segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nem só do rap vive Los Angeles. Kirk Fletcher é uma das revelações da cena blues local



Assistir Albert Collins, Staple Singers e Bobby Bland em um mesmo festival deve provocar uma revolução na cabeça de qualquer um. Foi o que aconteceu com Kirk Fletcher quando tinha doze anos e dava seus primeiros passos no blues, em 1979.
Angeleno por natureza (é feio eu sei, mas é o nome que se dá para quem nasce em Los Angeles), com certeza foi tocado pelo West Coast Blues, mas não foi esse o caminho seguido por Fletcher. Foram os ventos do meio oeste que chamaram sua atenção e o “Chicago sound” virou marca de gado em sua música.
Lá, a tradição manda que os novatos devem tocar com os cobras até que mudem a pele. Kirk Fletcher correu seu trecho nas mãos de Charlie Musselwhite, Janiva Magness e mais recentemente com o Fabulous Thunderbirds. Também tocou informalmente com James Cotton, Pinetop Perkins, Hubert Sumlin, Robben Ford, Elvin Bishop, Ronnie Earl e outros.
Conheceu Lynwood Slim e Al Blake que se tornaram seus mentores. Depois desse período, juntou-se aos Thunderbirds a convite de Kim Wilson, ganhando musculatura até andar com as próprias pernas. 
Atualmente Fletcher vem construindo sua reputação no blues excursionado pelos Estados Unidos e fora de seu país. O artista ESTÁ No Brasil para uma série de shows, um deles será nesta quarta-feira, dia 28, no Tom Jazz, em São Paulo. Kirk será acompanhado pela Igor Prado Band.

Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

Eugênio Martins Júnior - Quando e como foi seu primeiro contato com o blues?
Kirk Fletcher - Meu primeiro contato com o blues foi por causa dos meus pais e irmãos mais velhos que tocavam os discos de B.B. King.

EM - Você tocou com os grandes James Cotton, Pine Top Perkins e Hubert Sumlin. Ninguém passa por isso sem sofrer influências desses caras. Fale sobre isso.
KF - A primeira vez que toquei com os caras foi na casa noturna Antone’s, em Austin, Texas. Kim Wilson e Clifford Antone foram os responsáveis por isso ter acontecido. Também fiz outros shows com eles e sempre foi muito divertido. Aprendi a ser eu mesmo e fazer meu próprio som.
  
EM - Nos anos 80 e 90 Los Angeles era dominada, e ainda é, por artistas de rap, como era a cena blueseira nos anos 80?
KF - Eu era muito jovem para saber como era a real cena de blues nos anos 80, mas havia uma cena. Caras como a Hollywood Fat's Band, Mighty Flyers, James Harman eram lendas na cidade e nos arredores.  

EM - Consta que Al Blake foi seu mentor no começo de carreira. Como foi esse encontro e esse aprendizado?
KF - Al foi muito importante em meu desenvolvimento e aprofundamento no blues, de onde veio o blues e essas coisas. Ele possui um conhecimento impressionante.


EM - Você também tocou com o Lynwood Slim e ele é um cara muito engraçado, com todas aquelas histórias sobre a máfia e tal. Fale um pouco sobre Lynwood. Parece que ele está muito doente.
KF - Lynwood me deu a chance de tocar e aprender como dar suporte à harmônica e me ensinou muito sobre a arte do suingue. Amo Slim e saber que ele não está bem de saúde me entristece. Mantenham suas preces nele.  

EM - Fale sobre seu recente trabalho, o CD My Turn. Tem vários convidados.
KF - My Turn é o CD que eu quis fazer depois de sair do Fabulous Thunderbirds. Quis fazer um disco com as coisas que amo com as pessoas que amo. O próximo disco será mais focado em canções de blues cantadas. 

EM - Nesse CD você gravou temas completamente diferentes como Found Love de Jimmy Reed e Let Me Have it All, de Sly Stone. Qual é o cuidado que você tem ao pegar temas de outras pessoas e fazer sua versão? 
KF - Simplesmente tentei achar canções de outras pessoas uma mensagem que eu pudesse contar e que fosse funky. E então tentei torcer um pouco.  

