quarta-feira, 31 de março de 2010

"2010 vai ser o nosso ano" diz Igor Prado.



Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Marcos Rodrigues

Gravar, tocar ao vivo dentro e fora do Brasil e depois... gravar. Enfurnado em estúdio, sempre ao vivo. Durante os últimos cinco anos essa tem sido a rotina de uma das bandas de blues mais legais do Brasil: a Prado Blues Band, que também pode ser considerada a mais produtiva do país.
Desde que lançaram o CD Blues and Swing, em 2005, ainda como Prado Blues Band, com Marcos Klis (baixo) e Ivan Márcio (harmônica), não pararam mais de trabalhar. Nesse formato, gravaram também Flávio Guimarães e Prado Blues Band, em 2006.
Já como Igor Prado Band, então com Rodrigo Mantovani nos baixos, gravaram Upside Down, mais um excelente álbum com participações de R.J. Misho e Steve Guyger (vocais e harmônicas), J.J. Jackson e Greg Wilson (vocais) e Ron Dziubla (sax tenor).
Recentemente participaram da gravação de Blues Follows Me, de Flávio Guimarães, CD gravado em homenagem ao seu ídolo na harmônica, Little Walter. No encarte do CD, o próprio Flávio disse que a gravação desse disco só foi possível por ter uma banda de apoio disposta e apta para encarar o desafio.
Cheios de moral, lançaram em 2010, de maneira independente e com número limitadíssimo de cópias, o CD Igor Prado Band e Lynwood Slim, que vai ganhar uma versão gringa mais completa. Na versão nacional são 12 temas, alguns com participação do pianista Donny Nichilo e ainda Denilson Martins, o saxofonista oficial.
Em um sábado, em fevereiro de 2010, Igor, Yuri Prado e Rodrigo Mantovani se apresentaram em Santos acompanhando o guitarrista e cantor James Wheeler, de Chicago. Grande show com a casa cheia, Teatro do Sesc.
Foi quando essa entrevista foi concedida, pouco antes do espetáculo, exclusiva para o Mannish Blog. O evento foi realizado pelo Sesc e Agência Urbana. Produzido pelo Mannish Blog com promoção da Litoral FM. Com apoios do Clube Assinante A Tribuna, Calango Music e Harmonica Master, a especialista em gaitas. Agradeço as participações de Marcos Rodrigues e Thiago Krieck.

 
Eugênio Martins Júnior - Além dos discos da Igor Prado Band, a banda tem acompanhado vários artistas. Duas vezes o Flávio Guimarães, Lynwwod Slim, Steve Guyger, James Wheeler, só para citar alguns. Vocês fazem um som que ninguém faz no Brasil, ou se tem alguém, só está fazendo agora por causa de vocês. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.
Igor Prado – Ficou muito falado esse negócio do “jump blues”, mas na real o que a gente faz nada mais é do que blues e rythm’n’blues dos anos 40, 50 e 60. O James Wheeler estava falando com a gente sobre isso. Naquela época isso era a música da negrada que rolava em Chicago, nos Estados Unidos. Não havia o rock, inclusive esse rótulo, jump blues, foi uma coisa que eles usaram nos anos 90 para essa retomada. Mesmo o jazz dos anos 40, eles não sabiam que a denominação iria passar a ser swing, que a galera dançava e tal. Era só música. O lance do rótulo é legal, mas a gente toca muita coisa que os caras faziam.

EM – Tudo bem, na época era a música popular norte-americana, mas vocês são de uma banda brasileira de blues nos anos dois mil. A maioria das bandas de blues hoje partiram para o blues rock e vocês partiram para um estilo que ninguém fazia.
IP – É que a gente gosta das coisas tradicionais. Estamos para lançar um disco novo do quarteto que vai ser uma coisa simultânea com os Estados Unidos. Esse disco não é mais nosso - aponta para o CD Igor Prado Band e Lynwood Slim, que foi lançado aqui em edição limitada e de maneira independente, com menos três faixas – é da gravadora e vai ser trabalhado só fora. Também vai sair um disco do quarteto que a gente vai fazer uma coisa mais anos 60, um pouquinho mais de R&B, a gente está pesquisando muito o lance de soul que os caras gravavam nos anos 60.

