponto do músico correr risco de morte.
Com a mobilização dos amigos da região Tarso foi transferido para um hospital particular, onde toda a internação está sendo custeada pelo Chorão (vocalista do Charlie Brown Jr.), amigo de longa data. Mesmo assim ele teve que ser operado, pois a infecção estava muito grave.
A infecção persiste e como todo diabético ele tem sérios problemas de cicatrização, por isso precisa de tratamento em uma câmera hiperbárica. O tratamento teve início na segunda-feira, dia 25 de janeiro e já faz efeito positivo, o que está deixando os amigos muito otimistas.
Para que Tarso continue o tratamento ele necessita de recursos. E é essa a hora que ele mais precisa de ajuda de seus amigos e fãs. Por isso, qualquer quantia já será de grande ajuda para dar continuidade ao tratamento!

As contribuições devem ser depositadas em nome de Marcus L. Wood
Banco Real/Santander
Agência: 0650
Conta/poupança: 22367565-4

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Alligator vem de Holmes Brothers e Guitar Shorty em março



A gravadora de Chicago Alligator anunciou essa semana a data de seus próximos lançamentos. Será no dia 2 de março de 2010 e os novos trabalhos são de um dos principais grupos norte americanos, os Holmes Brothers, e do guitarrista e cantor Guitar Shorty.
Feed My Soul traz a assinatura do grupo: os vocais graves do guitarrista Wendell Homes (recém curado de um câncer), o falsete, na voz, e não na bateria, essa sim marcante, de Popsy Dixon’s, e o barítono do baixista Sherman Holmes, imprimindo muito soul às performances.
O disco está sendo produzido pela vencedora de diversos prêmios Grammy e colaboradora de longa data, Joan Osborne.
Além de muito blues, Feed My Soul traz uma mistura dos principais gêneros musicais afro americanos como Soul, rock, R&B, gospel e algum country. Tomando pelos outros trabalhos do grupo, a mistura deverá ser tão tão empolgante que poderá ser tocada tanto nos inferninhos de sábado a noite, como nos cultos religiosos no domingo de manhã.



Bare Knuckle, de Guitar Shorty, traz a assinatura de compositor e baixista Wyzard, ex Mother Finest, na produção. Segundo a gravadora, Wyzard se aproveita da energia e pirotecnia da guitarra pesada desse guitarrista influenciado pro não menos que Jimi Hendrix e Buddy Guy. As composições são calcadas em problemas sociais.
Conhecido pelas performances incendiárias, Shorty se apresentou ao lado de Ray Charles, Sam Cooke, B.B. King, Guitar Slim e T. Bone Walker no começo da carreira, mas só atingiu algum reconhecimento após uma turnê pela Inglaterra.
Foi a partir do ótimo Watch Your Back (2004) e do premiado We The People (2006), ambos pela Alligator, que Shorty se firmou no mundo do blues. Além de seu álbum mais vendido, We The People foi vencedor do Blues Music Award na categoria de melhor disco de blues contemporâneo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Muddy Waters era como um pai para mim, diz Willie "Big Eyes" Smith



Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

Ele já tocou com Bo Diddley, Johnny Shines, John Lee Hooker e participou como baterista do derradeiro grupo de Muddy Waters, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos.
Sua bateria é ouvida em todos os álbuns de Muddy que ganharam o prêmio Grammy, entre eles, Hard Again e I’m Ready. Mas também é ele quem aparece na cozinha de King Bee e do ao vivo Muddy “Mississippi” Waters, ambos produzidos por Johnny Winter.
Hoje investe em carreira solo como gaitista, baterista e cantor. Em passagem pelo Brasil para uma série de shows no ano passado, Willie “Big Eyes” Smith concedeu essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog.
O atraso na publicação se deve ao fato de que só agora, após quase nove meses, a gravação ter sido localizada nas profundezas dos meus guardados. Acontece.

Eugênio Martins Júnior: Você se lembra quando e como foi que você conheceu o blues?
Willie Big Eyes Smith: Acho que aos oitos anos. Que eu me lembre foi a primeira vez que eu ouvi blues. Vivia com os meus pais e minha avó possuía alguns discos, aqueles velhos discos de blues de Robert Johnson, Little Brother Montgomery, Leroy Carr, Tampa Red, todos esses caras. Morávamos em uma fazenda, um pouco isolados e ela sentava lá e tocava os discos, mas eu ainda não estava pronto pra ouvir, não fiquei muito empolgado.

EM: Fale um pouco sobre Helena, sua cidade natal no Arkansas, ela sempre foi um berço de blueseiros, não é verdade?
WBES: Sim, Sonny Boy Willianson, Roosevelt Sykes, Willie Love, todos estavam por lá por causa do King Biscuit Time, famoso programa de rádio da época, eles tocavam e moravam por ali. Mas Helena é como todas as cidades do sul, como Missouri, Mississipi, Texas.

EM: Qual foi a sua primeira impressão da cidade grande quando foi pela primeira vez à Chicago?
WBEY: A primeira vez que eu pus os pés em uma cidade grande foi em 1941 e não tinha mais do que cinco anos de idade. A minha avó tinha um filho que vivia em Chicago. A segunda vez eu devia ter uns oito, depois dez e depois doze. Quando eu fiquei grande o bastante para ir sozinho foi em 1953, com 17 anos de idade. Ia para uma visita de duas semanas, mas não quis voltar mais pra casa, comecei a trabalhar comprei um carro e só depois voltei.

