sexta-feira, 18 de maio de 2012

O santista Mauro Hector expande sua música em todas as direções


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Leandro Amaral

O cara é integrante das bandas Caviars Blues Band, Druídas e Crosstown Traffic. Em carreira solo, gravou três discos: Sonoridades, Atitude Blues e o mais recente, Retratos, lançado no final de 2011. Também gravou um CD com a banda Fast Fusion. Como professor, coloca no mercado uma legião de guitarristas de blues, rock e jazz.
Traçando sua trajetória da forma mais independente possível segue Mauro Hector, guitarrista canhoto, discípulo de Jimi Hendrix, morador de Santos.
Fiel ao blues, Hector vem consolidando seu nome na cena blueseira a custa de muito trabalho, seja tocando, gravando ou dando aulas diariamente em seu estúdio, em um apartamento na orla da praia. Sem contar os pocket shows, bares da vida e oficinas.
Nossos caminhos já se cruzaram algumas vezes na estrada. A primeira em 2006, quando produzi o show de Eric Gales em Santos. Hector abriu a noite com seu power trio e, aproveitando que já estava lá, convidei para uma canja ao final do show de Gales. A dúvida no backstage era o que tocar. Já que ambos são discípulos de Hendrix, dei a sugestão, que foi aceita, de fazerem Red House. São essas coisas que valem a pena viver no mundo da música. Nem é preciso dizer que Hector pulou no peito de Gales, que ficou ali no palco, meio sem entender nada.
Na segunda vez, produzi o lançamento de seu segundo disco, Atitude Blues. Show lotado no Sesc Santos com o trio em sua melhor forma. As fotos desse show ilustram essa entrevista. A terceira foi na Mostra Blues 2009, onde Hector ministrou uma oficina de guitarra no blues e participou como convidado do show da Caviars. Meses depois, com a saída de Xilo Moretti, Hector acabou sendo convidado para integrar a banda.



Eugênio Martins Júnior – Como e quando você começou tocar guitarra?
Mauro Hector –
Comecei a tocar em 85. Tinha um guitarrista que tocava em uma banda, mas não me deixava ir ao ensaio. Espera aí... uma vez fui com os amigos no cinema e um amigo demorava para andar porque tinha um problema na perna. Na porta do cinema, não me lembro se era o Iporanga 1 ou 2, estava passando o Let There Be Rock, do AC/DC. E nós achamos que o pessoal tinha entrado nesse filme e entramos também. Eu saí de lá guitarrista.
Foi o primeiro susto que eu tomei com a música. Logo em seguida veio o Rock In Rio, em 1985. Isso foi muito importante porque vieram várias bandas, com ótimos guitarristas e eu já estava muito influenciado pela cena do heavy metal no Brasil. Havia visto o Santuário e tal. Aquele cara da minha classe tocava em uma banda chamada Druídas. Essa banda era formada pelo Plínio Romero, que até hoje é o baterista oficial. Eu sempre pedia para ir ao ensaio, mas ele nunca dava bola pra mim. Aí um dia eu descolei um (pedal) wha wha e quando eu disse que tinha um ele me convidou para ir à sua casa fazer um som.

EM – Mas você é autodidata?
MH –
Comecei a tocar em 85, mas me desenvolvi rápido. Antigamente vendia uns posters nas bancas, da (revista) Somtrês, e eu comprei um que era escrito pelo Theo Godinho, falecido até, que era da banda Jaguar. Era um pôster que tinha entrevistas com Frank Zappa, Angus Young, B.B. King, vários guitarristas, como eles aprenderam a tocar e tal. Do outro lado tinha um monte de escalas de blues, acordes, e eu botei na parede e decorei aquilo tudo. Aí comecei a improvisar. Tinha escala maior, um monte de coisa importante pra começar. Logo depois fui estudar com o Rafa, da loja de discos. Estudei também com o Alexandre Birkett e com o Mozart Melo.

