sexta-feira, 22 de março de 2013

Tem cearense no blues, o guitarrista Artur Menezes mistura os ritmos em seu segundo álbum


Texto: Eugênio Martins Jr
Fotos: arquivo Artur Menezes

Não tem nada a ver com sorte. Para consolidar o nome na cena blueseira brasileira o artista tem de fazer por merecer. Foco na carreira a todo custo.
Inclui custear viagens com o próprio dinheiro, enfrentar um mercado que não está nem aí para o gênero e até dizer aos pais que vai estudar em outro país e em vez disso passar noites e noites correndo atrás de jam sessions pelos bares.
Semelhanças com o guitarrista cearense Artur Menezes não é mera coincidência. Enfant terrible da guitarra blues que vem crescendo na cena nacional, o cara foi várias vezes pra Chicago às suas próprias custas ou, pelo menos, às custas dos pais, e conseguiu o que poucos conseguiram até hoje: dividir o palco lá na terra do blues com Buddy Guy, John Primer, Jimmy Burns e outros, como contamos adiante.
Agora, ser o escolhido para abrir os shows do Buddy Guy no Rio de Janeiro e São Paulo em 2011 foi uma tacada de mestre.
Sorte? Não. Fruto dos contatos anteriores e de uma ousadia, a de pegar o telefone e ligar para produção do velho Buddy pedindo pra fazer a gig. Qualquer músico poderia ter feito, mas Artur fez.
Ainda em 2011 lançou seu primeiro disco solo, Early to Marry, pela Blues Time Records. Em 2012 foi destaque no palco iniciante do Festival Rio das Ostras Jazz e Blues e no final do ano lançou Artur Menezes 2, misturando gêneros em composições próprias.
O artista que flerta com outros ritmos já admite pular a cerca musical no futuro. O que confirma mais uma de minhas teorias: não dá pra ser fiel, musicalmente falando, sendo brasileiro. E isso às vezes pode ser muito bom quando se sabe o que está fazendo.
Artur é novo, tem a cabeça boa. Aos poucos está crescendo na arte que pratica. E não tem nada a ver com sorte.  



Eugênio Martins Júnior – Você morou em Chicago em 2006/07. Já foi com o objetivo de conhecer o blues de perto?
Artur Menezes –
A desculpa que eu dei pra família foi a de que fui pra estudar inglês, mas na verdade fui pra tocar. Fui mal intencionado, pra beber o blues na fonte, em 2006/7. Depois fui em 2011. Na primeira e segunda temporadas passei três meses cada e em 2011 passei dois meses.

EM – Você estudava durante o dia saia pra tocar de noite?
AM –
Foi um negócio bem pensado, morei em um albergue estrategicamente localizado, próximo ao Kingston Mines e ao Blues on Halsted que são dois clubes. Fiquei a três quarteirões. No começo foi muito estranho porque eu falava só o básico, inclusive tive problema na imigração pra entrar no país. No albergue, o cara da recepção também não era legal, me colocou em um quarto cheio de gente e eu havia reservado um só pra mim. Um monte de confusão. Foi um dia muito complicado. De noite tomei um banho e fui aos bares de blues, primeiro no Blues on Halsted. Quem estava tocando era o John Primer que já fez shows no Brasil e foi o último guitarrista da banda do Muddy Waters. Aí sentei no balcão do bar e ainda naquela de calcular tudo em real porque na época o dólar estava muito caro. Pedi uma cerveja e ela durou a noite todinha (risos). Mesmo sem falar inglês já havia elaborado umas frases estratégicas e perguntei se lá faziam jam sessions. O cara falou que não e eu fiquei lá sentado. Quando deu o intervalo do John Primer, os músicos saíram pra fumar e fui ver qual era. Estava com uma camisa com a minha caricatura e o nome de duas bandas que eu havia participado, o Blues Label e a De Blues em Quando. Cheguei pra ele com aquele inglês horrível dando os parabéns pelo show falei que era do Brasil e perguntei se podia tocar, já fui bem direto, né?