EM: Você tocou com Bo Didley e Johnny Shines, duas verdadeiras lendas do blues, conte como foi a convivência com essas duas feras.
WBES: Eu e Bo Diddley começamos juntos, costumávamos procurávamos trabalho todos os dias nas casas noturnas, tocávamos nos finais de semana e esses empregos não duravam muito tempo. Fui apresentado ao Johnny Shines por Arthur "Big Boy" Spires, éramos muito unidos nessa época.

EM: Você tocou com Muddy Waters uma das maiores lendas do blues, como foi esse envolvimento?
WBES: Em uma das primeiras vezes que estive em Chicago minha mãe me levou para vê-lo tocar. Foi de mais para mim, foi quando decidi que era isso que queria fazer. Na outra semana ela me comprou um teclado e eu sentei e trabalhei nele e em dois meses estava tocando.

EM: Como era Muddy Waters?
WBES: Para mim era como se fosse meu segundo pai. Eu era jovem e ele me explicava o que eu devia fazer, você sabe, dizia para eu ficar longe de encrencas, era basicamente isso: “Tome cuidado, Chicago não é brincadeira”. Tudo o que eu precisava, com Muddy eu tinha.

EM: E Você conseguiu se manter fora dos problemas?
WBES: (risos) Sim, consegui.

EM: Nos últimos anos de sua vida Muddy gravou alguns discos que eu mais gosto e King Bee é um deles. Nele você participa com Johnny Winter, Bob Margolin, Pinetop Perkins e outros. Gostaria que vopcê falasse um pouco sobre aquelas sessões.
WBES: Foi como todas as outras, nós chegávamos lá e trabalhávamos duro. (risos). Todos tocavam muito bem, todo o tempo e você tinha de entras na onda, porque se você não se equiparasse aqueles caras estava fora.

EM: O que o blues representa para a cultura norte-americana?
WBES: Representa muito, veja, a cultura americana existe antes de mim, de Muddy. Mas Muddy era o cara que todos os músicos se espelhavam que queiram fazer o que ele estava fazendo e isso manteve o blues vivo. Naquela época era uma música negra, não era uma música que todos gostavam, mas ela sempre esteve lá.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Aos 84 anos o astro B.B. King volta ao Brasil



O Bourbon Street Music Club divulgou ontem que uma vez mais o astro a música B.B. King vem ao Brasil para uma série de quatro shows. A turnê leva o apropriado nome de One More Time, já que essa é a quinta vez que o músico toca no Brasil, as outras foram em 93, 98, 2004 e 2006.

O músico, que é considerado o embaixador do blues, havia anunciado em 2006 a intenção de parar de excursionar pelo mundo. Aos 84 anos, a lenda da guitarra tem de tocar sentado a maior parte do show.

O primeiro show será no Rio de Janeiro, dia 16, segue para São Paulo com apresentações nos dias 19 e 20 e encerra em Brasília no dia 22. A direção do Bourbon Street estuda ainda a possibilidade de mais um show em São Paulo. A turnê inclui ainda Santiago, no Chile, e Buenos Aires, na Argentina.

No Rio de Janeiro o show será no Vivo Rio e os ingressos custam R$ 120 (setor 3), R$ 240 (frisas), R$ 280 (setor 2), R$ 300 (camarote B), R$ 360 (setor 1), R$ 450 (camarote A e vip) e R$ 500 (vip premium). As entradas estão à venda no site www.ingressorapido.com.br, no telefone 0/xx/21/2272-2940 e na bilheteria da casa.

Em São Paulo as duas apresentações serão no Via Funchal. Os ingressos custarão de R$ 220 (plateia 2) a R$ 600 (setor vip), mas ainda não foram especificados todos os valores por setor. As entradas estarão à venda no site www.viafunchal.com.br, pelo telefone 0/xx/11/3089-6999 e na bilheteria da casa.

Em Brasília o show acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, mas o horário e o preço dos ingressos ainda não foram divulgados.

Serviço:

Rio de Janeiro 
Quando: 16/03, a partir das 21h30
Onde: Vivo Rio (Rua Dom Infante Henrique, 85, Parque do Flamengo)
Quanto: R$ 120 (setor 3), R$ 240 (frisas), R$ 280 (setor 2), R$ 300 (camarote B), R$ 360 (setor 1), R$ 450 (camarote A e vip) e R$ 500 (vip premium)
Ingressos: www.ingressorapido.com.br, no telefone 0/xx/21/2272-2940 e na bilheteria da casa
Informações: 0/xx/21/2272-2940

São Paulo
Quando: 19 e 20/03, a partir das 21h
Onde: Via Funchal (Rua Funchal, 65, Vila Olímpia)
Quanto: de R$ 220 (plateia 2) a R$ 600 (setor vip)
Ingressos: www.viafunchal.com.br, pelo telefone 0/xx/11/3089-6999 e na bilheteria da casa
Informações: 0/xx/11/3089-6999

Brasília
Quando: 22/03
Onde: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Quanto: A confirmar
Informações: 0/xx/61/3429-7600

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Big Gilson, o selvagem da slide


Texto e foto: Eugênio Martins Júnior

Recém chegado de uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá, em setembro de 2009, Big Gilson se apresentou em Santos dentro da Mostra Blues, no Sesc. O evento, que aconteceu em três dias, recebeu ainda a Caviars Blues Band, Big Joe Manfra Blues Band e workshops com Rodrigo Moreno (gaita para principiantes) e Mauro Hector (guitarra blues).