EM – Você fez vários shows fora do Brasil, os caras vêm tocar aqui com a Igor Prado Band, me explica como é esse trânsito.
IP – Isso está pintando normalmente. Pra gente é animal, que é uma escola. Cada minuto com esse cara - James Wheeler - pra mim, e não só tocar, é muito importante. O cara viveu em uma época que os caras estavam todos vivos, eles estavam criando uma coisa que veio a se chamar o rock’n’roll.

EM – Pode crer, e o James Wheeler é um verdadeiro bluesman e esses caras estão indo embora.
IP – O James é um cara clássico, do jeito que ele tocava nos anos 50, naquela época, ele toca hoje. Diferente de outros caras, por exemplo, o Buddy Guy mudou, está fazendo outra coisa. Ele é um dos autênticos. Tem ele e mais uns dez pra contar nos dedos.

EM – Como foi que aconteceu esse CD com o Lynwood Slim que, pra mim, é um dos melhores CDs gravados por uma banda de blues brasileira? Como surgiu essa idéia?
IG – Quando eu estava começando a pesquisar esse lance de swing, jump blues, percebi que ele cantava muito nos discos dos guitarristas que eu ouvia: Junior Watson, Kid Ramos, Alex Schultz, que tocou com o (Rod) Piazza. E eu sempre gostei muito do som dele e de uns cinco anos pra cá a gente começou a manter contato pela internet, mandei o meu CD pra ele, começou a dar muito certo. Em 2007 o trouxe pela primeira vez e o cara adotou a gente como uma família. Em 2008 ele voltou e eu fui pra lá, fiquei na casa dele, o cara m levou pra tudo quanto foi lugar. Hoje está a ponto de ele me ligar no aniversário, natal, falar com a minha mãe.

EM – Vocês vão lançar o CD lá nos Estados Unidos?
IP – Esse ano a gente vai pra lá e vamos ficar todos na casa dele. Em maio tem quatro festivais, a gente vai tocar no Doheni Blues Festival, é um festival grande, ano passado tocaram o Robert Cray, o B.B. King. Esse ano também vai tocar o Black Crowes, não é só blues. A gente tá muito feliz, esse ano está do caralho.

EM – Mas você não me respondeu como foi a idéia de gravar esse CD.
IP – Quando ele veio a primeira vez a gente tocou um monte de coisa: “Cara vamos fazer tal coisa hoje, ai chegava na hora do show mudava tudo. Porque a gente não grava isso!?” (risos). Tramamos isso dois anos. Fomos para ao estúdio, salona grande. Gravamos no Brasil e mixamos em Los Angeles (EUA).

EM – Vocês gravaram ao vivo no estúdio?
IP – Sim, mas teve overdubs de sax, que o Denílson gravou sozinho. Mas a base, o quinteto foi gravado ao vivo. Igual aos discos de jazz, tudo ao vivo. Uma salona com todos aqueles microfones, com captação de sala, igual os caras gravavam antigamente.

EM – Como foi a escolha do repertório?
IP – Tudo via internet. Mandávamos sugestão e às vezes a gente gravava em casa, a banda tocando e eu dizia: “Vê ai o que você acha”. Ai ele respondia que achava que ficaria legal e dizia: “Mas porque a gente não faz assim, sobe dois tons nessa música”. E fomos evoluindo, quando ele chegou aqui já estava tudo certo.


EM – Porra, que lindo.
IP – É, foi tudo via internet. Quando ele chegou aqui parecia que havíamos ensaiado várias vezes. Esse é o lado bom da internet.

EM – E ele manja de internet?
IP – Pra caramba, cara.