EM – E você estava com a tua guitarra ou ainda ia pedir emprestado?
AM –
Estava sem guitarra. Aí ele deu uma gargalhada daquelas de deboche e disse que havia gostado da minha camisa. Eu disse que era das minhas bandas. Eles voltaram pra segunda parte e no meio da música vi as pessoas apontando pra mim e ele falou alguma coisa sobre o Brasil e me chamou pra tocar. Subi e toquei Hideway do Freddie King, aquela versão do Stevie Ray Vaughan, toquei na guitarra dele. Todo mundo gostou e ele ficou com sorriso bem grandão.

EM – No primeiro dia que você chegou sem Chicago sem falar inglês já tocou com o John Primer?
AM –
Nem terminei ainda. Eu mesmo fiquei impressionado, das outras vezes foi bom, mas não como dessa vez. Beleza, quando terminei de tocar chegou uma mulher bem grande, parecia uma índia Cherokee e começou a falar comigo e eu não entendia nada. Sei que ela falou alguma coisa de “card” e perguntou de onde eu era e tal. Aí ela falou que era do Kingston Mines e disse para eu segui-la. E o segurança, que depois eu fui saber que era o Big Ray, baterista da banda do Otis Rush, mandou eu tomar cuidado com a mulher. Na porta do Kingston Mines ela apontou pra mim e eu entrei de graça no clube. Ela me levou na sala do manager e explicou tudo pro cara e pediu o tal do cartão e me deu pra assinar e estava escrito VIP CARD e eu podia entrar de graça todos os dias no Kingston Mines e ainda levar dois convidados comigo. Achei uma maravilha porque com o dinheiro contado e dez dólares a entrada eu não iria lá todas as noites. Quem estava tocando essa noite era o Charlie Love and the Silky Smooth Blues Band. Tinha um segurança ao lado do palco e eu perguntei pra ele se tinha jam session. Ele ficou me perguntando se eu tocava bem e eu disse que tocava muito bem (risos). Quando o Charlie Love parou o segurança chamou ele e disse: “Ei Charlie, ele disse que toca blues, pode acreditar nisso?”. E começou a rir. O Charlie me chamou ao palco e me deu a guitarra meio estourada. Ele canta, toca gaita e toca uma guitarra meio mentirosa, mas o show dele é muito massa, canta muito. Comecei a tocar e ele me fez descer do palco e subir em uma mesa e então comecei a solar e todo mundo a bater palmas. Esse foi meu primeiro dia em Chicago. E todas as vezes que eu vou, entro de graça no Kingston Mines. Pego outro cartão e renovo, toco com o Charlie Love.

EM – E ainda tinha mais oitenta e nove dias pela frente. E fora do circuito pra turistas, foi em algum lugar, mais pro subúrbio?
AM –
Fui no Rosa’s que acho que é no West Side. É que fica muito longe mesmo e de madrugada é perigoso. Me disseram que o West Side é até mais perigoso do que o South Side. Mas ia pouco, pra voltar de madrugada tinha de voltar de taxi e pra mim não valia a pena. Mas toquei no Rosa’s também. Fui no South Side, mas em algumas igrejas pra ver aqueles corais, fui na Trinity Church. Foi bem legal, nesse dia o pessoal ficou olhando pra mim, porque só tinha negão e eu lá.