O repertório do show contou com temas de seu mais recente trabalho, o CD Sentenced To Living, e clássicos do blues. Essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog foi concedida minutos antes do artista fazer um show eletrizante.

Nela o artista fala (pra caramba) sobre tudo relativo ao blues. A entrevista é longuíssima, mas, para nós, amantes do blues, é um deleite só. Confira.

EM – Fale sobre seu começo na guitarra e a banda Big Allanbik.
Big Gilson – Ouvi música desde cedo, meu pai sempre gostou de música instrumental, jazz e rock and roll, e quando ouvi um camarada chamado Johnny Winter foi realmente que resolvi tocar guitarra. Adorei ele tocando, já tinha ouvido muita coisa, mas nunca tinha dado a devida atenção. Nunca havia tido aquela vontade de querer tocar guitarra. Daí fui crescendo e tocando de forma autodidata, formando várias bandas no Rio, nem existia mercado de blues. Começou a ter um mercado de rock com o Rock in Rio, nos anos 80, embora não fosse o rock que eu gostasse, mas era também uma coisa nova, começou a fazer parte do contexto. Eu já era casado, parei de tocar guitarra um tempo pra fazer faculdade e pra mim tocar sempre foi uma coisa muito séria, não queria ser guitarrista de fulano ou beltrano como vários amigos meus estavam fazendo. Nada contra, só que não era a minha onda.

EM – Parou de tocar e depois?
BG - Vários amigos meus estavam empregados, com Ângela Rô Rô e nem me lembro mais quem era na época, vários artistas famosos. Mas eu sempre quis ter uma banda, aí entra em banda e sai de banda, participei de várias audições até que uma banda chamada Emoções Baratas, bem rock and roll, bem do jeito que eu queria e foi quando eu comecei a tentar ser profissional, fazer uma coisa mais séria. Até a mudança que acabou virando o Big Allanbik, que passou a ser uma banda somente de blues. Lançamos o primeiro disco em 1992, foi uma coisa muito rápida, com oito meses a banda já tinha um disco lançado. Na minha opinião, foi uma das bandas mais importantes do cenário, uma banda muito boa que durou seis ou sete anos, depois eu segui carreira solo.

EM – A banda acabou porque cada um foi para um lado?
BG – Mais ou menos isso, os interesses começaram a entrar em conflito, os objetivos. Eu já havia começado uma carreira paralela, a partir dessa época, 1991, 92 me dediquei inteiramente à música. Tinha filhos pequenos e tinha realmente de fazer grana, aí comecei uma carreira paralela para poder tapar os buracos na agenda do Big Allanbik. Também para poder fazer um blues tradicional, mais raiz, acústico. Eu e o Alan Green, que era o guitarrista do Big Allanbik, começamos a fazer esse lance paralelo, e a coisa foi indo. Fizemos uma jam session em estúdio que ficou bem legal e fechamos com a (gravadora) Eldorado, então a coisa caminhou muito forte. O Alan Green saiu do Big Allanbik eu não, fiquei até o final. A partir dali comecei carreira solo, em 1997.

EM – Inclusive viajando bastante para fora do país.
BG – Invisto na carreira internacional, porque acho o blues um mercado muito limitado. Procuro estar sempre por lá.

EM – Como você faz os contatos?
BG - No começo, na primeira vez que viajei para fora foi em 95 com o Big Alanbik, fui eu quem organizou a turnê toda, que era uma coisa mais de ego mesmo, queria me testar. Ver se ia agradar lá na terra dos camaradas que inventaram esse troço, porque a Europa é sempre mais aberta em termos de cultura de blues. Se eles iam gostar de mim, ou não. A resposta foi impressionante, neguinho gostou. Passei a ir sozinho também no mesmo esquema, sempre Estados Unidos. É um trabalho de formiguinha, um crescimento lento, mas é sólido. Onde passo os horizontes vão sempre ampliando. Já tenho dois CDs lançados nos Estados Unidos, tenho um terceiro agora, o Sentenced to Living, que iria ser lançado lá pela Top Cat Records, mas eu fechei com uma gravadora belga para lançar no mundo todo e eles fizeram questão que no contrato constasse o mercado americano. O pessoal da Top Cat ficou até chateado com essa exigência.

