domingo, 27 de outubro de 2013

Morre aos 71 anos, Lou Reed, um dos músicos mais influentes do rock and roll

Um dos músicos mais influentes do rock and roll

O ano de 2013 continua sendo cruel com a boa música, Lou Reed, fundador do grupo nova iorquino Velvet Underground, morreu neste domingo, dia 27, aos 71 anos. A triste notícia foi dada por seu agente literário, Andrew Wylie.
Reed morreu em decorrência de problemas no fígado. Em março deste ano ele cancelou uma série de shows devido a complicações na saúde e em abril o músico submeteu-se a um transplante de fígado.
No início de junho, sua mulher, a musicista e artista Laurie Anderson, revelou que Reed estava se recuperando desde a operação, mas sugeriu que ele poderia nunca se recuperar totalmente. Para um jornal inglês, Anderson revelou que o estado de saúde de Reed era grave, mas que ele vem se recuperando aos poucos. "Ele estava morrendo. Eu não acredito que ele vá se recuperar totalmente, mas ele certamente estará de volta para fazer algumas coisas em poucos meses. Ele já está trabalhando e fazendo tai chi chuan. Estou muito feliz, é uma nova vida para ele", disse. Laurie Anderson se casou com Reed em 2008
Na época, o cantor, guitarrista e compositor postou a seguinte mensagem em sua página no Facebook: “Eu sou um triunfo da medicina moderna, física e química, sou maior e mais forte do que nunca. Meu tai chi e minha saúde têm me servido bem todos esses anos, graças ao Mestre Ren Guang-yi. Estou ansioso para voltar aos palcos, tocando e escrevendo mais músicas para me conectar com seus corações e espíritos".
Horas antes da notícia de sua morte, a página oficial de Lou Reed no Facebook divulgou a foto de uma porta com o pôster do cantor, com a legenda: "a porta".

Lou Reed and Nico

Biografia - Lewis Allan Reed nasceu em 2 de março de 1942, em Nova York (EUA). Fundou a banda Velvet Underground em 1964 com John Cale.
A banda, composta por Lou Reed, John Cale, Mo Tucker e Sterling Morrison e a cantora Nico, tornou-se um dos grupos mais influentes da história do rock e da música punk. Com David Bowie e Iggy Pop, ditou toda a estética do movimento.  The Velvet Underground, conhecido aqui no Brasil como o “disco da banana” veio com a capa desenhada pelo artista pop Andy Warhol.
O disco, lançado em 1967, tornou-se um clássico instantâneo com temas sombrios contrastando com as mensagens de amor da época, São ele, Heroin, Sunday Morning, Venus In Furs, I’m Waiting For the Man, I’ll Be Your Mirror e outras. O grupo implodiu-se com cada integrante seguindo sua vida.
Em carreira solo, Reed lançou discos que tornaram-se cultuados, como Transformer (1972), produzido por David Bowie, com as clássicas Walk on the Wildside e Satellite of Love, Vicious e Perfect Day. Berlin, que trazia Berlin e Oh, Jim. New York, com Romeo and Juliette, There Is No Time, Busload of Faith, Hold On e dirty Blvd. Em 2011, ele lançou o álbum "Lulu", em parceria com o Metallica.
Em 2010, Reed visitou o Brasil para promover seu livro Atravessar o Fogo, no qual fez sessões de autógrafos em livrarias, e também para apresentar o show do disco metal Machine Music, de 1975. Contraditório, o álbum trazia apenas quatro músicas, com cerca de 15 minutos cada, sem vocais e com distorções de guitarras. Em três meses, o disco foi retirado das lojas.
 
 Auto retrato de Andy Warhol
Os outros integrantes:
 
Nico - Em 18 de julho de 1988, Nico sofreu um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta em Ibiza e, na queda, bateu a cabeça. O motorista de um táxi que a encontrou inconsciente teve dificuldade para conseguir encontrar um hospital que a atendesse em Ibiza, pois Nico não tinha plano de saúde.
Sterling Morrison - Em 30 de agosto de 1995, dois dias depois de fazer 53 anos, Morrison morreu de um Linfoma.
Andy Warhol - Também um dos artistas mais influentes do século 20, o homem que forjou a frase “No futuro todos seremos famosos por 15 minutos” morreu em 1987, por complicações de uma operação na visícula. Reed e Cale gravaram um álbum em sua homenagem, Songs For Drella.