EM – Então a tua rotina era estudar de dia e curtir os clubes a noite?
AM –
Como entrei no país com visto de estudante só podia ter três faltas senão sofreria punições. Mas eu botei na minha cabeça que fui pra lá pelo blues e todas as noites ia pra um bar diferente nesse circuito, Buddy Guy Legends, Kingston Mines, Blues on Halsted e o Rosa’s. Ficava no bar até às duas ou três da manhã, voltava pra casa, dormia e acordava às seis. Tinha de estar no curso às nove, mas tinha de pegar metrô e ônibus. O curso termina às duas e eu dormia até às seis, comia e ir para os bares. Meu terceiro dia também foi muito interessante, fui ao Smoke Daddy porque pesquisei no Google e vi que lá tinha jam session e aí eu toquei e o pessoal gostou, bateu palma e tal. Dessa vez levei a guitarra. Um gaitista veio falar comigo e pediu meu e-mail, mas eu não entendi muito a conversa. Quando acordei no outro dia tinha um e-mail, e ler é bem mais fácil do que falar, o nome dele era Grant Kessler e estava dizendo que tinha uma banda chamada The Shakes e perguntava se eu queria tocar com eles o tempo que ficasse em Chicago. Comecei ensaiar com os caras e fiz três shows. Foram gravados dois discos ao vivo, nada profissional. Nas outras vezes também toquei com eles, inclusive nos subúrbios.



EM – Você fez contatos por lá? Você usa isso?
AM –
Uso. Vamos pra 2011, sou o produtor do Blues By Night, um festival que tem aqui no nordeste. Nós trouxemos o Jimmy Burns. Ele veio para Fortaleza por causa desses contatos. Quando fui abrir o show de Buddy Guy aqui no Brasil recebi um contrato cheio de restrições, dizendo que não poderia tirar fotos com ele, não podia conversar com os músicos, não podia ficar no palco na passagem de som, mas não era o contrato do Buddy Guy, era um contrato local. Mas como sou amigo do Mike, segurança do Legends, bar do Buddy Guy, ensinei-o a falar português e tal, mandei um e-mail pra ele dizendo isso e ele respondeu que estava ao lado do Rick (Hall, guitarrista do Buddy Guy) e estou te mandando o telefone dele, o endereço do hotel onde ele vai ficar no Brasil, pode ligar. Quando eu liguei ele me pediu um (pedal) wah wah emprestado e na passagem de som os caras da banda é que queriam tirar fotos com a gente, e eu achei que seria ao contrário. Os caras dizendo que a gente faz um som legal.                   

EM – Como foi a tua participação no Legends?
AM –
Toda segunda-feira é dia de jam session no Legends. É mais ou menos assim, uma segunda-feira é o Jimmy Burns e a outra é o Brother John e depois abre pra jam. O Brother John é um guitarrista muito bom e também toca piano muito bem, ele já tocou com o Buddy Guy, é um branquelo de cabelo bem liso. E depois de freqüentar o Legends algumas vezes eu fui pedir pra ter umas aulas com ele que já tinha me visto tocar, mas como ele morava no subúrbio nunca dava certo. Um dia ele me convidou pra ter aula no camarim antes da gig, mas ele não cobrou a aula e ficou meu amigo. E eu fiquei muito feliz porque ele me disse que eu não precisava ter aulas. Na última semana que eu ficaria em Chicago, ele perguntou se eu gostaria de tocar com alguém em especial, porque a jam era só com músicos conhecidos. Quando isso acontece ninguém quer tocar. Mas comigo era o oposto, só quero tocar com músicos bons. É como um jogador de futebol, se ele joga com um monte de perna de pau não aparece. A primeira vez que fui a Chicago já toquei com o Phill Guy, irmão do Buddy. Então só queria tocar com os profissionais. Bom, aí fiquei lá sentado vendo o show. De repente vem ele e me pergunta se eu queria tocar com o Buddy Guy. Eu falei: “Como assim? Claro que eu quero”. Ele me disse que teria de tocar baixo e não vai ter muito solo. Ele iria me chamar pra tocar e se o Buddy Guy gostasse iria levantar do balcão onde sempre ficavabebendo alguma coisa e iria tocar com a gente. Então ele me apresentou como um amigo do Brasil e começamos a tocar, chegou uma hora lá que baixamos a dinâmica e o Brother John chamou o Buddy Guy que subiu ao palco e começou a cantar, não tocou.