EM – Você acaba de chegar de uma turnê pelo Canadá e Estados Unidos, como foi?
BG – Fiquei quarenta dias viajando. Todas as minhas turnês são assim, fico fora um mês. O Canadá eu comecei a explorar o ano passado, o pessoal pensa que por a gente estar lá é um puta esquemão, mas não é, é uma puta ralação. Eu não era ninguém lá, comecei do zero, mas comecei a me destacar. Tinha um fã que conheci através da internet e que sempre me enchia o saco para ir (riso).
Sabe como é fã, às vezes o cara se empolga, chama pra fazer, mas quando chega a hora de fazer a produção a coisa acaba não rolando. Pô, o cara tinha todos os meus discos, sabia toda a minha história e toda a hora o cara mandava e-mail me chamando. Eu falei, quer saber, peguei um carnaval que geralmente a gente não encontra nada para fazer, tinha um monte de milhagem aérea e disse: “Olha cara, vou te dar dez dias para ficar aí e não quero gastar dinheiro, posso até não ganhar, mas não quero gastar. Você vai ter de me hospedar e me alimentar”. Ele perguntou se havia algum problema ficar na casa dele e eu disse que não. Resumo da história, em dez dias ele me arrumou 14 shows. Teve dois dias que eu fiz dois shows, três sets de uma hora, ralação. Então, em dois dias eu fiz seis horas de show em duas cidades diferentes. No final ele foi me levar ao aeroporto e pediu desculpa por alguma coisa, disse que não era profissional. E eu disse que se metade dos caras profissionais que trabalham comigo fizessem como ele eu estava feito.

EM - Essa foi da primeira vez e depois?
BG – Recebi um convite para voltar lá em abril, para abrir adivinha pra quem: Johnny Winter, meu maior ídolo, inclusive essa guitarra que eu vou tocar aqui é assinada por ele, depois eu te mostro. No primeiro set do meu primeiro show no Canadá, um puta produtor assistiu e quando eu fui ao banheiro ele foi atrás de mim e disse: “Adorei seu show, você faz umas frases diferentes e isso é muito difícil no blues porque todo mundo copia todo mundo. Vou trazer o Johnny Winter em abril, você quer abrir o show dele?”. Eu disse: “Espera aí, acho que o meu inglês está falhando, repete aí”. E ele repetiu. Eu falei que lógico que eu queria. Em abril eu voltei e ainda fiz mais dois shows pequenos.

EM – Conheceu o velhinho?
BG – Conheci, ele mandou me chamar. Ele mora no trailer e nem o produtor que pagou o show dele tem acesso. Ele é o maior louco, né? É recluso. Esse cara falou que ia tentar me colocar em contato com ele, mas não me garantiu. Quando estava no camarim após minha passagem de som, pensava como ia fazer para falar com ele. Aí o cara chega e fala que o Johnny havia mandado me chamar. Fui lá no camarim e ele foi super legal.

EM – Como está a saúde dele? Ele vinha ao Brasil em 2007, mas a turnê foi cancelada por problemas de saúde?
BG – Ele melhorou pra caramba. Mas cancelaram não por causa da saúde, foi por causa da metadona que ele toma. Mas dizem que ele conseguiu parar, quer dizer, está menos dependente. O show dele foi muito bom. Havia visto um show dele em Nova Iorque e tinha sido realmente muito ruim. Foi bom por ter visto a lenda, mas musicalmente falando, de olhos fechados, teria sido um show fraco. Mas o show do Canadá foi bom, consegue entender o que ele canta.

EM – Aí o Canadá se abriu pro blues do Big Gilson?
BG – Essa turnê do Johnny Winter foi em 2007, havia contratado uma banda de lá e os caras gostaram de trabalhar comigo e me convidaram pra fazer uma turnê em outubro e novembro, então fui pela terceira vez ao Canadá no mesmo ano. Nunca tinha ido pra lá. Aí meu nome ficou em evidência e um produtor me convidou para participar de um grande festival em um final de semana prolongado, em 2009, em uma cidade que fecha para o blues, são 70 shows em cinco palcos. Pô, toquei no palco principal e toquei um pouco antes da banda Cannead Heat, que tocou em Woodstock.

EM – O Al Wilson e o Bob Hite morreram, quem sobrou do Canned Heat original?
BG – Sobraram o baixista e o baterista, mas o guitarrista que está agora é uma lenda, o Harvey Mandel. Ele estava lá. Aí depois tocou o Elvin Bishop, o Tab Benoit, o Studebaker John, só fera. O nível lá é foda. Fizeram um CD promo do festival e fizeram questão de colocar uma musica minha, recebi um e-mail do chefão do festival agradecendo minha participação, fico muito feliz com esse reconhecimento.

EM - Dessa vez quanto tempo você passou lá na gringa? Onde você tocou?
BG - Foram 30 dias no Canadá e uma semana nos Estados Unidos. Foram 20 shows no Canadá. Nos EUA fui pra Dallas, fiz quatro shows. Geralmente são muitos shows, ano passado na Europa fiz 48 shows em 60 dias. Agora estou planejando uma mega-turnê de lançamento desse disco na Europa que nem sei quanto tempo vai durar. Já tenho certo uns dois ou três meses, mas a gravadora quer que eu fique mais, tá fazendo a maior pressão.

EM – Vai levar os músicos daqui?
BG – Não, pra economizar vou contratar uma banda lá. Queria muito levar os caras daqui. Os caras de São Paulo e os caras do Rio, mas mesmo estando num patamar melhor lá fora você continua tendo que economizar grana.