EM – O Rafa da Blaster?
MH –
É, ele foi professor de vários músicos da Baixada Santista. Ele já gostava muito de blues. Ele me ajudou. Ele dava aula na semana toda, antes de ter a loja. Na verdade ele parou de tocar antes de abrir a loja. O pessoal do Mr Green passou na mão dele, muita gente estudou com ele. Ele tinha uma Les Paul e a molecada ficava louca. Ele tem essa guitarra até hoje.


EM – É engraçado que todos os blueseiros brasileiros começaram pelo rock.
MH –
É eu comecei pelo heavy metal, mas nos anos 80 era Black Sabbath, Deep Purple, Motorhead, Led Zeppelin, AC/DC e todas essas bandas tinham influência do blues. Isso tudo a gente chamava de heavy metal, depois é que eu fui entender que era rock and roll. Então, eu era blueseiro e não sabia. Já tocava aquelas frases de blues que os caras faziam. Aí eu fui ouvir o que eles ouviam.

EM – O Druídas já existia?
MH -
O Druídas existia há poucos meses. O Luiz que era o guitarrista era da minha classe. O Marcelo, baixista, ficou pouco tempo, foi substituido pelo Zuzo Moussawer. Então, quando fui fazer aquele som, eles ficaram impressionados com o que eu toquei. O Luiz acabou saindo Eu, o Plínio e o Marcelo seguimos. O Plínio foi para o vocal e bateria. Essa formação durou alguns anos. A gente fazia heavy metal em português. Fizemos um show no Circo Marinho com a abertura do Pactus Fire, do Tarso Carnal. Depois tocou o Druídas e depois o Angel. Isso em 87.
Nessa época houve uma transição. O Marcelo se interessou por black metal, um som mais pesado, mas a gente queria ir mais para o rock and roll. Foi quando conheci o Zuzo (Moussawer) e ele entrou na banda, no show do Circo Marinho ele já estava. Eu fui me apaixonando cada vez mais pelo rock and roll do Golpe de Estado, A Chave do Sol. E foi aí que eu saquei que tinha de entender o rock antigo para entender o que a gente estava fazendo. Do AC/DC ao Chuck Berry. Do Chuck Berry ao Muddy Waters. Aí a gente virou uma banda de blues.

EM – E nessa época havia muita banda de rock farofa que era legal, como o Styx, Slade, Journey...
MH –
A gente ouvia tudo isso. Lembro de colocar o disco do Journey e tocar junto, fazendo improvisos. O Neal Schon é bom pra caramba, tem um disco dele chamado Piranha Blues. Lembro de ter ouvido muito tudo isso e do rock para o blues foi um passo. Nessa época aconteceu o boom do blues brasileiro. Começou a aparecer o primeiro disco do André Christovam, que era com o Alaor Neves na bateria.



EM – Nessa época Os Druídas estavam ativos?
MH –
Sim, a gente nunca parou entre 1985 e 1996. Demos um tempo em 1996. Voltamos com a mesma formação de 1996, a formação mais blues de todas: o Marcos Paulo no baixo e vocal, o Plínio Romero na bateria e eu na guitarra.

EM – Porque a banda nunca gravou?
MH –
A gente até pensou, mas não conseguiu realizar. Também quando a gente começou era mais difícil e aí demos aquela parada. Estúdio era caro... depois que a banda parou eu comecei a produzir os meus CDs. Eu sempre quis fazer discos. Atualmente não estamos com a preocupação de gravar. Estamos curtindo o momento, mas vai chegar a hora de gravar um disco.

EM – Em uma conversa anterior a essa você me falou que os artistas têm de procurar gravar sempre que pode. Tanto é verdade que você já está no teu terceiro disco solo custeado por você. Fale um pouco sobre isso.
MH –
Já são mais de 25 anos de guitarra e nesse tempo a gente vai compondo. Paralelo a isso, havia a necessidade de desenvolver uma carreira para daqui a alguns anos e poder dizer que tem uma história. E o disco é um registro do momento do artista, como ele pensa, como ele está tocando naquele momento. O Sonoridades foi o primeiro CD, onde eu pude homenagear as minhas influências, os músicos que tocaram comigo. Então se eu não gravo não estou feliz. Tenho que produzir e botar pra fora os riffs que estão na minha cabeça. Se eu tivesse a possibilidade gravaria um disco a cada seis meses facilmente porque aparece muita idéia. Estou o dia inteiro com a guitarra. Desde 85 eu não fiz outra coisa na vida a não ser tocar guitarra. 