EM – Esse CD tem duas composições suas, o resto são versões escolhidas da maneira que você falou?
IP – O Lynwood gosta de pegar “músicas lado B” e mexer nas coisas. Ele foi produtor musical, tem mais de vinte discos gravados como produtor de bandas européias e americanas. Então ele tem uma cabeça legal, gosta de gravar coisas que ninguém conhece. Ás vezes ele pega uma gravação do Count Basie que foi pouco gravada e diz: “Vamos fazer desse jeito, vamos pegar esse som do Count Basie e vamos fazer como o B.B. King fazia nos anos 50”.

EM – Como é o Lynwood Slim?
IP – Ele é uma figura, um personagem de filme. Inclusive tem uma passagem dele com o Clint Eastwood, que também é de Los Angeles. O Eastwood imita o Lynwood falando daquele jeitão estranho. Você chegou a conhecer ele?

EM – Não, a gente ia fazer aqui no ano passado, mas acabou não rolando.
IP – Ele tem uma história de vida muito louca. Era da máfia italiana nos anos 60, ficou seis anos preso e ali que ele começou a tocar gaita. Depois que saiu da cadeia decidiu ser músico. Cara, ele tem umas histórias. Ele ainda vive nos anos 50. Ele tem arma em cima da geladeira, a casa dele é cheia de facas. Muito engraçado.

EM – Como vai ser esse disco que vocês estão gravando agora?
IP – Estamos fazendo um lance mais funqueado, pegando todas as nossas influências de coisas dançantes e estamos gravando com o quarteto em minha casa. Cada vez que o Lynwood vem traz um monte de muamba pra mim, Pro Tools, um monte de microfones. Estou com um estúdio profissional em casa. Então a gente pensou, acabamos de gravar um monte de discos de jazz e suingue, vamos gravar um disco misturando isso com um monte de coisa dançante.

EM – Nos últimos cinco anos saíram alguns dos melhores discos de blues no Brasil e vocês estiveram envolvidos. Tanto os antigos da Prado Blues Band, quanto do teu trabalho solo. Os fãs da banda não vão estranhar?
IP – Tem muita coisa de tradicional dentro do que a gente está fazendo, muito R&B e soul que os caras faziam nos anos 60, sonoridade vintage, não é coisa moderna. Estamos querendo mudar um pouco.

EM - Quando sai?
IP – Agora no primeiro semestre. Aliás, estamos lançando três discos esse ano. Vamos lançar uma coletânea só de coisas instrumentais, de suingue e, mais três músicas inéditas. Vai ter coisas do disco do Lynwood, do meu disco Upside Down, duas ou três que fizemos com a Prado, além de inéditas. E ainda um tem o que fizemos com o Flávio (Guimarães). Esse ano vai ser do caralho, temos doze shows agendados na Europa.

EM – Doze shows?! Como foi isso?
IP – Através do selo. A gente está com uma agência que vende shows na Europa. As outras vezes fui por conta própria, armando meus próprios shows, uma trabalheira danada e um desgaste absurdo.

EM – Pra você ver como produtor sofre (risos).
IP – Puta que pariu, imagina, em um lugar que você não conhece. Por outro lado a internet ajuda. Vê as ruas, metrô. E nos Estados Unidos vamos tocar no Doheni, que é o maior festival da costa oeste e no no Cajun Creole Music Festival, que é outro festival da gravadora Delta Blues, no Simi Valey, além de alguns bares. Vai ser no final de maio.

EM – Esses shows já serão pra divulgar o CD Igor Prado e Lynwood Slim?
IP – O disco sai pela Delta esse ano com outra capa, com mais três faixas. E vamos divulgar lá fora. Esse que você tem é uma coisa independente, nossa.

EM – E Como começou essa parceria com o James Wheeler?
IP – Foi em 2006. Fizemos um show com ele em São Paulo. Eu o conhecia acompanhando alguns caras tocando blues tradicional. Ai ele começou a tocar umas coisas de jazz, cantando pra caralho. Nossa! Comecei a me ligar como tem gênio desconhecido no blues. “Underrated”, como eles falam lá.