EM – Ainda é a mesma banda que tocou no festival de Rio das Ostras, em 2007?
BG – Não, é outra. Aquela banda tinha uns caras do Big Allanbik e acabou se tornando uma grande decepção pessoal. Minha banda atual é o Gil Eduardo, que foi o batera fundador do Blues Etílicos, e o Pedro Leão, que tocou no finalzinho do Big Allanbik, o último ano, fez algumas gigs e agora está direto comigo. Ele tocou n’O Rappa Acústico. E esses marginais de São Paulo, que eu adoro. (risos).

EM – Conta a história que você me contou em Rio das Ostras sobre a parceria com o The Wolf, e que acabou rendendo o disco Chrysalis.
BG – Aquilo foi engraçado. A esposa do Wolf fazia era a manager dele. Aí ela mandou o material do disco novo dele para um DJ lá no sul da Argentina. Não sei porque, acho que o cara era o meu fã, e perguntou se ela me conhecia, disse que eu era um puta blueseiro. Ela disse que não me conhecia e ele colocou a gente em contato. Eles nunca tinham vindo para a América do Sul e nem mesmo nos Estados Unidos. O The Wolf era amarrado em música norte americana, mas só tinha ido lá uma vez, e mesmo assim a passeio. Ele era louco para entrar no mercado de lá e eu louco pra entrar na Europa. Já havia feito uma Turnê grande na Espanha, mas só, não estava dando certo. Resolvemos juntar as forças, ele me ajudar na Europa e eu ajudar ele lá nos Estados Unidos e aqui no Brasil. Gravamos um disco que foi lançado só na Inglaterra chamado Bring It Back Home, depois gravamos o Chrysalis porque uma gravadora americana havia se interessado e queria um disco numa onde de uma banda chamada Delta Moon. Os caras ouviram o Bring It Back Home falaram que aquilo ia acabar ficando em um gueto do blues. Mas tinha uma música lá que os caras achavam que vendia e disseram pra gente fazer um disco naquela onda. Música para tocar em FM, mas que não seja uma música imbecil. Aí deram o exemplo da Delta Moon, que já era uma banda que eu gostava.

EM – Quem fez o que no Chrysalis?
BG - Eu compus a maioria das músicas, já com uma direção e com prazo, funcionou muito bem assim. Preparei o disco, mandei para ele (The Wolf), a mulher dele fez as letras e ele veio ao Brasil gravar com a gente, gravamos lá no Rio. O triste da história é que logo depois dessa gravação fizemos uma turnê lá nos Estados Unidos, ele ficou amarradão em Nova Iorque, tocamos no Bamboo Room, onde eu gravei um CD. Quando ele voltou para a Inglaterra teve um ataque cardíaco fulminante no aeroporto de Heathrow e morreu, nem chegou a ver o CD pronto. Eu nem ia lançar esse CD, mas o pessoal achou melhor lançar em sua homenagem. Fiquei tão arrasado, a coisa com ele estava pegando o fogo, então a gente tinha uma mega-turnê na Europa, uma turnê no Brasil, na América do Sul e foi tudo cancelado. Fiquei seis meses sem trabalhar, sem cabeça. Queria desistir de ser músico, fiquei pirado. O negócio foi muito forte pra mim. Nunca havia perdido alguém que havia trabalhado comigo. Eu o conhecia há tão pouco tempo, mas parecia que conhecia há cinquenta anos. Conhecia o cara há um ano e meio, mas tinha uma afinidade muito forte e ele confiava totalmente em mim. Eu fico até arrepiado, tenho procurado não falar muito nisso, tenho colocado de lado.

EM – E depois?
BG – Ainda fizeram um show tributo na Inglaterra e a mulher dele me chamou, foi foda tocar com a foto dele em cima do palco, com vários músicos que participaram da carreira dele. A mulher dele que sempre foi uma mulher forte, bem dizer, o homem da casa, ele sempre foi o malucão, o artista, foi a primeira vez que ela chorou e nos abraçou, ela já é uma senhora, né? Quando eu fui embora, entrei no taxi para fazer um show em um outro pub, veio toda uma música na minha cabeça, vou tocar ela aqui hoje, a primeira que eu toquei na passagem de som, uma balada. (It’s Hard to Say Goodbye). Foi a última vez que eu vi a mulher dele viva. O trajeto tinha menos de cinco minutos e a música veio toda em minha cabeça. Quando cheguei ao pub os caras começaram a falar comigo eu pedi um violão subi para o segundo andar e escrevi a letra, só não tinha os acordes. Faltava uma frase que eu não conseguia fazer, aí conversei com o faxineiro que era meu amigo, às vezes eu dormia nesse pub, o que havia acontecido e tudo. Ele me respondeu que o que eu tinha de fazer era continuar a tocar a minha guitarra e essa frase fechou a música.

EM – A mulher dele morreu logo depois disso?
BG – Acho que um ano depois. Ela apareceu com câncer no pulmão, ela nunca fumou. Quando Soube foram só dois meses.

EM – Não brinca?
BG – Foram duas perdas muito difíceis. Já havia perdido parentes, mas ligados à música, que é um negócio muito sério pra mim, nunca, foi a primeira vez. Fiquei mais de um ano pensando neles e chorando todos os dias. Daí fui lutando contra isso.