EM – Você falou que cada disco registra um momento do artista. Fale sobre cada um deles.
MH –
Nos três discos procurei seguir as minhas influências. Se a gente for ouvir e falar o que tem em cada um vai perceber que todos têm jazz, blues e rock. E tem música brasileira por parte dos artistas que eu sempre ouvi que é Hélio Delmiro, Heraldo do Monte, Nelson Faria, Alexandre Birkett. Todos estão presentes. A primeira música do último disco, Retratos, é um shuffle bem bluesão, bem pesado até. Tem uma música que eu fiz para o AC/DC também. E tem momentos mais fusions como Diálogos, que gravei com uma guitarra SG 1968, quis fazer uma levada Eric Johnson. Balada pra Ana é meio Jimi Hendrix. Tem bastante blues também, Estrada... o que falta nos últimos dois discos que tem no primeiro é um country, no primeiro tem Pé de Moleque e nos outros não tive essa inspiração.

EM – Você falou também que se pudesse gravaria a cada seis meses. Mas é impossível, você é que banca os teus discos, não é?
MH – E nem tenho tempo. Não sou endorse de instrumentos, de cordas e de nada. Acho que isso tem de vir da empresa e não eu ficar pedindo, não acredito muito nisso. Então vou produzindo. Por enquanto quem me patrocina são meus alunos de música, os shows que eu faço e minha família que sempre apoiou.

EM – Você dá aula todos os dias?
MH –
Sim, de segunda à sexta e aos fins de semana tenho workshops e masterclasses. Tenho uns cinqüenta alunos semanais.


EM – E dá pra viver só dando aula?
MH –
Vivo dos meus shows e das minhas aulas. Dou aula desde 88. Não quero parar porque gosto, me mantenho estudando. Tenho um material pronto, mas minhas aulas têm muita coisa criada na hora. Às vezes sai uma idéia para um blues na hora e eu gravo pra poder entrar no disco.

EM – Como foi a tua entrada na Caviars Blues Band. Lembro de ter te convidado para abrir para o Eric Gales em Santos e logo depois para uma participação no show da Caviars na mostra blues que eu produzi. Depois disso o Xilo Moretti saiu da Caviars e você entrou. Como foi esse convite?
MH –
A EM&T abriu uma unidade em Santos e eu fui fazer uma entrevista pra dar aula. E quem fez a entrevista foi o Alaor Neves que era o coordenador na época. Isso aconteceu dois ou três meses antes do show na Mostra Blues. Eu disse pra ele que tinha visto muito show do André Christovam com ele na bateria. Lembro que cheguei a levar até uma fita cassete do Druídas pra ele. O Alaor me convidou para tocar no show da Caviars que você produziu no Sesc dizendo que ia ser legal pra escola também. Vocês me convidaram no mesmo momento para esse show.