EM - Como surgiu a parceria com o Michael Landau e como foi trabalhar com ele?
KF - Sou seu fã desde criança. Nos tornamos amigos em 2004, tocamos juntos e somos muito chegados. Então, trabalhar com ele foi realmente muito fácil.  

EM - Você conhece a cena brasileira de blues?
KF - Não muito, conheço o grande Igor Prado que é um dos melhores cantores/guitarristas e alguns outros.

EM - Essa é para os guitarristas: qual o seu equipamento de palco?
KF - Uso essencialmente uma Fender super reverb, um Morgam AC 20, um amplificador Fender Bogner Prototype. Também uso um novo amplificador Redplate. Por anos eu uso as guitarras Telecaster e Stratocaster da Suhr, com captadores Grinning Dogs e peças vintage Raw. Sempre uso os pedais Love COT 50, The Zendrive, Xotic RC booster, Madprofesser, delay Deep Blue, tremolo e mais algumas coisas. Tudo isso ligado a uma pedalboard da Vertex. 


Kirk Fletcher’s interview 

EM - When and how was your fist contact with blues?  
KF - My first contact with the blues was through hearing about them from my parents and older brothers. And my brother playing B.B King records.

EM - You have played with the great James Cotton, Pine Top Perkins and Hubert Sumlin. Nobody goes through this without been influenced by these guys. Tell us about that. 
KF - I first played with all those guys at Antones night club in Austin Texas. Kim Wilson and Clifford Antone where the ones responsible for that happening. I also done other shows with those guys as well. It was always super fun. and I learned to be myself and do my own thing.

EM - In the 80`s and 90`s Los Angeles was dominated, it still is, by Rap artists, how was the Blues scene in LA in the 80`s?
KF - I was a little too young to really know about the scene in the 80's but there was a scene! Guys like the Hollywood Fat's band, Mighty Flyers, James Harman, Legends coming to town and so forth. 

EM - I heard that Al Blake was your mentor in the beginning of your carrer. How was this meeting and the learning? 
KF - Al was very important in my developing a deeper understanding of Blues and where it came from. He is awesome and I owe him alot!!

EM - You have also played with Lynwood Slim and he is a very funny guy, with all that mafia stories. Tell us a little about Lynwood Slim. It seems that he is health is not well. 
KF - Lynwood gave me a chance to play and learn how to back a Harmonica, and he taught me alot about the art of swing! I love Slim
and it sadden me he is not in the best of health. Keep him in your prayers!

EM - Tell us about your recent work, My Turn. There`s a lot of guests. 
KF - "My Turn" is a cd I wanted to make after leaving the Fabulous Thunderbirds. I just wanted to make a record of all the things I loved with the people I love. The next record will be more focused on songs and singing and the blues.

EM - On this CD you have recorded completely diferent songs like Found Love from Jimmy Reed and Let Me Have It All from Sly Stone. How carefull you are when you perform your version of other people songs. 
KF - I just try and find in other people songs a message I can relate to and is it funky. And then I try and twist it up a bit.

EM - How did began your partnership with Michael Landau and how was working with him? 
KF - I have been a fan of Michael's playing since I was a kid. We became friends in about 2004. we hit it off right away and became really close friends. So working with him was really very easy! 

EM - Do you know the Brazilian scene of blues? 
KF - Not that much, I know of the great Igor Prado who is one of the best singer/guitarist anywhere! and a few others.

EM - This one if for guitarplayers. Whats your stage gear?
KF - I mainly use a Fender super reverb, a morgan ac20, a Bogner Prototype fender style amp. Also waiting on a new redplate amp! Guitars I use and have been for years are Suhr guitars a tele style with a P90 in the neck position. and a strat style. Also Fender strats
and teles with Grinning Dog pickups. As well as Raw vintage parts. Pedal wise I use Love pedal COT 50 all the time, The Zendrive, Xotic RC booster, Madprofesser pedals Deep blue delay and tremolo. and many more. All wired by Vertex pedalboard company.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Compor, arranjar, viajar, tocar: as contínuas atividades de André Mehmari