EM – Yuri, desses gringos com os quais você já tocou, qual foi o show inesquecível?
Yuri Prado – Todos os que vêm a gente fica pirado (risos). Só de estar em contato com os caras que são da verdade, do negócio do blues, pelo lado de dentro. Cada um traz uma coisa nova pra gente. Mas tem um monte de shows, a primeira vez com o James Wheeler foi uma surpresa, porque a gente não conhecia.

EM – E na platéia?
Yuri – Pra mim sempre é inesquecível o do B.B. King. A primeira vez que nós tocamos com o James coincidiu com a turnê do B.B. no Brasil. A hora que ele começou a cantar eu pensei: “Pô, o B.B. King está lá cantando e olha o cara que está aqui com a gente”. O mesmo talento, a mesma verdade.

EM – Qual baterista de blues fez a tua cabeça?
Yuri – Todos (risos).

EM – Muita gente fala com maldade que a cozinha de blues brasileira nunca vai ser igual a dos gringos. O que você tem a dizer sobre isso?
Yuri – Pergunta para os gringos que a gente tocou o que eles acham. Lá os caras tocam entre eles todos os dias, a gente não tem isso.

IP – É, em um bar estava o Willie Dixon, no outro lado da rua estava o Little Walter, do outro lado estava o Otis Rush. Não tem nem comparação.
Yuri – Uma coisa é você estudar e tentar chegar perto dos caras, outra é você nascer lá, crescendo no meio. Nunca a cozinha, o vocal vão ser cem por cento, porque não temos o mesmo espírito, a mesma sintonia, mas chegar perto é uma coisa que a gente busca. E talvez nem todo mundo busca isso, aí a diferença. Os caras aprendem os primeiros solos e acordes e param. Os nossos CDs são sempre diferentes um do outros por causa disso. A gente não se rotula, a gente toca jump, jazz, Chicago, tradicional R&B.

IP – Hoje a gente tem uma coisa que os caras não tinham nos anos 60 e 70, que é a internet. Se você quer ver o Little Walter, vai no computador. Se quer o disco tal, vai lá e baixa. Quero ver o show do B.B. King semana passada nos Estados Unidos, a galera filmou. Hoje a gente pega tudo.

Marcos Rodrigues – Os verdadeiros ícones do blues, os fundadores estão com idade muito avançada ou morrendo e isso é inevitável. Como vocês encaram a renovação do blues com vocês inseridos nessa cena?
IP – Temos essa consciência e é isso que motiva a gente nessa pesquisa. A história é igual a do choro, a galera que construiu está desaparecida. Do samba também, muitos já estão com idade muito avançada.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Sesc Santos recebe o piano de Ary Holland e a voz de Maria Diniz



Neste sábado, dia 20, Santos recebe dois nomes que representam o melhor da música brasileira: o pianista Ary Holland e a cantora Maria Diniz. O show acontece no teatro do Sesc, a partir das 21 horas.
O repertório inclui clássicos da MPB e Standards do jazz norte-americano, entre eles, Samba de Verão, Insensatez, Incompatibilidade de Gênios, Wave, Azul da Cor do Mar, Fotografia, Garota de Ipanema, Trem das Onze, Só Danço Samba e muitas mais. Entre as internacionais: As Time Goes By, Fly Me To The Moon, Autumn Leaves, All the Things You Are, Stella by Starlight, All of Me, Unforgetable.
O piano – Como pianista, Ary Holland tem algumas características diferenciadoras: lidera combos ou acompanha artistas, possui repertório popular vasto, sobretudo com os standards do jazz, da bossa nova e da MPB. Além de tudo isso, é um improvisador talentosíssimo, com idéias estéticas sempre inovadas e sempre com muito assunto.
Experiente também como arranjador, também atuou como produtor musical tendo em meu currículo diversos trabalhos com conceituados artistas da música popular. Acompanhou a cantora Claudia (do musical Evita) em excursões por diversos países da Europa e África. Atuou também com Fafá de Belém, Jane Duboc, Christian e Ralf, Maurício Mattar, Rosa Maria, Rita Lee, Fat Family, entre outros. Enfim, o Ary – pelo que é e pelo que toca – é um daqueles caras que agradam toda a audiência.
Na música instrumental, entre outros projetos, participou das apresentações do baixista Celso Pixinga, no Blue Note, em New York, e com o trombonista Raul de Souza.
A voz – A cantora Maria Diniz já trabalhou com Rita Lee, Ivan Lins, Teresa Salgueiro, Guilherme Arantes e muitos outros, além de gravações de jingles, dvds e cds de artistas nacionais e internacionais.
No show em Santos traz, ao lado de Ary Holland, com quem já trabalhou em peças publicitárias, e em importantes casas de shows, um repertório selecionado do melhor do jazz, bossa nova e MPB. Um show refinado e ao mesmo tempo descontraído.