EM – E você ainda fez uma oficina dentro da Mostra Blues 2009. Isso foi à tarde. No mesmo projeto o Big Joe Manfra fez uma de guitarra também e o Márcio Scialis fez uma oficina sobre gaitas e um pocket show com Os Harmônicos. Os shows foram o Big Joe Manfra, o Big Gilson e a Caviars Blues Band.
MH –
Fiz a jam com os caras que foi muito divertida. O Guappo já havia me visto tocar em um bar com o Marcos Paulo, com uma banda que a gente tem em São Paulo chamada Crosstown Traffic. Alguns meses depois o Xilo teve de sair e eles me ligaram e perguntaram se eu poderia assumir as guitarras. Eu disse que achava que sim por causa do meu volume de trabalho. Mas acabei indo. É uma honra tocar com os caras, porque eles tocam muito bem. O Guappo é um grande músico e profundo conhecedor de blues e jazz. Ele está sempre me dando CDs. Ele curte muito o Django Reinhardt e me fez voltar a ouvi-lo. Ele toca algumas coisas do Django no violão. O Fernando Chui, que é amigo dele é especialista em Django e a gente sempre faz um som. O Ney tem uma história e faz parte de uma puta banda chamada Mobilis Stabilis. E o Alaor, como eu falei, já era fã dele e o acompanhava de várias gravações. Ele tocou com o Guilherme Arantes e eu também trabalhei com ele, mas em épocas diferentes.

EM – Qual é a tua participação no disco novo, o Merlot?
MH –
Tem uma música minha chamada Eu Sei. As outras eu participei de toda a criação dos arranjos. Nas letras não participei, não que eu não goste, mas algumas coisas já estavam prontas. Nesse CD temos vários parceiros, o Lee Marcucci (Tutti Frutti, Rádio Taxi), Hélcio Aguirra (Golpe de Estado), o Fernando Chui, com uma composição muito legal que ele participa cantando. Tem a participaçãp do Luiz Carlos Pereira de Sá (Sá e Guarabira) e do Cezar de Mercês (O terço). Estou muito contente com o trabalho que a gente fez.


EM – Qual é a tua participação no Fast Fusion?
MH –
É uma banda de Araçatuba cujo mentor é o Daniel Freitas. Conheci o Daniel há um tempo na casa do baterista Alex Reis que hoje está no Circo de Soleil. O Alex mostrou algumas gravações para o Daniel que se interessou pelo guitarrista. Eu havia acabado de gravar o disco do Alex, o Arueira. O Daniel também tem um blog de música e me entrevistou por causa do disco Sonoridades. O Fast Fusion tirou as minhas músicas sem eu mandar nada, nenhuma partitura e daí um dia eles me ligam e diz pra eu ir pra lá que já havia um show armado. Depois os caras me convidaram para participar do CD como integrante. “Mas como assim, eu estou longe”. Ele disse que gravariam e me mandariam para eu gravar em cima. Aí pediram pra eu mandar uma música e a gente regravou Tava na Hora, do meu primeiro CD. Fizemos uma versão mais pesada, com distorção. E fizeram uma homenagem pra mim em uma música chamada Hectoriando, brincando com a minha Hendrixiando. É um blues composto pelo Christian Freitas, lembra um pouco a Lazy do Deep Purple. O lançamento foi no Teatro Municipal de Araçatuba.

EM – Então você dá aulas todos os dias, participa da Caviars, dos Druídas, Crostown Traffic e Fast Fusion?
MH –
É, a Crostown Traffic foi fundada pelo Marcos Paulo. O baixista é o Mauro Vagner e o Dino Verdade, do Bateras Beat, na bateria. A proposta é tocar classic rock, Bad Company, Jimi Hendrix, Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd, essas coisas.

EM – Como você classifica a sua música, blues rock?
MH –
Eu não consigo e não gosto de colocar esses rótulos. Eu escuto todos os tipos de blues. Pra mim tudo é blues, desde Jimmy Smith, B.B King, Robert Johnson, Robert Cray, Joe Bonamassa. Não vejo muita diferença. Têm dias que estou mais blues roots, têm dias que estou mais moderno.

EM – Como assim não tem diferença? Claro que tem diferença entre os caras que gravavam nos anos 40 e 50 dos caras modernos, estilo Joe Bonamassa.
MH –
Mas quando eu toco não consigo ver essa diferença. Eu não falo assim: “Vou fazer um blues tal”. Eu toco. É assim que eu entendo. E às vezes eu percebo frases ou linguagens do jump blues, ou Chicago. Tive um duo com o gaitista Alexandre Brito que tocava só Big Bill Broonzy, Robert Johnson, só roots mesmo e a gente chegou a tocar em lugares que não aceitavam isso, mas a gente fazia a noite rolar. Tocávamos My Babe e tal. Foi na época que o John Hammond Jr veio aqui em Santos, aquilo foi muito legal. Vê-lo fazer essa linguagem foi muito importante pra mim. A gente mudava a afinação dos instrumentos pra fazer aquele som grave.