Parecia uma sociedade secreta. Não mais do que cem pessoas assistiram no Teatro Coliseu, dentro da Série Solistas, com regência do maestro Luís Gustavo Petri, o concerto do pianista André Mehmari com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos.
Ficou uma dúvida na cabeça, os veículos de comunicação da Baixada Santista ignoraram solenemente o concerto ou faltou mais empenho na divulgação do evento por parte da realização?
O fato é que as pessoas que assistiram ao concerto na quarta-feira, dia 14 de setembro, lavaram a alma com tão boa música. Oportunidade rara nesses dias regidos por Luans e Paulas.
O programa incluiu Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque), Choro da Contínua Amizade (André Mehmari) e Odeon de Ernesto Nazareth) na abertura. A Rosa, de Pixinguinha, ganhou um belo arranjo, e a magnífica Lachrimae, do próprio Mehmari, fechou a primeira parte do concerto baseada em temas populares.
A segunda foi baseada em temas eruditos que fogem do lugar comum: Ballo ”Suíte para Orquestra de Cordas” a partir de uma dança do Ballo delle Ingrate, de Monteverdi. E também Uma Valsa em Forma de Árvore, de André Mehmari, com clarinete solo de Mário Cesar Borges Marques, entre outras. No final, uma brincadeira, Mehmari e Petri dividiram um piano em um concerto para quatro mãos de Mozart.
Mehmari vem se consolidando não só como um dos mais importantes instrumentistas do país, mas também como um dos maiores compositores. Daqueles que transitam nos três mundos: erudito, popular e o híbrido entre ambos, o bom e velho jazz. Não liga muito para rótulos, aliás, como nenhum músico, quem liga pra isso é acadêmico e jornalista.
Mehmari compõe em ritmo alucinante e grava na velocidade do trem bala. Já fazia isso antes da viagem ao Japão, abordada na entrevista abaixo. Ele também fala sobre sua amizade/parceria com Hamilton de Holanda, uma das mais prolíficas parcerias da atualidade. Já rendeu dois discos e inúmeras apresentações Brasil a dentro.

Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Dayse Marchiori

Eugênio Martins Júnior - Em que pé anda a musica instrumental brasileira? Ela é mais reconhecida lá fora do que aqui, você não acha?
André Mehmari –
Acho que são reconhecimentos diferentes. O Tom Jobim brincava que a grande saída para o músico brasileiro era o aeroporto. Eu não iria tão longe, assim. Tive muitas alegrias como músico na minha terra, tocando em diferentes lugares, em grandes centros como São Paulo, Rio. E lugares menores, interior de São Paulo, onde você espera que as pessoas não irão conhecer o seu trabalho. O brasileiro tem um pouco essa cultura de valorizar o seu músico quando ele faz sucesso fora. É um pouco da nossa baixa auto estima como brasileiro. A música brasileira é muito valorizada e respeitada no mundo todo. Estive no Japão esse ano fazendo uma turnê de piano solo e conheci muita gente que conhece muito. Tem uma loja em Nagoia só de música brasileira. Eu não conheço nenhuma loja aqui no Brasil que tenha todos os meus CD, e você vai em Nagoia e tem. É um paradoxo, a gente adora esse nosso país, mas vê também que muitas vezes precisa ter essa vida ativa fora do país pra manter a música rodando. Agora eu acho também que as novas tecnologias de difusão musical na internet estão democratizando muito a minha música e de tantos outros. Então, você tem a agradável surpresa de tocar em uma cidade escondida e descobrir que você tem lá um fã clube.  