EM – Vamos tornar a conversa mais leve. Você usa bastante a slide, o que não é muito normal entre os brasileiros, não é verdade?
BG – Adoro slide. Pra mim é uma coisa muito natural. Até fiquei uma época sem tocar muito, porque fiquei meio puto, as pessoas diziam que eu só tocava slide. Aí eu falei que sei tocar sem slide também. Não adianta acho que toco bem sem slide, mas é com ela que eu faço a grande diferença. Sempre que eu vou tocar com os feras lá fora, que eu sei que o buraco é mais embaixo e u vou de slide que sei que me dou bem. (risos). Na slide eu apavoro, boto pra foder em cima dos caras. (risos).

EM – Conta a história do CD gravado no Blue Note. Como foi?
BG – Foi outra parceria. Sempre tive isso bem claro, porque é muito difícil para um brasileiro entrar no mercado americano sozinho. Tem muito preconceito, eles se acham os donos da música. Então, consegui fazer uma parceria com um gaitista americano chamado Bruce Ewan. Ele já tinha uma parceria com o André Christovam, aí eu trouxe ele para cá e ele agitou para mim lá e eu já tinha também uma entrada no Blue Note por causa do Big Allanbik, propus aos caras e acabamos gravando lá com um puta estúdio móvel usado pelo Jerry Lee Lewis, Eric Clapton, Allman Brothers, fez trabalho para a rede CBS. Esse equipamento é usado nesses programas tipo Jô Soares e tal, com bandas tocando na televisão, por isso que a qualidade é boa, foi aí que eu descobri. Aquilo é gravado, mixado e masterizado antes de ir ao ar. É uma gravação de disco, você está ouvindo um disco.

EM - E a história do Sentenced to Living, pra mim é um disco de protesto, procede?
BG – É, ando meio puto com o mundo, tanta guerra, tanta injustiça social, tanta roubalheira, miséria. Tenho andado meio triste com isso daí resolvi fazer várias músicas com esse tema. O próprio título “Condenado à Vida”, já é um aviso. O bebê da capa sou eu mesmo fumando meu primeiro cigarro com seis meses, meu tio que me deu. Não tem fotoshop, a foto é real. Mas eu nunca curti cigarro.

EM – Esse CD é mais rock and roll que os outros.
BG – É, porque quando eu comecei a carreira solo, focada muito nos Estados Unidos, que não tinha mais entrada pra mim, eles são muito mais puristas, principalmente se você não for americano. Quando eu mudei de guitarra, sempre toquei de Gibson, mudei pra Fender aí a coisa já muda de figura. Mudei para a Fender para parecer menos rock and roll, fiquei focado no blues. No Sentensed to Living eu liguei o foda-se pra tudo, agora vou fazer o que eu gosto que é o blues com pegada rock, mais moderna e que é o que está acontecendo lá fora. Então comecei a fazer o que eu faço melhor. Adoro tocar o blues de raiz, mas hoje em, dia adoro tocar um blues mais rock and roll. O Sentenced é bem isso, bem cru, as cordas são todas cordas velhas. Não usei nenhum pedal de efeito, é tudo amplificador no talo, me custou dois jogos de válvulas. As válvulas gastaram todas. O disco está bem honesto, fiz o disco pra me agradar. Pra ouvir e ficar feliz, pro meu gosto pessoal, mesmo. Ele me satisfaz em todos os sentidos.

EM – Qual foi a tua maior emoção no blues?
BG – Como eu te falei, tive a sorte de viver tantos momentos legais, esse lance de abrir para o Johnny Winter. Depois que eu falei com ele, pra você ter uma idéia, tive 39° de febre. Comecei a tocar por causa dele, tenho todos os discos, acho que tenho, tenho até uma vídeo aula, muito tosca, muito engraçada.

EM – E qual foi o show inesquecível que você assistiu?
BG – Já assisti muito show, mas gosto de gente que inova tem um cara chamado Ian Siegal, ele consegue tocar um slow blues que não é slow, consegue tocar um shuffle que não é um shuffle. Toquei duas levadas na passagem de som assim. Então tu vai ouvir não é uma levada de slow blues, principalmente a batera. E os caras são assim muito criativos.
Tem o Ian Parker também eu cheguei abrir show dele na Inglaterra. O Parker é mais pop, boa pinta, faz pose e tal. Mas toca pra caralho, fizemos um show num lugar grande. Na semana seguinte tocou a Amy Winehouse e também a banda do Clapton sem ele, com Andy Fairweather Low, o baixista, o baterista. O lugar era foda, tenho o apoio dos amplificadores Marshall, então eles me deram um amplificador direto da fábrica, aí passei o som, tudo bonito, começou a primeira musica e eu fazendo a base, mas quando fui entrar no solo pifa o amplificador. Porra, fiquei puto, o lugar cheio, lugar maior responsa e eu com a cara de bunda. Aí mexi em cabo, não era nada, não sabia que era o amplificador. Falei com o road manager do Ian Parker e pedi para ele me emprestar o ampli pra eu terminar de fazer o show, disse que não ia mexer nem nos botões, que eu tinha os meus pedais. O cara foi lá e falou com o Ian e ele disse que podia mexer nos botões e tal. Então esse foi um dos shows que me emocionou, que eu achei a atitude co cara legal e o show dele é muito bem montado.