EM – O que foi que ele cantou?
AM –
Fez uma brincadeira dele, uma letra sobre mulher que ele fala: “One foot in the east, one foot in the west and I just right in the middle try to do my best”. Ele começa bem, baixinho e depois acaba aos gritos, foi massa, tenho fotos disso.

Em - Foi daí que saiu o convite pra abrir o show dele no Brasil ou foi você que se convidou?
AM –
Pedi pra minha assessora de imprensa descobrir quem estava trazendo o Buddy Guy. Sempre quem traz é o Herbert do Bourbon, mas dessa vez não foi, agora é um argentino. Então ela se apresentou e perguntou se eles estavam procurando uma banda de abertura, mas disseram que não. Ela insistiu e falou de mim e eles pediram o material e nós mandamos. Por sua vez, eles mandaram pra produção do Buddy Guy e eles já sabiam quem eu era. Quando foi na passagem de som eles vieram falar comigo. Primeiramente o show de abertura seria só no Rio de Janeiro, não sei o motivo, mas depois entraram em contato comigo perguntando se queria abrir o show de São Paulo.

EM – Legal isso. Como foi o lance do cachê, você recebeu ou pagou pra tocar?
AM –
Tive de bancar as passagens aéreas e van e tive de conseguir um som de palco, não podíamos usar o backline do Buddy Guy. Em termos de produção foi nosso melhor show, um roadie só pra gente, técnicos de som e de luz só pra gente, tudo organizado e perfeito a gente só teve de tocar.


EM – Nos teus discos você optou por colocar bastante soul e funk. Mas sempre tem um elemento brasileiro, ou seja, uma percussão diferente, um ritmo nordestino aqui e ali. Percebi que você não esconde as tuas raízes nordestinas mesmo tocando blues.
AM –
Não tem como esconder essa brasilidade e a minha é a música nordestina. Não é o samba e nem a bossa nova, apesar de ter esses elementos. Mas a música nordestina, através do Luiz Gonzaga, está muito enraizada na gente. Bacana você falar isso, porque todas as vezes que eu cheguei em Chicago os caras diziam que eu tocava o blues de forma diferente. Por exemplo, quando toco o blues aqui, penso que estou tocando do jeito certo. Quem é brasileiro pensa isso, mas quem vê de fora vê que nosso som é diferente. O que me fez fugir do blues tradicional no primeiro disco foi o seguinte, fui pra Chicago achando que só ia ver blues tradicional. Mas é muito difícil ver isso, qualquer bar desses que eu te falei eles misturam blues com rock, funk, soul, hip hop. Você vê os músicos velhinhos tocando com transmissor, no meio da platéia, estão renovando. Aí pensei, se os caras que são de lá não estão com esse tradicionalismo todo, porque eu que sou brasileiro tenho de ter?

EM – É curioso você falar isso, porque tem uns caras daqui que eu não vou citar nomes, que são xiitas. Um cara chegou pra mim dizendo que o Buddy Guy não faz mais blues, é comercial. Como assim? A música é dinâmica, a linguagem é dinâmica. Estamos em 2013 e não em 1913.
AM –
Acho engraçado não podermos inovar, misturar. Só que Muddy Waters e Little Walter inovaram na época deles. O Little Walter ligou a gaita no amplificador e o Muddy trocou o violão pela guitarra elétrica e isso hoje é o som tradicional. Na época não era. Adoro o blues tradicional, no meu show tem shuffle, slow blues, mas vai ter outros elementos que é o que eu gosto e acho que vale a pena. Não sou do time do blues que vai tocar de paletó, gravata e chapéu. Esse não sou eu. Gosto de usar bermuda, camiseta. Quando comecei a tocar usava bota, chapéu imitando o Stevie Ray. Mas nada contra que faz.      