EM - Logo após o terremoto você embarcou para uma série de apresentações no Japão. Lembro que você disse que estava apreensivo, mas que precisava ir e fazer os shows para os japoneses. Como foram essas apresentações?
AM -
Foi uma experiência emocionante, até pelo que você falou sobre a tensão que envolveu os últimos meses de preparação. É uma turnê que estava planejada há um ano. Envolvia meu contrato com a Yamaha e envolvia escolher um piano lá na fábrica, envolvia concertos em Tóquio, em Nagoia, em Yokoyama e envolvia o esforço de uma japonesa que é uma verdadeira heroína que é a Michico Mikata, que é uma super técnica de piano, ela não é produtora, e que é muito fã do meu trabalho e resolveu me levar pra lá. Fazendo esforços e fazendo a produção acontecer. Foi muito tenso aquele mês que antecedeu a viagem, por que a cada minuto, você sabe, tinha uma informação nova sobre a situação lá em Fukushima, sobre a contaminação dos alimentos. Isso pra mim foi muito triste, um momento de muita ansiedade. A verdade é que o povo japonês é maravilhoso. É um povo que sempre me impressionou, estive lá em 2005 com a Joyce o Dori Caymmi e eu confio muito nesse povo. Eles nunca seriam capaz d me colocar em uma situação de risco. E eles me garantiram que isso não ia acontecer. Eu confiei e, de fato, acho que eles estavam precisando dessa confiança e desse carinho que eu levei pra eles. E essa música que eles amam, né? Onde eu tocava via na platéia gente rindo, gente chorando. Eles adoram de verdade essa música. Foi impressionante. Os lugares onde toquei, os pianos maravilhosos que toquei, as pessoas que eu conheci. Eu acertei na mosca indo. Se não tivesse ido teria enorme prejuízo de várias naturezas, até por que fui lá na Yamaha e escolhi meu piano. Fui super bem recebido, tinha a bandeira do Brasil lá na fábrica, uma coisa muito bonita.

EM – Você chegou perto de alguma região atingida pelo terremoto ou pelos tsunamis?
AM –
Não, fiquei em Tóquio. Foi o mais próximo que estive do problema. O tsunami foi no nordeste do país e o problema com a usina radioativa é ao norte de Tóquio. Eu toquei em Tóquio, Nagóia e Yokayama que é dentro da ilha, longe do litoral. Cheguei lá um pouco preocupado com a alimentação, mas percebi que podia relaxar, porque todos estavam me colocando em uma situação de muita segurança. O tratamento foi formidável, o único pedido que eu havia feito era de água mineral européia e a produtora ficava o tempo inteiro me oferecendo a água mineral, com todo cuidado. As pessoas lá têm um senso de respeito, de colaboração que é uma aula para o mundo. Agora, por exemplo, os mais idosos estão se oferecendo para trabalhar em Fukushima pra deixar os jovens fora do perigo. Recebi dez vezes mais em troca o meu voto de confiança e carinho de ir lá tocar. Colhi bons frutos, saiu um disco meu lá, por um selo japonês, então também iniciei um trabalho no Japão à longo prazo, que deve ter uma continuidade.  

EM - Acompanho a tua carreira a do Hamilton e tenho visto que vocês não têm folga. Tocando direto no Brasil, mas também na Europa, Japão, Estados Unidos, às vezes por temporadas. Hoje você toca com uma orquestra, amanhã já faz duo. Não é muita coisa. Às vezes a cabeça não dá um nó e pede pra diminuir mo ritmo?
AM -
Você sabe que eu gosto dessa diversidade de trabalho? Então, você falou no duo com o Hamilton, mas tem o trio, tem o duo com a Mônica Salmaso, com a Ná Ozetti, com o Gabriele Mirabassi, com quem eu toquei agora na Itália, tem o trabalho de arranjador constante. Recebo encomendas de arranjo para orquestras, composição. Acabei de receber uma encomenda grande para o Sergipe, outra de Curitiba, outra do Mato Grosso, outra de Portugal. Escrevo para a Sinfônica de Heliópolis tocar na Alemanha. Toco piano solo que também não é brincadeira, tocar sozinho parece fácil, mas não é. Olha, acho que uma coisa alimenta a outra, né? São experiências diferentes, com preocupações diferentes, pontos de tensão diferentes, mas eu sempre fui um músico eclético e os meus ídolos foram músicos ecléticos também. São músicos que botam a mão na massa em diversas situações.

EM – Na música o brasileiro também tem de se virar?
AM –
O brasileiro tem de se virar. Se eu tiver um único trabalho e achar que ele vai me dar tudo é ingenuidade. Na verdade, há a preocupação artística, de não ficar fazendo a mesma coisa trinta vezes por mês que a gente também não agüenta. A versatilidade do brasileiro tem uma natureza de ordem prática também. Temos de estar abertos a novas oportunidades de trabalho. É uma cultura de resistência essa coisa que a gente faz com o jazz, o erudito. De fato, se você for olhar, há uma coisa de guerrilha, porque o suporte que nós temos não chega perto, não faz jus a essa grande tradição de música brasileira, infelizmente.