EM – Já que você falou no assunto, qual é o teu equipamento?
BG – Cara, tenho uma porrada de guitarras. Amplificadores eu gosto dos Fenders, tenho um Pro-Reverb 64, que é foda, nunca vi um amplificador como esse e tenho um Bassman também. Mas eu gosto dos Marshall Bluesbreaker também, que é baseado no Bassman. Esse ampli que eu estou com ele é uma evolução dele, é o Modern Vintage, que tem um som bem moderno, tanto que eu não uso pedal nenhum, só a guitarra direto no ampli. Como agora eu tenho o apoio da Marshall, estou usando muito ele. Guitarras tenho uma Strato, que eu chamo de Nikita, é uma reedição da 54. Tenho uma Gilsonator, que uma Resonator que eu desenhei. Essa (mostra a guitarra) vem de um luthier do Canadá chamada Frankenstein, o nome é horrível. Ele mistura pedaços de guitarras, ele gosta de fazer essas coisas. Me fez uma SG branca que eu deixei no Canadá para não ter de carregar. Uso duas guitarras para slide com afinação aberta. No disco eu uso mais, usei uma Fender Squier que eu gosto muito, tenho uma Les Paul 72. Tenho violões, tenho outra Resonator. Não sou colecionador, não. As coisa que eu tenho eu uso.

EM – Uma pergunta que eu faço a todos os músicos de blues Brasileiros. O que você acha da cena nacional?
BG – Duas coisas. Tem muita banda, mas não de qualidade. É aquele negócio, o cara pode não ter tempo para se dedicar tanto, é difícil viver de blues. Às vezes nem é falta de talento, é falta de tempo, pesquisar mais, ir mais fundo na história. Então acho que apesar da quantidade grande, há poucas bandas boas. Por outro lado outra coisa contribui para isso que é a falta de casas noturnas. Temos os Sescs os festivais que pagam uma graninha decente, mas você não consegue fazer Sesc toda a semana nem tocar em festival. Não tem casas para te segurar. Lá fora são quatro shows legais, grandes, mas o resto é casa noturna, é ralação. Não tem road, tem de carregar os equipamentos, são três sets de uma hora, até P.A. a gente tem de carregar, mas olha só, tem lugar para tocar, você consegue se manter. Quando a gente começou com o Big Allanbik, em 1991, 92, havia várias casas no interior. Hoje eu vou muito pra fora. No começo eu ia mesmo para me testar, mas agora é uma questão de sobrevivência, se eu não for para lá tocar eu vou fazer outra coisa, vou vender laranja na feira.

EM – Cita as bandas que você gosta no Brasil.
BG – Vou falar só dos guitarristas. Tem um cara que eu gosto muito que é o Otavio Rocha, meu camarada, o Fernando Noronha, que foi um cara que eu lancei quando tinha selo. Gosto muito do Marcos Otaviano, Álvaro Assmar, o Igor Prado que eu não conheci pessoalmente e nem tanto trabalho dele, mas o pessoal fala muito bem dele. Só vi um show com ele, mas achei legal. O Nuno é muito bom, tem nível internacional.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Som moderno da Caviars Blues Band



Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

Começo 2010 com blues na veia. Entrevista exclusiva da superbanda paulistana Caviars Blues Band. Realizada no final do ano passado, ocasião de um show em Santos. O grupo fala sobre seu começo, o Festival Internacional de Blues de Ribeirão Preto e sobre blues.

Com o recente trabalho The Way You Move e uma série de shows que incluíram duas comemorações aos 20 anos de blues no Brasil, no Sesc Santos, e a festa de aniversário do presidente de El Salvador (pode acreditar), a Caviars Blues Band entra no time dos blueseiros de maior destaque no cenário nacional. O CD traz versões modernas para temas de Otis Rush, Eric Clapton, Sonny Boy Willianson, Albert King, Albert Collins e Robben Ford.

A Caviars é Guappo (vocal e gaita), Xilo Moretti (guitarra), Ney Haddad (baixo) e Alaor Neves (bateria).

Vale lembrar que os shows em Santos, dentro da Mostra Blues, foram frutos de uma parceria entre o Mannish Blog, Projeto Jazz, Bossa & Blues, Revista ao Vivo, Sesc Santos, Lucas Shows e Eventos e Harmonica Master.

Eugênio Martins Júnior - Como foi o começo da Caviars?
Guappo - Conheci o Alaor e ele me convidou para montar uma banda de blues. Eu já tocava um tempo com o Xilo e ele chamou o Ney, que já tocava com ele. A partir do primeiro ensaio já rolou uma química musical. A banda funcionou.

EM - Como você começou na gaita?
Guappo - Foi ouvindo blues, mesmo. Ouço desde moleque, sempre tive essas referências. Tinha uma gaita lá na época e foi amor à primeira vista. Quando comecei a tocar já havia algumas pessoas que tocavam no Brasil, Flávio Guimarães e Sérgio Duarte. Fui conhecendo esses caras e depois fui para os Estados Unidos, fiquei um tempo lá e conheci um monte de gente da gaita e fui me aprimorando.

EM – Onde você morou nos EUA?
Guappo - Fiquei mais viajando. Toquei com um guitarrista chamado Michael Powers, um cara do circuito de blues de Nova Iorque com quem aprendi legal. O Brasil tem uma vantagem porque a cena internacional é muito forte, muitos artistas vem para cá, todo ano tem alguém vindo, há algum tempo é assim.