EM – Percebo que você tem tocado bastante em festivais. Esse lance com o Buddy Guy te abriu as portas?
AM –
Claro que abriu portas, mas antes disso já estava rolando. Antes disso já estava programado pra eu tocar em Rio das Ostras, Sesc em São Paulo e em alguns festivais de blues. Foi uma série de fatores. Quando fui pela primeira vez à Chicago já teve isso, “pô, o garoto já tocou em Chicago”. Já abre uma curiosidade. Depois comecei carreira solo, deixei todas as bandas. É uma série de coisas que a gente vai fazendo. Por exemplo, estou envolvido no concurso pra tocar no Crossroads, o festival do Eric Clapton e está uma repercussão muito grande porque até agora estou em primeiro lugar na disputa. (O concurso terminou e Artur acabou perdendo pro guitarrista canadense Philip Sayce).

EM – E como é que é isso?
AM –
Já tem mais de mil e oitocentas bandas e eu estou em primeiro lugar no mundo inteiro. As cem primeiras pessoas a atingir os 100% na votação serão avaliadas pelo Paul Gilbert, o Blues Saraceno, o Peter Stroud e o outro cara eu esqueci. Só que os votos também contam, por exemplo, se eu estiver empatado com outro cara os votos da população contam para o desempate. Mas acho muito difícil ganhar, tem muita boa. Mas pelo menos está fazendo com que as pessoas saibam que eu existo.



EM – Quando você nasceu o Blues Etílicos e o André Christovam já estavam na cena. Então, podemos dizer que você é um “novato”. Como vê essa cena hoje?
AM –
Não vivenciei esse começo blues. Converso com o pessoal e todo mundo diz que era bom. Viajando pelo Brasil tenho notado os festivais de blues no nordeste, Piauí, Maranhão, Ceará, Pernambuco. Aqui no Ceará tem muitos festivais de blues. O de Guaramiranga está entre os grandes festivais do mundo. Quando toco no Rio quem faz a guitarra comigo é o Otávio Rocha que eu sempre fui fã e de quem assisti vídeo-aulas de slide. E também o Beto Werther na bateria. Logo que cheguei em São Paulo o André me dava uns toques de guitarra. Hoje a cena está voltando a crescer. Acho que o pessoal está começando a notar que a união faz a força. É melhor todos correrem atrás de um sonho do que cada um garantir só o seu, não é? Aqui em Fortaleza tem a da Casa do Blues, eu e mais dois músicos, o Roberto e o Leonardo, criamos uma associação e pagamos verba do estado e da prefeitura e levamos shows grátis para o público. Vamos para bairros bem distantes, em periferia, em terminais de ônibus. É muito bacana a gente vê que quando o pessoal se junta dá certo.

EM – Quais são as semelhanças e as diferenças entre o Early To Marry e o Artur Menezes 2?
AM –
A questão da maturidade. O Early to Marry foi meu primeiro disco cantando, estava bastante inseguro. O disco foi todo criado em estúdio, ia com as ideias e na hora gravava diferente, meio desorganizado. Mais ainda sim é muito legal, gosto do disco. O segundo foi gravado com preposição de sons, um estúdio melhor, masterizado e mixado com qualidade. Claro que houve modificações, mas chegamos ao estúdio com a matriz das músicas. Os solos eu sempre improviso, mas sempre chegava com uma linha de improviso. As composições estão mais maduras, dei uma misturada com outras coisas. Dessa forma a gente pode levar o blues para mais pessoas. Mas mantive a mistura de estilos de forma natural e não pensada. Muito influenciado pela música de Chicago, mas quando eu sento pra compor sempre sai uma mistura.