EM - Gostaria que você falasse sobre a amizade com o Hamilton de Holanda. Quer dizer, é uma amizade que se transformou em parceria musical que rende muitos frutos.
AM –
Os trabalhos com ele têm sido os melhores recebidos. A gente tocou em oito países da Europa, tem conseguido tocar bastante no Brasil. Acabamos de vir de Olinda, foi sucesso o show lá. O Philip Glass estava na platéia, o Gismonti. Esse duo é muito feliz, transcende os instrumentos, piano e bandolim. Na verdade é uma combinação de nossas músicas. E nós temos uma postura que eu definiria como uma humildade no fazer musical. Uma disponibilidade de ouvir o que o outro tem a dizer e complementar, às vezes a gente toca mais com o ouvido do que com os dedos. Em nenhum momento existe uma vontade de um se impor ao outro. Isso a pessoa escuta, né? Por isso a gente é muito bem recebido em qualquer lugar onde a gente toca. Da Finlândia até Olinda.

EM – Um desses frutos que eu falei foi o Gismonti Pascoal, uma bonita homenagem a dois grandes nomes da música brasileira. Como nasceu a idéia de fazer esse trabalho?
AM –
A gente tinha terminado a turnê do primeiro disco, o Contínua Amizade, e começou surgir a idéia de como seria o segundo disco. Já que a gente fez um disco com vários compositores, resolvemos fazer um segundo disco temático, dedicado à obra de um ídolo nosso, um cara que seja importante para a nossa formação. Aí, já que somos um duo, vamos convidar dois caras e Egberto e Hermeto foram os nomes que vieram com muita rapidez. Ao mesmo tempo veio aquele medo de mexer com dois gênios desse tamanho, mas um medo bom, porque a gente sabia que daria conta. Com muito respeito, muito carinho, energia e trabalho, e foi o que a gente fez. Então o resultado está aí. Ta na cara que é um disco com a máxima honestidade musical, com o maior amor por essa música.


EM – Você disse uma vez que não se via como um compositor erudito, mas que isso tem acontecido muito ultimamente?
AM –
Talvez eu seja hoje o compositor brasileiro jovem que receba mais encomendas. É um mercado muito pequeno no Brasil, mas eu recebo encomenda de todas as partes do país. De Manaus até o Paraná. Pra mim é uma alegrai inesperada, nunca fiz planos de virar um compositor clássico, viver e ter uma renda com isso, mas a vida me convidou a isso e eu aceitei de coração aberto. Eu adoro, me vejo muito mais como um compositor que toca do que um tocador que compõe. Escrever para uma OSESP e ouvir aquilo bem tocado é uma emoção muito grande. Muitos meses de trabalho. Agora a Petrobrás Sinfônica gravou uma obra minha de quase meia hora de musica orquestral e está lindo. É muito gostoso ver aquele tanto de gente empenhado em fazer a sua música soar.

EM – Você entrega a obra e supervisiona como ela será interpretada? Esse trabalho de composição envolve isso também?
AM –
Quando é possível, sim. Uma obra nova sempre envolve um trabalho intenso no começo. Você não está tocando uma sinfonia que já foi tocada setenta milhões de vezes. Envolve sim um trabalho, o compositor vai lá e pega no pé um pouco. Acha nota errada na partitura, muda alguma coisa no ensaio que não resultou tão bem. A Petrobrás, por exemplo, me pagou uma passagem pra supervisionar a gravação. Na maioria das vezes consigo trabalhar as composições com as orquestras.  

EM – O erudito, o jazz e a música popular são universos diferentes? Quero dizer, existem peças populares tão lindas quanto as eruditas e orquestras tocando música popular pelo mundo. Gostaria que você falasse sobre isso. Essa distância parece ter diminuído muito nos últimos anos?
AM –
Se você pegar minhas primeiras composições, aos 13 e 14 anos, já tem essa natureza indefinida. Não fico pensando: “Aqui uma pitada de erudito, aqui uma de popular”. Passo muito longe disso. Não é da minha natureza como músico e como pessoa. Uma natureza, digamos, humanista, de ouvir aqui e ali e achar que é bonito e verdade, pra mim está valendo, não quero saber o rótulo. Se é um compositor Tcheco, se é um cara que toca choro no morro.