Serviço:
Ary Holland e Maria Diniz
Data: 20/03/2010
Horário: 21 horas
Local: Teatro do Sesc
Endereço: rua Conselheiro Ribas, 136
Informações: (13) 3278-9800
Preços: R$ 3,00, R$ 6,00 e R$ 12,00 (na bilheteria do teatro)
Indicação: 14 anos

quarta-feira, 10 de março de 2010

Espetáculo inspirado em obra de Chico Buarque chega a Santos


Após duas temporadas cativando o público carioca, o Sesc Santos recebe o espetáculo Meu Caro Amigo, no sábado, dia 13, às 21 horas. Com Kelzy Ecard no papel principal, direção de Joana Lebreiro e texto de Felipe Barenco 


 
A trilha sonora é o grande motivador desse espetáculo. A idéia surgiu da paixão de seus criadores pela obra de Chico Buarque e sua onipresença nas vidas dos brasileiros, ora como trilha sonora de nossas histórias pessoais, ora como retrato da história recente do país.
Meu Caro Amigo não é um espetáculo biográfico sobre o compositor, mas uma ficção que busca, através da história da fã Norma, estabelecer um diálogo entre memória individual e memória nacional. Entendendo a música como poderoso veículo de compartilhamento de memória, o objetivo é despertar no espectador a lembrança de sua própria história ao mergulhar na saga desta mulher embalada pelas canções de Chico.
O espetáculo conta a história de Norma, fã ardorosa de Chico Buarque, 50 anos, professora de História do Brasil, que viveu a segunda metade do século 20 de forma intensa e apaixonada.
Embalada e inspirada pelas canções de Chico, Norma resolve declarar seu amor publicamente, compartilhando suas memórias com o público, navegando entre a sua história pessoal e a história recente do país.
Trilha sonora - A música de Chico é personagem fundamental, que interage com a vida particular da personagem em meio a acontecimentos marcantes dos últimos 50 anos. As músicas do espetáculo serão apresentadas em execução ao vivo com arranjos originais e reprodução de gravações em versões consagradas.
Ao contar a história desta fã em particular, a peça pretende abranger as relações entre qualquer fã e seu ídolo: relações que, mesmo misturadas a idealizações e fantasias, acabam por traduzir um afeto genuíno e inusitado, pela capacidade de se encantar tão fortemente com alguém que só se vê de longe e só se conhece pela sua arte. O verdadeiro fã, ainda que muito discreto, parece acreditar que sua vida se torna mais especial com a existência desse sentimento.
Kelzy Ecard - Recente vencedora do Prêmio da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, por seu trabalho em “Rasga Coração”, realiza a turnê do espetáculo solo musical “Meu Caro Amigo”, inspirado na obra de Chico Buarque de Hollanda. O texto é de Felipe Barenco; a direção de Joana Lebreiro (diretora dos bem sucedidos musicais sobre Antonio Maria, Mario Lago e Ary Barroso); e a direção musical de Marcelo Alonso Neves (Renato Russo).
Oficina - Além da apresentação, a dupla de criação do espetáculo, formada pela diretora Joana Lebreiro e a atriz Kelzy Ecard, vai ministrar a oficina Memória e música: estímulos à criação do ator, oferecida gratuitamente nos dias 13 e 14/03, a atores, estudantes de teatro e interessados. As inscrições poderão ser realizadas até o dia 10/03 no Teatro do Sesc ou através do site www.meucaroamigo.com.br
O objetivo desta oficina é discutir os estímulos possíveis utilizados por um ator durante o processo de trabalho para a criação de um papel – no caso, o uso da música e memória pessoal como ferramentas criativas.
Joana Lebreiro – é diretora formada pelo Curso de Direção Teatral da UFRJ, onde lecionou por dois anos como professora substituta. É mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Nos últimos dois anos, dirigiu os espetáculos musicais do Núcleo Informal de Teatro, “Aquarelas de Ary” e "Ai, que saudades do Lago!", completando a trilogia iniciada em 2004 com “Antônio Maria – A Noite é uma criança!” todos de autoria de Marcos França. Em 2007 dirigiu o espetáculo “Avós, Mulheres e Couves Portuguesas”, em cartaz no teatro Clara Nunes. Foi diretora assistente da Cia Teatro do Pequeno Gesto por quatro anos, cujos últimos espetáculos foram “Medéia”, em cartaz durante o ano de 2003 no Teatro Planetário e “Navalha na Carne”, na Casa Rosa, em Laranjeiras, Rio de Janeiro. Em cinema, trabalhou como diretora de atores e assistente de direção dos curta-metragens “A Demolição”; “Ausência” e “O Livro”, todos com direção de Aleques Eiterer, exibidos em mostras e festivais nacionais e internacionais.