EM – Na tua opinião, a língua portuguesa é inimiga do blues?
AM –
(riso) Acredito que sim. Com todo o respeito a quem faz blues em português. Não que eu não goste, acho o Cazuza muito bom, mas pra mim aquilo ali é rock, pop. Porque se você vai compor o blues como ele é, uma frase, repete essa frase e depois responde, vai ficar pobre. A nossa poesia não é assim. A poesia brasileira é muito bem elaborada, não é curta, tem muita metáfora, figura de linguagem. Então se a gente pegar o blues e traduzir simplesmente, vai ficar pobre e até brega. E se a gente for compor blues em português como é a música brasileira não vai encaixar. Vai ter de mudar a harmonia, o tempo. Realmente é difícil. Eu quero cantar em português porque o meu trabalho não está mais só blues. Posso fazer uma coisa mais funkeada. Acho que vou fazer isso, mas não vou poder mais ser rotulado como blues. Mas também não tem problema. 

O Porto de Santos por Alessandro Atanes

 
Um livro que usa poemas, contos e romances como fontes de pesquisa para contar parte da História do Porto de Santos. Este é o caso de "Esquinas do Mundo: Ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos", que o jornalista Alessandro Atanes, mestre em História Social pela USP, lança em no dia 5 de abril (sexta-feira), às 19 horas, na Estação da Cidadania de Santos, na Avenida Ana Costa, 340, a antiga Sorocabana. O livro é publicado pela Editora Dobra com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Santos.
Dividido em 11 ensaios temáticos, o livro apresenta e analisa textos que têm o porto como tema ou cenário escritos por nomes da literatura universal como Guy de Maupassant, Pablo Neruda, Elizabeth Bishop, Blaise Cendrars e Jorge Amado, aos quais se unem autores como Rui Ribeiro Couto, Ranulpho Prata, Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade e os contemporâneos Madô Martins, Alberto Martins, Ademir Demarchi, Flávio Viegas Amoreira e Marcelo Ariel, entre outros.
Todos eles mostram o porto de Santos, cada um de uma maneira diferente, como um espaço que favorece narrativas como aventuras, histórias de chegadas e partidas, conflitos trabalhistas e ideológicos, mas também relatos de nostalgia de autores que acompanham o movimento de navios sem partir em nenhum. A exceção é Ariel, em que o autor analisa as relações entre História e Literatura em seu poema sobre o incêndio de Vila Socó, em Cubatão. É também de Ariel o texto que abre o livro. Como é comum que obras de ficção tenham uma introdução analítica, descritiva ou crítica, o poeta foi convidado para fazer o inverso, um texto de ficção que introduza os ensaios. Já a capa é de Raphael Morone.
De outra perspectiva, o livro busca ler o contexto em que os textos foram concebidos e como eles se relacionam ao longo do tempo entre si e com a sociedade em que foram escritos. Assim, os ensaios colaboram também para escrever uma História da Literatura escrita na cidade de Santos.
 "Nessa balança entre História e Literatura, busca-se nos textos ficcionais não a ilustração ou o reflexo dos fatos reais, mas uma configuração alternativa a eles, um desvio a partir do qual a realidade pode ser questionada e de onde o conhecimento histórico pode ser construído. Colocando de outra forma, a Literatura é vista aqui como forma de conhecimento sobre o mundo", destaca o autor.
Assim, a partir do porto de Santos, os ensaios vão se espraiando para outras esquinas do mundo e passam também pelos portos de Buenos Aires, Barcelona, Hamburgo, Nova York e São Petersburgo, sugerindo um parentesco entre as cidades portuárias.

O autor - Alessandro Atanes, nascido em 1973 em Santos. Cresceu entre os bairros da Vila Mathias, de concentração de pequeno comércio, e do Macuco, o bairro portuário da cidade, e gosta quando os apitos dos navios fazem vibrar os vidros das janelas. Estudou Jornalismo na Universidade Católica de Santos e começou sua atividade profissional em Cuiabá, Mato Grosso, onde se uniu à Márcia Rodrigues da Costa. É servidor público Secretaria de Comunicação do município de Cubatão desde 1999 e atuou como jornalista em jornais, TVs e no Terceiro setor.

Serviço
Esquinas do Mundo: Ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos
Quando: Sexta-feira, 5 de abril
Horário: às 19 horas
Onde: Estação da Cidadania, Avenida Ana Costa, 340, Santos