EM – Existe essa distinção quando você trabalha por encomenda?
AM –
Acho que a pessoa que encomenda já sabe que vem uma coisa inclassificável. Se me pediram é porque querem isso. Se não chamariam um compositor que é assumidamente “o compositor”. Nesse caso, já vem uma visão de música que tem a minha cara. Felizmente eles gostam, a platéia gosta e todo mundo fica feliz. Eu faço música brasileira contemporânea.


EM - Você participou do Festival Música Nova em Ribeirão Preto. O festival foi idealizado e realizado até pouco tempo pelo Maestro Santista Gilberto Mendes. Você teve a oportunidade de conhecê-lo?
AM –
Eu toquei no Festival Música Nova com quinze anos. Minha primeira composição para piano solo. Foi em Ribeirão Preto, antes de vir para São Paulo. Infelizmente não tive contato, mas sou grande admirador do Gilberto Mendes.

EM – Você sabe que ele também é apaixonado por cinema e uma vez ele me disse que se não fosse compositor queria trabalhar com cinema.
AM –
É fantástico, grande senso de humor. Adoro as coisas que ele escreve. Os textos e as obras. Principalmente o lado crítico que está embutido em suas obras.

EM - Gostaria que falasse sobre dois trabalhos que eu gosto muito: Piano e Voz com a Ná Ozetti e Contínua Amizade com o Hamilton de Holanda. Como foi que surgiram as idéias para esses dois trabalhos?
AM –
A parceria com o Hamilton começou em 2004, numa séria chamada Sem Fronteiras, de música que não é nem popular, nem erudita. Com a Ná foi na mesma época. A gente recebeu um convite da (Universidade) Federal do Rio Grande do Sul pra fazer um projeto chamado Piano e Voz. Aí nós começamos ensaiar, você sabe que lá em casa eu tenho um estúdio, onde começamos a gravar os ensaios. Quando chegamos ao final do trabalho de preparação para o show decidimos gravar. Era uma pena a gente fazer tudo isso para um único show. E a chance de gravar na minha casa, com todo o relaxamento, todo o cuidado. Como fiz os dois discos com o Hamilton, o Miramari com o Gabriele, o De Árvore e Valsas. Todos esses discos saíram prontos da minha casa. O show com a Ná foi um grande sucesso e aí nós ganhamos energia para acreditar no trabalho. O disco foi o mais comentado do ano de 2005.    

EM – É impressionante a freqüência que você grava discos. Acaba de gravar o CD Afetuoso pelo selo japonês Celeste e assinou recentemente um contrato com o selo italiano EGEA. Trata-se de um selo que investe no novo mundo do jazz, ou seja, Esperanza Spalding, Roberto Fonseca, Tânia Maria e tantos mais. Você já tem algum projeto pronto para eles? Alguma coisa em vista pra gravar?
AM –
Vai sair uma compilação chamada Veredas, que é dos meus discos brasileiros. Vai sair principalmente nos mercados italiano e japonês. O Miramari já saiu lá e tem o Miramari 2 já gravado. Acabamos de voltar da Itália onde gravamos em trio com o Gabriele Mirabassi e a Mônica Salmaso. Esse disco foi gravado em um oratório maravilhoso do século XVII, tem uma acústica excepcional. Não sei quando vai sair, mas vai ser o meu primeiro grande projeto pela EGEA, depois do Miramari.

EM – Esses discos gravados pelo EGEA serão lançados no Brasil?
AM –
Espero que sim. A conversa é que seja disponibilizado aqui. A gente vai fazer de tudo para que isso aconteça.