Realização: Sesc Santos
Promoção: Litoral FM
Apoio: Clube Assinante A Tribuna
Produção: Ativa Produções

Serviço:
Meu Caro Amigo
Data: 13/03/2010
Horário: 21 horas
Local: Teatro do Sesc
Endereço: rua Conselheiro Ribas, 136
Informações: (13) 3278-9800  
Preços: R$ 2,50, R$ 5,00 e R$ 10,00 (na bilheteria do teatro)
Indicação: 12 anos
OBS: Cliente Clube assinante A Tribuna ganha 50% de desconto

Oficina: Memória e música: estímulos à criação do ator
Datas: 13 e 14/03/2010
Horário: das 10 às 13 horas
Indicação: Livre
Preço: grátis

quarta-feira, 3 de março de 2010

Luiz Melodia reencontra a periferia


Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: divulgação

Mais uma entrevista realizada e não publicada. Pelo menos até agora. O bom é que a internet resgata esses momentos junto ao artista. E sem preocupação com o espaço.
Dessa vez a conversa foi com Luiz Melodia, em 16 de maio de 2009, minutos antes do “negro gato” pisar no palco do Sesc Santos, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Heliópolis, dentro do projeto Som em Sintonia.
Três dias depois tive a oportunidade de assistir ao mesmo show, ao ar livre, no Parque Tupiniquins, centro de Bertioga, clima ótimo e gente educada.
No repertório, os clássicos de Melodia: Pérola Negra, Magrelinha, Estácio Holly Estácio, Juventude Transviada, Congênito e outras. Também Codinome Beija- Flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias) e Diz Que Fui Por Ai (Zé Keti e Hortêncio Rocha). A Orquestra abriu com Ruslan e Ludmila (Mikhail Glinka), O Morcego e Marcha Radestzky (Johann Strauss). A regência foi de Edilson Ventureli.

Eugênio Martins Júnior: Como você se engajou nesse projeto?
Luiz Melodia: Ligaram para o escritório da minha empresária no Rio, que é a minha mulher, falando a respeito disso e eu fiquei interessado, achei bacana, até pelo motivo, por ser uma garotada de periferia, um bairro humilde como Heliópolis, ter tudo a ver assim comigo. Também sou cria de um lugar simples e tal, então toda essa situação me comoveu bastante e também o fato de ser uma experiência legal, de você poder tocar com uma garotada que está começando e que pouco teve oportunidade na vida, está tendo agora, musicalmente falando. Falei: “Ahh, vamos fazer, sim”.
Eu vejo a vontade dos meninos, talvez até pelo fato de ser um artista conhecido e tal. Acho que dá mais um ânimo, observar durante o show aquela vontade, aquele brilho no rosto de cada um, isso é muito bacana.