EM – Como você vê a cena blueseira atual? E em Santos? Quem está fazendo um blues legal aqui? Tem um garoto chamado Filippe Dias que sempre está aprontando alguma.
MH –
Olha, devo ter falado com o Felippe alguma vez, porque muita gente me manda muita coisa. Mas ao vivo não vi. Mas já me falaram dele. Tenho vários alunos bons, o Rafael Gomes, o André Nardelli, o Ronaldo Aguiar, fã do Johnny Winter, Stevie Ray Vaughan e canta legal também. Tem o Edson Vieira, ex-aluno, é conhecido como Ed Blues, de São Vicente. O Maurício Rocha está montando um trio muito legal. São pessoas que gostam de blues e estão montando seus projetos lentamente. Aqui na Baixada Santista sempre foi muito difícil viver de música. Ou no Brasil. Eu sempre fui muito teimoso. Pra mim, ter uma pessoa na platéia é igual ter duzentas. É mandar ver e tocar o melhor que se pode. Então sempre recebo e-mail de pessoas de todas as partes reconhecendo essa luta pelo blues.

EM – E a internet é uma ferramenta poderosa também.
MH –
Invisto muito nisso. Tenho uns trezentos e poucos vídeos no meu canal do Youtube. Tem várias fases do meu trabalho, inclusive aquele show que a gente lançou o Atitude Blues no Teatro do Sesc.


EM – Porque você não compõe letras?
MH –
Eu tenho, sim! A gente gravou no Druídas. Tem uma coletânea com várias bandas de Santos chamada Sons Da Cidade que tem um blues meu, chama Fluir o Blues, letra e música são minhas, o Marcos canta. A gente toca um monte de músicas com letra que a gente espera gravar. Esqueci de falar da banda Ease, muito importante. A gente compôs muita coisa. Gravamos um CD/DVD, mas não lançamos, está parado.

EM – Todos os teus CDs são independentes. Todos os custos são bancados por você. Como você desenvolve isso sozinho? De acordo com um bom padrão de qualidade, quanto se gasta pra gravar um CD?
MH –
Olha, depende o tempo que você passa no estúdio. Eu prefiro confiar em um estúdio. Meus dois primeiros CDs gravei com o Airton Boca. Foi fantástico gravar com ele que entende muito de guitarra. O terceiro quis fazer em outro lugar, outro ambiente. Então escolhi o Flávio Medeiros. A gente estava tocando muito juntos no bar Tahiti, no Guarujá, substituindo o Cláudio Celso que estava viajando. Fiquei uns dois anos tocando standards com o Flávio. O estúdio é muito bom. Sempre gravamos ao vivo no estilo antigo, nada de overdubs. Tudo no primeiro take, segundo no máximo. Sem muita emenda. O que sai mais caro é a prensagem. Gravação nem é tanto. Não fico rodando a lâmpada muito, não. O mais caro é a produção, uma arte legal, a parte executiva, CRC de cada música, registro de cada composição. Essa parte burocrática, que as pessoas nem pensam nisso, vai a maior parte da grana.  

EM – Falando nisso, e o ECAD, você ganha alguma grana?
MH –
Até hoje não veio nada. Eu pago, mas não veio. E minha música já tocou em rádio pra caramba.