A Santíssima Trindade do punk rock, Bowie, Iggy e Reed



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Encruzilhadas musicais entre África, Brasil e Estados Unidos construirão a música do século 21


Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Samuel Macedo

As pontes históricas entre Brasil, Estados Unidos e o continente africano possuem muitas encruzilhadas. Essas, por sua vez, proporcionam encontros musicais naturais entre os povos que, separados pela geografia, compartilham a mesma origem.
O músico senegalês Mapathe Gaye, cujo nome artístico é Hampate, é um dos filhos da mãe África que veio ao Brasil fazer música e se encantar com o país do samba.
Em julho último, ele passou vinte dias no Brasil tocando e gravando com o gaitista Jefferson Gonçalves, sua banda e alguns convidados especiais: André Sampaio (da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, que já gravou no Mali); o baixista Arthur Maia (que já gravou com o Gilberto Gil na Jamaica); o percussionista Laudir de Oliveira (que gravou com o Chicago, Michael Jackson, Joe Cocker, Santana, Sérgio Mendes, entre outros) e Geraldo Júnior. Copiando o próprio Hampate, um verdadeiro melting pot.
Segundo Jefferson, todos chegavam a sua casa e ficavam por lá tocando, cantando, gravando. O resultado foi material para fazer dois CDs. “Escolhemos dez músicas, mas sobrou pra fazer mais coisas. Foi rápido, fizemos em dez dias. A coisa fluiu como se nos conhecêssemos há anos. Acredito que em outubro ou novembro já esteja pronto. Gosto de dar um tempo pra limpar o ouvido”, diz Jefferson.
Essa história começou quando Hampate conheceu, através dos irmãos Guissé, músicos do Senegal, a embaixadora do Brasil em Dakar, Katia Gilaberte. Inicialmente Hampate viria para gravar apenas uma música e conhecer alguns músicos, fazer uma troca de experiências, mas acabou que os músicos se juntaram para viabilizar o projeto de gravar um CD.
Os irmãos já haviam convidado Jefferson e Kleber Dias a ir a Dakar em outras ocasiões. A primeira em 2008, quando participaram do Senegal Folk Festival. A segunda pelo projeto Raízes, para tocar no festival e participar de oficinas de dança, gaita e lutheria.
O projeto Raízes Brasil-África foi desenhado por Katia Gilaberte e Jefferson Gonçalves no Senegal em 2008 com o objetivo de levar artistas brasileiros à África. Deu certo, sem patrocínio, simplesmente por amor à arte. Todos os músicos participam sem ganhar cachê, pois conhecem a realidade do projeto.
Paralelo à visita de Hampate, Jefferson lançou seu mais recente trabalho, o álbum Encruzilhada Ao Vivo, um petardo com quatorze músicas e um DVD.
Um dia antes dessa entrevista, aconteceu o show de lançamento com a presença de Hampate no palco, já apresentando músicas inéditas do trabalho de ambos. A banda de Jefferson é Kleber Dias (voz, guitarra, bandolim e violões), Marco Arruda (percussão), Fabio Mesquita (baixo), Marco BZ (bateria e matalofone).  
Segue entrevista exclusiva com o jovem senegalês que carrega consigo toda uma tradição cultural e a sua consciência.



Eugênio Martins Júnior - Gostaria que falasse sobre a música do Senegal. Sei que Dakar tem uma cena pulsante.
Mapathe Gaye
– Sim, há muita música no Senegal. O maior ritmo que temos lá é o Mbala. Mas temos muito mais ritmos. Temos 252 correntes étnicas no país e cada uma delas tem a sua música, o seu ritmo. Meu pai e eu pertencemos a uma corrente étnica chamada Fula. É uma etnia nômade e pode ser encontrada em todo o continente africano. E a música Fula é o início do blues. O blues nasceu no oeste da África. O povo Fula está espalhado pelo Senegal, Nigéria, Mali, Guiné-Bissau, Mauritânia. Minha mãe pertence à etnia Lebo de pescadores que vivem perto de Dakar. Eu nasci no centro do Senegal, onde há a etnia Serer que é semelhante à Fula. A diferença é a língua. E cresci no norte do Senegal, região que pode ser considerada um verdadeiro caldeirão étnico. Lá você encontra os Fula, Bambara, Soninké e outras etnias. Tive a sorte de crescer entre tantas culturas.

EM – Você recebeu todas essas influências culturais?
MG –
Sim, você pode achá-las em minha música. Essa colaboração com o Jefferson vem em boa hora. Tenho aprendido muito em minha estada no Rio. Em minha opinião, o futuro da humanidade vai depender dessa troca entre artistas e intelectuais. A mundialização chegou à cultura e a evolução da humanidade depende disso. Amo a música que o Jefferson faz, ele é um grande artista. Ele toca blues com sotaque brasileiro, mas mesmo o blues que vem do Mississippi pertence à África ocidental. Os fulas tocam blues em forma de fifes and drums.