EM: E como foi a escolha do repertório?
LM: Não houve dificuldade, até porque o maestro deu umas dicas, mas ele perguntou se eu não cantaria umas músicas como Magrelinha, uns clássicos, e eu achei maravilha, ainda mais com orquestra. Depois fui selecionando em casa com Jane, minha mulher, o Renato Piau, um músico que trabalha comigo também deu algumas idéias. Fomos juntando até que chegou a 14 músicas. No repertório tem Farrapo Humano, Juventude Transviada, Perola Negra e outros clássicos.

EM: Em todos esses anos de carreira, os quais você já gravou Zé Kéti, Cartola, Cazuza, o que falta fazer? O que acontece na cabeça do artista quando chega nessa época da carreira?
LM: É muito difícil de falar isso pra você, até porque sou muito inquieto, então não posso dizer o que vai acontecer daqui em diante, mas novidades sempre irão acontecer.

EM: Novidade sempre há de pintar por aí?
LM: (risos) É, há de ver que agora o Caetano está tocando com a juventude nesse novo disco. Então, quanto mais você revirar essa vida de cabeça pra baixo, mais encontra coisa. Em breve, acredito que vá acontecer algo, que eu não sei dizer o que é, mas vai ser importante e interessante (risos).

EM: Você é do morro, sempre misturou samba com MPB, e hoje existe uma juventude que mistura diversos elementos ao samba. Desde aqueles que colocaram baixo, bateria, teclado, até os que misturam rap, como o Marcelo D2. Na sua visão qual é o futuro do samba?
LM: Ahh rapaz, se eu soubesse do futuro! Têm os encontros musicais que, sendo bem feitos, geram resultados legais. Até porque música, creio eu, é cabível dentro de um ritmo junto com outro. E não é se aproveitar de momentos, como estamos vendo agora, essa fusão que está acontecendo em quantidade, pensando comercialmente, acho que aí não leva a lugar nenhum. Mas você fazer experiências. Acho que sempre vai ter uma juventude com esse intuito de recriar e de refazer, né? Mas eu acho que o povo brasileiro sempre foi capaz disso, até pela nossa miscigenação.

EM: Uma vez perguntei ao guitarrista de blues Nuno Mindelis o que ele achava das misturas que alguns músicos brasileiros fazem do blues com música nordestina. Ele respondeu que pra quebrar as regras os caras têm de conhecer as regras. Achei uma colocação bem interessante, que pode se aplicar também ao samba, não é verdade?
LM: Logicamente que a raiz do samba é o tambor, mas a gente não pode esquecer que há uma juventude querendo fazer coisas. Jamais vou querer intimidá-los a não fazer, prefiro ver o resultado. Acredito que mesmo que você use esse ou aquele instrumento, tem de ser bem feito, bem relacionado. Pra ter um resultado positivo.

EM: Qual a tua lembrança mais remota de estar envolvido com o samba?
LM: Lembro que, muito jovem, minha mãe levava a gente ao Jacarezinho, que é o bairro onde minha avó morava lá no Rio de Janeiro. Todos os finais de semana. Lembro que aos 12 anos minha mãe nos deixava, ai à noite eu ia pra escola de samba chamada Não tem Mosquito, não tenho certeza se era escola ou bloco, então ali eu já tive o primeiro contato com os sambas, que naquela época eram geniais. Não estou dizendo que não tem agora, mas bem poucos diante do que eu ouvia. Sambas feitos com o coração, bem pensados, sem intuito comercial. Essa era a minha informação.

EM: E os outros estilos?
LM: O rádio teve a maior importância na minha vida, porque eu ouvia de Jackson do Pandeiro a Luiz Gonzaga. Os amigos até tiravam onda com a minha cara: “Pô, ouvindo esses paraíbas!!”. Era um preconceito horroroso, mas eu não me importava por que o lance musical ultrapassava qualquer barreira. Ouvia iê iê iê, os Beatles, e era uma salada musical, né? Jamelão, Ângela Maria, Zé Kéti, Emilinha Borba, que na época de carnaval só tocava ela. Tinha também a Dalva de Oliveira, Blackout, que eram caras que mandavam nos carnavais antigos. Toda essa informação eu tive.