EM – E a OMB, você concorda com as cobranças ou até a existência do órgão?
MH –
Olha, muita gente discorda da Ordem e não paga e está em seu direito. Cada um tem sua opinião. Eu prefiro pagar pra poder trabalhar e não ter dor de cabeça. Prefiro que tenha um órgão que regulamente essa história do que tirar ele de vez. Prefiro até que façam melhorias no que já tem. Tem de limpar tudo. Vamos botar limites. Ninguém da ordem dos músicos vai cobrar nos bares pra ver se quem está tocando é músico mesmo. Isso é desleal e isso a Ordem não cuida da gente. Nos Estados Unidos é tudo mais organizado. Eles organizam até agenda.


EM – Você sabe que a OMB tem uma estrutura jurídica que você pode usar?
MH –
Não sei, nunca usei. Não acho que tenha uma funcionalidade. É mais um documento que você tem. Por exemplo, os Sescs obrigam você apresentar esse documento se não você não toca. Então eu prefiro ter. Mas existem coisas que podem melhorar.

EM – Vamos falar de coisa boa. Estamos rodeados de instrumentos. Aqui tem uma guitarra Squier, uma Tagima e uma Gianini. Todas elas imitando o modelo Stratocaster da Fender. Quantas e quais guitarras você tem?
MH –
Tenho uma Fender anos 80, a mesma que está na capa do Retratos, essa eu toquei a vida inteira. No meio dos anos 80 eu comprei uma Gibson SG, ano 1968. No último disco eu gravei com ela também. Toco em alguns shows, mas deixo mais em casa. Tenho uma semi-acústica Staag 013 para jazz, aquelas levadas Wes Montgomery. Também usei no disco novo, na música Pura Inspiração. Tenho uma 335 Ibanez, parecida com aquela do Larry Carlton, B.B. King, cópia da Gibson. Uso pra tocar umas coisas mais Ten Years After, gosto de usar com (pedal) overdrive que fica legal. Tenho uma Telecaster Lee, que é um luthier de Santos e que me apoia. Essa é pra tocar Country. Tenho outra do Lee, Strato com uma cor chamada Surf Green, modelo que o Jeff Beck usava nos anos 80. Uma Strato com dois captadores Di Marzio e um Fender no meio. Uma outra Fender Sunburst. Devo ter umas dez guitarras. Amplificador eu uso um fender Twin Reverb e um Mesa Boogie TC2.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Suicidal Tendencies, Popa Chubby, Gilberto Gil, bêbados e mijo: o melhor e o pior da (minha) Virada Cultural


Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Tenho interesse por todos os gêneros musicais, por isso, é muito difícil escolher as atrações na Virada Cultural. Gostaria muito de ter visto os shows de McCoy Tyner Quartet e Raul de Souza e Zimbo Trio no palco República. Ou Bixiga 70 no palco da Júlio Prestes. Ou Man Or Astroman no palco da Barão de Limeira.
Mas morar longe faz a diferença, então, levei em conta o "custo benefício" de sair de Santos com aquele frio, pegar estrada e ficar horas em pé e sem colocar alguma coisa decente no esômago por horas. Me contentei em ir no domingo para os shows do Suicidal Tendencies, às 9h30, no palco da São João, Toots and the Maytals, The Abyssinians, Popa Chubby e Gilberto Gil.
Com o Suicidal, local lotado. Como uma banda de heavy metal (ou crossover, speed ou sei lá o que) que fez história nos anos 80 merece. Foi realmente emocionante ouvir os caras tocarem ao vivo seus clássicos: Possessed To Skate, War Inside My Head, Institutionalized. Por parte da banda foi um showzaço, mas  com um som bem meia boca. De longe dava para ouvir mais ou menos. Podia estar melhor. É imporessionante como os jovens brasileiros estão mais mau educados e consumindo muita bebida alcóolica. Acho que as duas coisa têm alguma relação.
A polícia ficou de fora, o que porporcionou liberdade aos vandalos que foram arrumar confusão a toa. Vi muitas brigas arranjadas por um mesmo grupo de jovens. Um deles puxava briga e os outros chegavam por trás já batendo. Muita covardia. Como diria o Bezerra da Silva: sozinhos andam rebolando e até mudam de voz.
Saí do show do Suicidal Tendencies em direção ao palco da praça Júlio Prestes para assistir ao show da lendária banda jamaicana, Toots and the Maytals, às 13h. No caminho uma cena de horror. Em uma das travessas que ligam os dois palcos mais de duzentos dependentes de crack amontoados como zumbis. A polícia ao largo, só observava. Enquanto milhares de pessoas se ocupavam em se divertir, outras tantas se ocupavam em morrer. Uma cena triste que vai marcar para o resto da vida.
Já era duas da tarde quando o José Manuel subiu ao palco para avisar que a Toots and the Maytals não faria seu show. A essa altura, o sol estava a pino desde 11 da manhã. Centenas de rastafaris já haviam se posicionado em frente ao palco para se deleitar com a banda jamaicana. A organização do evento mandou um zé mané dar o recado que a banda havia ficado na Jamaica, "onde eu gostaria de estar"disse, e que havia cancelado o show na sexta-feira. Espera aí! Se a banda havia cancelado na sexta, dia 4, porque então só resolveram avisar que não tocariam com uma hora de atraso no domingo? Que história mal contada. Se a organização sabia que o show não ia rolar, deveria comunicar a audiência sempre ao final de cada show daquele palco. Não é porque os shows são gratuitos que não deva haver respeito pela popuplação. Com essa espera, perdi o show dos Titãs no palco da São João que, do palco Júlio Prestes é só cinco minutos andando.
Enquanto não dava a hora do Popa Chubby, assisti um pedaço do show da banda argentina La Renga, um hard rock competente, mas nada demais, e da banda/brincadeira Brothers of Brazil (com Z, será que o Supla quer ganhar o mercado internacional?). Sempre é legal ouvir Garota de Berlim... e só.