Programa:

Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque)
Choro da Contínua Amizade (André Mehmari)
Um Anjo Nasce (André Mehmari)
A Rosa (Pixinguinha)
Odeon (Ernesto Nazareth)
Eu te Amo (A.C. Jobim/Chico Buarque c/ arranjo de André Mehmari)
Lachrimae (André Mehmari)

Intervalo

Ballo ”Suíte para Orquestra de Cordas” a partir de uma dança do Ballo delle Ingrate, de Monteverdi.
Uma Valsa em Forma de Árvore (André Mehmari)
Fantasia Mozartiana para Piano e Orquestra
1 – Cherubino piano concerto
2 – Concerto Chorado – Andrè Mehmari
3 – Non so piú cosa son

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Morre Willie "Big Eyes" Smith


O site de Willie"Big Eyes" Smith divulgou que o artista morreu esta manhã de derrame em sua casa em Chicago.
Willie ficou conhecido no mundo do blues por integrar as bandas de Muddy Waters nos anos 60 e na retomada de sua carreira no final dos anos 70 e começo dos 80. Também é ele que aparece tocando bateria ao lado de John Lee Hooker na Maxwell Street, em Chicago, no filme Blues Brothers de 1980. Willie também tocou com Pinetop Perkins e James Cotton.
Em 1995 gravou seu primeiro disco solo, Bag Full of Blues, com as participações de Kim Wilson, James Wheeler e Nick Moss. De lá pra cá dedicou-se à carreira solo trocando as baquetas pela harmônica e pelo microfone.
Dezenas de pessoas, principalmente artistas que atuaram com Willie, manifestaram a tristeza pelo Facebook assim que a notícia foi divulgada no site.
A última vez vez que Willie veio ao Brasil foi no final de 2009, cuja apresentação no Sesi da Av. Paulista rendeu a seguinte entrevista para o Mannish Blog: http://mannishblog.blogspot.com/2010/01/muddy-waters-era-como-um-pai-para-mim.html

domingo, 11 de setembro de 2011

Judas Priest e Whitesnake dividem o palco em São Paulo... e o Judas fica com a maior parte


Foto: Lucimara Torres

Não assisti ao show do Withesnake na primeira vez que a banda abriu para o Judas Priest, em 2005. Preso no trânsito maluco de São Paulo, quando cheguei ao entorno da Arena Anhembi a banda já estava no palco apresentando seu set list. De fora, o som me parecia estar bom. Quando consegui estacionar e entrar no lugar o show já havia acabado.
Portanto, a expectativa de vê-los ontem era grande. Confesso que a  banda formada na década de 70 por David Covadale após sua saída do Deep Purple nunca foi das minhas favoritas, mas um show de hard rock é sempre melhor do que dez shows de pagode e vinte de sertanejo, certo?
O show que estava marcado para começar às oito da noite, começou com apenas dez minutos de atraso, mas começou mal. Quem estava na Arena Anhembi da metade para o fundo não conseguiu ouvir direito quando David Covardale (vocal), Doug Aldrich (guitarra), Reb Beach (guitarra), Michael Devin (baixo) e Brian Tichy (bateria) mandaram Best Years. Quem estava na porra da pista vip deve ter ouvido bem, claro, eles pagaram, e muito, para ter o privilégio de ouvir bom som.
Além do som ruim, a voz da tia Covardale também não está lá essas coisas. E manter o nome Whitesnake sendo ele o único remanescente original é pura besteira. Porque não assume a carreira solo recrutando os músicos que quiser, vai dar na mesma. Quer saber, nome não ganha jogo e o show dos caras ficou abaixo das expectativas, da minha pelo menos.
Quando tocaram as mega conhecidas Love Ain't no Stranger, Is This Love e Here I Go Again a coisa parecia que ia ficar boa. Tudo bem que a banda queira e deva tocar as músicas do seu mais recente trabalho, são os casos de Forevermore (faixa título) e Love Will Set You Free, mas ignorar Guilty of Love, Ain't No Love in the Heart of the City, Fool For Your Loving, Crying in the Rain e perder tempo com solos chatos de bateria e guitarra foi uma mancada daquelas.
Ou seja, o Whitenake não entregou. O show foi legal... e apenas isso. Como disse, não sou fã de carteirinha da banda, mas esperava mais e não sei o que os fãs de verdade acharam. Pra mim foi burocrático. Quando fecharam com Soldier of Fortune e Burn/Stormbringer ficou um espaço vazio.
Após um curto tempo de espera, passados alguns minutos das 22 horas, a cortina preta com o nome da turnê do Judas Priest, Epitaph, subiu com os primeiros acordes de Rapid Fire. Como por encanto, o som melhorou cem por cento. Toneladas de decibéis desabaram sobre nossas cabeças. Em seguida os deuses do metal emendaram Metal Gods (notaram o trocadilho genial?).
A formação atual do Judas Priest é Rob Halford (vocal), Glen Tipton (guitarra), Richard Falkner (guitarra), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria).  Heading Out To the Highway foi a terceira e percebemos que, a performance de Halford está melhor do que seu show anterior da dobradinha Judas/ Whitesnake, em 2005.
Deu pra perceber a extensão da voz de Halford com Victim Of Changes. Essa música é um clássico das antigas, da época que Bob gritava mesmo. Outra clássica, Diamonds and Rust, chegou a emocionar. Começou lenta para acabar na porrada habitual.
Do meio para o final, a banda desfilou um clássico atrás do outro, contemplando diversas fases da carreira, o que o Whitesnake deveria ter feito com mais generosidade. Em Breaking the Law, Halford deixou a audiência cantar a música do começo ao fim. Lembro de ler as matérias nas revistas especializadas em rock dos anos 80, que Halford se orgulhar do fato de ser uma banda 100% heavy metal. Ouvir The Sentinel, Painkiller, The Hellion, Electric Eye, Hell Bent For the Leather, You've Got Another Think Comin'  lavam a alma de qualquer cristão que venera o Judas. É bom dizer que as quatro últimas, Halford cantou montado em sua super bike.
Passava alguns minutos da meia noite, Living After Midnight, encerrou a noite que, sem dúvida, foi do Judas Priest que tranformou o Whitesnake em uma mera banda de abertura.
São Pedro ajudou. Ventou um pouco e fez um pouco de frio, mas não choveu. A cerveja, se não estava gelada, também não estava quente. A maconha não cheira como antigamente. Tem um cheiro estranho e às vezes embrulhava o estômago. Esses caras estão fumando química pura. Tô ficando velho.