EM: E atualmente, o que você escuta?
LM: Continuo nas antigas, por exemplo, Jamelão, Elza Soares. Mas fora isso, gosto muito da Adriana Calcanhoto, Céu, Roberta Sá, não que eu tenha o CD, mas tenho ouvido, na internet. (risos). De vez em quando eu vou lá que é bem mais fácil do que sair e pegar um CD. (risos)

EM: Eu ainda tenho a minha coleção de LPs que não me desfaço e minha pick up que é maravilhosa.
LM: Eu também tenho a minha pick up e não me desfaço dos discos. Na verdade é muita preguiça. Mas você tem de saber usar a internet. Até porque está aí.

EM: Não prejudica a venda de discos do artista?
LM: Não, acho que é só saber se relacionar com a novidade. A gente tem de dar um passo adiante, porque as coisas estão presentes. Até alguns anos atrás era radiola, então você tinha de pegar seu disco e colocar na radiola, ou vitrola que era 78 rotações. As coisas vão mudando, veio o gravador de K-7.

EM: Mesmo assim o cara tinha de comprar a obra do artista, hoje não.
LM: Mas tem de conviver com isso, como é que vai parar? Já existia o pirata. Tem de achar um jeito que possa todo mundo ganhar com isso. Pelo menos você vê que todo mundo está na mídia. Desde o nordestino que alguns anos atrás era barrado, era excluído. Na verdade o forró sempre vendeu disco absurdamente. Agora os artistas que viviam de venda têm de sair pra trabalhar e fazer seus shows. Agora é a hora da verdade. Se você realmente é o cara, você vai ter o resultado nos shows. Eu sempre acreditei em shows. Sempre acreditei no meu trabalho, nunca baixei a cabeça pra gravadora, deixei que ela me influenciasse a ponto de algum “fodão” daqueles dissesse; “Olha, agora tu vai fazer um disco assim. Vai gravar isso”. Sempre tive essa opinião. É assim que você faz com que respeitem seu trabalho. Nunca tive mega produções ou mídia, mas estou a muito tempo na música e posso dizer a você que estou bem. Bem de cabeça.

EM: É o retrato do artista enquanto coisa. É tudo isso.
LM: (risos) Pois é, resume-se nisso.

EM: Falando em disco, o que vem por aí?
LM: Por enquanto tenho viajado só por conta do Estação Melodia, que é o trabalho mais recente. Uma homenagem que fiz aos compositores que marcaram muito a minha vida, até porque ouvia meu pai cantarolando. Jamelão e outros que ele me apresentou. São músicas que eu cantarolava e nunca tive oportunidade de gravar. Esse disco está rendendo muitos frutos, acabei de fazer um show no Teatro Tom Jobim. Por enquanto estou pensando só nisso.

EM: Qual o principal cuidado quando você grava um clássico desses?
LM: Procuro cantar à minha maneira, mas com o maior respeito logicamente. Mas, o Luiz Melodia. Inclusive há músicas que a gente acaba personalizando devido à maneira como interpreto. Procuro interpretar de uma maneira que, quando ouçam, saibam quem é que está cantando. Essa é minha grande satisfação.

EM: Qual é a tua participação no documentário sobre a sua vida? Aparece você voltando aos lugares da tua infância?
LM: Exatamente. Tem também uma parte de ficção que sou eu quando garoto. Misturado com shows, depoimentos de artistas, personalidades da música, amigos íntimos. Registramos algumas coisas no São Carlos, Estácio, onde eu nasci. Ainda está rolando, está faltando grana, não é fácil. Cinema já é outra coisa. Está andando, o que pega é a grana que ainda está pouca (risos). Mas aos poucos a gente chega lá.