EM – Conheceu os ritmos brasileiros nesse pouco tempo em que esteve no país? Foi a alguma escola de samba?
MG –
Antes de vir ao Brasil o único ritmo que conhecia era o samba. Mas quando estive no estúdio aprendi sobre o maracatu e outros ritmos do nordeste.

EM – Esses ritmos têm a mesma origem do blues, são muito percussivos e remetem diretamente à África. Em seu entendimento, onde é que a música brasileira se encontra com a música do Senegal?
MG –
Está correto. Muitos dos ritmos que ouvimos aqui e que foram trazidos pelos escravos não mudaram muito desde a sua origem. Eles incorporaram alguns elementos, mas continuam basicamente os mesmos. Penso que os tambores do Sabar que vem do povo Serer são bem parecidos. O Sabar também é tocado pelos Wólof. Na minha etnia, o Fula, há o ritmo chamado Yela que também é muito parecido com os ritmos brasileiros. Agora, as melodias são muito diferentes.  A música africana ocidental tem muitas melodias e harmonias. Há muita melancolia também.


EM – Melancolia é um dos significados da palavra blues.
MG –
Sim. Vê, as coisas têm continuidade.

EM – Você está no Brasil em um momento em que o país vive um grande tumulto nas ruas, principalmente aí no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo o Brasil está realizando um grande campeonato de futebol que precede a Copa do Mundo. Como você vê vai descrever isso ao voltar ao seu país?
HS –
É parecido com o Senegal e outras partes do mundo. E fui muito afetado por essa situação. Compus uma música sobre isso chamada Rio Shadows. Ela fala sobre as pessoas que lutam por uma vida melhor, por educação, saúde e contra a corrupção.

MG – Você gravou essa canção com a banda do Jefferson Gonçalves? Quanto tempo está trabalhando nesse álbum?
HS –
Sim, estará no próximo disco. Cheguei ao Brasil há vinte dias e estou indo embora hoje. Gravamos vinte músicas, algumas eu conheci quando cheguei ao Rio e compus outras aqui. Tive apenas dez dias no estúdio. Foi muito difícil pra mim ter de me concentrar, pensar nos arranjos, nas técnicas, em aprender sobre os ritmos brasileiros. Mas estava entre grandes artistas, muito boas vibrações. Compus quase todas as músicas do álbum, uma delas tem a parceria do Jefferson e outra do Cleber Dias. E uma que canto com o André Muato (composta por Renato Frazão).


EM – Você andou pelas ruas do Rio de Janeiro. Conheceu as garotas?
MG –
Sim, as garotas são muito bonitas. (risos). Mas andei pelas ruas e senti a cidade e dei um apelido ao Rio: a cidade pendurada nas montanhas (the town hung on the montains), porque é onde muitas pessoas constroem as suas casas. Mas eu gostei. Andei por lá e achei as pessoas no Rio muito amigáveis.

EM – Na próxima vez que vier ao Brasil você deve conhecer São Paulo também.
MG –
Pretendemos fazer uma turnê quando lançarmos o CD. Quero conhecer São Paulo, o Nordeste e Brasília. Acho isso muito importante. Não tenho essa informação, mas talvez essa seja a primeira parceria entre um artista do Brasil e um do Senegal. Graças a iniciativa de Katia Gilaberte, embaixadora do Brasil em Dakar em 2009.

EM – Você viu o jogo da final do campeonato, Brasil e Espanha? O que achou?
MG –
Vi alguns momentos e torci pelo Brasil. Ganhei uma camisa da seleção (risos).


EM – Você está numa busca de ritmos diferentes. Onde o blues fica nessa história?
Jefferson Gonçalves –
Eu toco blues. Nunca toquei imitando o Sonny Boy Willianson, Sonny Terry, Willian Clarke ou Litte Walter. Isso é deles. Sempre pensei em fazer um som com a minha assinatura musical. E eu não escuto só blues na minha casa, escuto de tudo. Desde o começo procurei fazer o meu som, sair dessa coisa que todo mundo quer tocar em um microfone bullet, amplificador valvulado. Sempre procurei timbres e sonoridades diferentes.

EM – Já que tocou no assunto, que amplificador você usa?
JG –
Tenho um valvulado Serrano e uso um AR feito na Alemanha pra violão. Como faço um som limpo, ele me ajuda nos efeitos na gaita. Não toco igual a um saxofone, faço uma onda mais percussiva. Nas gravações coloco um microfone de ambiência pra pegar o som da gaita mesmo.