EM - Eu faço essa pergunta a todos os músicos de blues brasileiros para saber o que eles acham. O que você acha da cena brasileira?
Guappo - Não é uma cena forte porque blues não pega como a música pop, mas a cena do Brasil é estruturada, vamos dizer assim. Tem muita gente que toca muito bem, os músicos de blues no Brasil são bem competentes. A estrutura física não é forte, não tem lugar pra tocar, mas a emocional é forte, você vê isso quando os músicos de blues americanos chegam ao Brasil e se sentem à vontade. Eles gostam de tocar com a gente. Tanto que muitos músicos de blues quando vem ao Brasil acabam tocando com bandas daqui e o som rola muito bem.

EM - Quanto tempo vocês estão juntos?
Guappo - A Caviars tem cinco anos e um CD recém lançado.

EM - Eu tenho o CD que tem muitos clássicos com roupas diferentes. Como vocês elaboram esses arranjos?
Ney Haddad - São arranjos inspirados nos próprios músicos americanos, gostamos muito dessa onda mais moderna. Muita coisa nós começamos copiando e fomos adaptando ao nosso som. Quando você fala de blues, vêm logo à cabeça as referências, os clássicos como B.B. King, Albert King, Albert Collins. A coisa mais do sul dos Estados Unidos, Lightning Hopkins, o próprio pessoal do Texas, Stevie Ray Vaughan, mas tem muita gente no cenário norte-americano que ainda não é muito conhecida. Que pouca gente ouve, mas pra gente eles fazem a ligação entre o blues dos anos 40, 50 e o pessoal do blues com influência de jazz e fusion, como Robben Ford e outros que sõ nossas influências. Vou citar aqui a Paul Butterfield Blues Band, com o Michael Bloomfield, na guitarra. Esses caras talvez tenham feito essa transição.

EM - Tenho a impressão que os blueseiros brasileiros foram influenciados primeiro pelo pessoal dos anos 60 como o Cream, os Bluesbreakers, Led Zeppelin e Stones, principalmente, procede?
Guappo - O Eric Clapton influenciou muitos guitarristas, iIsso é muito claro. Eu comecei influenciado por gaitistas como o Paul Butterfield, o Marc Ford, irmão do Robben Ford e o Eddie Just, são gaitistas mais venenosos, com estilo mais rock. Essa veia é uma das grandes influências da nossa banda.

EM - Qual foi o show de blues que você viu nos Estados Unidos que te marcou?
Guappo - Vi dois shows do Clapton, muito show de jazz. Vi Little Charlie e Nightcats, que tem o gaitista Rick Estrin. Lá têm shows todos os dias.

EM - E você Alaor, qual foi o show de blues que mais marcou?
Alaor Neves - Vi bastante coisa lá fora, mas mais de jazz e fusion na época. Vi Robben Ford. Vi B. B. King, fui ao Village em Nova Iorque e vi gente que eu nunca havia ouvido falar e que ainda continuo sem ouvir, mas essa gente faz um blues super legal, moderno, bacana. Mas o meu background é de rock.

EM - Alaor, fala um pouco sobre aquele festival de Blues em 1989. Os músicos brasileiros e os gringos foram todos de ônibus juntos para Ribeirão Preto.
Alaor Neves - Foi a banda inteira do Albert Collins, estava a Etta James, o Buddy Guy, Blues Etílicos, Andre Christovam, todos com suas respectivas bandas. Eram dois ônibus na estrada com músicos e bandas e pessoal da produção. Foi primeiro festival de blues internacional de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

EM - Você estava na banda do André?
Alaor Neves - Não era a banda do André, era uma banda. Foi muito legal, imagina você viajar no mesmo ônibus do Albert Collins, pra quem nós abrimos. Rolou de tudo que você pode imaginar, porque foi uma coisa inusitada, não era São Paulo nem Rio, era Ribeirão Preto. A gente mudou a cara da cidade e ninguém se ligou nisso, a cidade mudou por nossa causa e nunca mais voltou a ser a mesma.

EM – E todos os anos acontece um festival de blues lá em Ribeirão.
Ney Haddad - Sim, e todo mundo espera o festival de blues e sempre está cheio.

Alaor Neves – A temática do blues é muito atraente, é um pouco do teatro da vida das pessoas, no coletivo e individual. Agora no Brasil a gente está vendo isso, o Celso Blues Boy, as letras dele são verdadeiros blues. Às vezes você ouve uma harmonia de blues, mas se for ver, as letras não estão no contexto, não é aquela coisa sofrida, bebida, embriagada, tipo: “Porra ela me deixou, mas agora eu vou me levantar, vou em frente e tal”. Sempre foi meio (solfeja o riff de Mannish Boy): “Estava na praia tomando sorvete. Quando vi uma gostosa passar”. Não tem nenhuma relação. O André Christovam que veio com essa sacada de fazer letra contundente, temas blues.

Ney Haddad – O blues é um estilo de vida, mostra o sentimento das pessoas que se expressam pelo blues, as tristezas, os amores e tal. Por contar a vida da história das pessoas envolve muito sentimento. É isso.