Set list Whitesnake:
- Best Years
- Give Me All Your Love
- Love Ain't No Stranger
- Is This Love
- Steal Your Heart Away
- Forevermore
- Guitar Duel
- Love Will Set You Free
- Drum Solo
- Here I Go Again
- Still Of The Night
- Soldier of Fortune (DEEP PURPLE cover)
- Burn / Stormbringer (DEEP PURPLE cover)

Set list Judas Priest:
- Rapid Fire
- Metal Gods
- Heading Out To The Highway
- Judas Rising
- Starbreaker
- Victim Of Changes
- Never Satisfied
- Diamonds & Rust (JOAN BAEZ cover)
- Night Crawler
- Turbo Lover
- Beyond The Realms Of Death
- The Sentinel
- Blood Red Skies
- The Green Manalishi (With the Two Pronged Crown) (FLEETWOOD MAC cover)
- Breaking The Law
- Painkiller
Bis:
- The Hellion
- Electric Eye
- Hell Bent For Leather
- You've Got Another Thing Comin'
Bis 2:
- Living After Midnight

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futuráfrica é a feira livre dos ritmos africanos


O tronco principal é a África. Os enxertos são Cuba, Brasil, Colômbia, Harlem (NY), Jamaica e Oriente Médio. A árvore multicolorida e multirrítmica nascida desse cruzamento gerou frutos saborosos e dançantes como Salsa, Rumba, Samba, Cumbia, Jazz, Afrobeat, Funk e Soul.
Futuráfrica é a banca da feira que mostrará tudo isso aos sedentos consumidores de ritmos. AfroJazzLatino e outras Quissassas garante a happy hour de sexta que veio para conectar os neurônios e os quadris à África mãe.
As Quissassas cujos significados são lugar distante, tranqueiras, entre outros, será a parte surpreendente dessa discotecagem. Tudo poderá acontecer na noite onde o público celebra a rica cultura africana.
O DJs Wagner Parra, Lufer e Stefanis Caiaffo comandam as pick ups e esquentam as válvulas até umas horas, celebrando a rica cultura.
 
Serviço:
Futuráfrica - AfroJazzLatino e outras Quissassas 
Data: 09/09/11
Horário: 21 horas
Local: Studio G
Endereço: R. Dr. Carvalho de Mendonça, 80 - Encruzilhada
Preço: R$ 10,00 (na portaria)