Ted Horowitz subiu ao palco dentro do horário, às 16 horas no palco da Barão de Limeira. O cara mostrou porque é considerado um dos principais nomes da atual cena blues de Nova Iorque. O visual tradicional, uma bandana na cabeça um colete preto e sua Fender Stratocaster detonada que ele, por pouco, só não faz falar. A primeira vez que pisou em um palco brasileiro foi com um power trio. Entre os temas apresentados, Hey Joe, The fight is On, Right On, e uma versão matadora de Somewhere Over the Rainbown que registri em vídeo e em breve disponibilizo aqui no Mannish Blog.
Finalmente, o show do Gilberto Gil fechando a maratona. O que dizer do cara que coloca em uma mesma apresentação as músicas Realce, Palco, A Paz, Drão, A Novidade, No Woman No Cry, Is This Love (ambas de Bob Marley), Toda Menina Baiana, Vamos Fugir, Nos Barracos da Cidade e tantas outras maravilhas. Gente saindo pelo ladrão e se divertindo a valer.
Esse ano parace que a produção da Virada Cultural desaprendeu a fazer ou fez nas coxas. Digo isso porque andei por vários palcos e vi muita coisa errada. Começou com a divulgação das atrações em cima da hora. Nos dias do evento, o  cheiro de urina perto dos banheiros químicos estava tão forte que chegava a incomodar de longe. A limpeza desses banheiros devem ser feitas com maior periodicidade. Pelo que vi, a Polícia Militar agiu direito em alguma situações, mas ficou ausente nas aglomerações, dando espaço aos briguentos e aos ladrões de carteira que fizeram a festa impunemente. O lance do show do Toots and the Maytals foi surreal. Nunca vi isso acontecer.
Vi muitos jovens jogados no chão por causa de bebida e um deles saiu de ambulância com coma alcóolico. A maconha que essa rapaziada fuma hoje em dia é muito fedida, química pura. O Sr prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, desmentiu que os jovens se embebedaram mais nessa Virada Cultural, mas eu não o vi em nenhum show. Acho que ele devia estar mais presente nos eventos ou instruir os seus assessores a elaborar melhor suas declarações. Assim não passaria esse ridículo. Mas acho que isso não o incomoda. Vai um recado para o dignissimo e à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo: planejamento é tudo.