sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Big Gilson, o selvagem da slide


Texto e foto: Eugênio Martins Júnior

Recém chegado de uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá, em setembro de 2009, Big Gilson se apresentou em Santos dentro da Mostra Blues, no Sesc. O evento, que aconteceu em três dias, recebeu ainda a Caviars Blues Band, Big Joe Manfra Blues Band e workshops com Rodrigo Moreno (gaita para principiantes) e Mauro Hector (guitarra blues).

O repertório do show contou com temas de seu mais recente trabalho, o CD Sentenced To Living, e clássicos do blues. Essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog foi concedida minutos antes do artista fazer um show eletrizante.

Nela o artista fala (pra caramba) sobre tudo relativo ao blues. A entrevista é longuíssima, mas, para nós, amantes do blues, é um deleite só. Confira.

EM – Fale sobre seu começo na guitarra e a banda Big Allanbik.
Big Gilson – Ouvi música desde cedo, meu pai sempre gostou de música instrumental, jazz e rock and roll, e quando ouvi um camarada chamado Johnny Winter foi realmente que resolvi tocar guitarra. Adorei ele tocando, já tinha ouvido muita coisa, mas nunca tinha dado a devida atenção. Nunca havia tido aquela vontade de querer tocar guitarra. Daí fui crescendo e tocando de forma autodidata, formando várias bandas no Rio, nem existia mercado de blues. Começou a ter um mercado de rock com o Rock in Rio, nos anos 80, embora não fosse o rock que eu gostasse, mas era também uma coisa nova, começou a fazer parte do contexto. Eu já era casado, parei de tocar guitarra um tempo pra fazer faculdade e pra mim tocar sempre foi uma coisa muito séria, não queria ser guitarrista de fulano ou beltrano como vários amigos meus estavam fazendo. Nada contra, só que não era a minha onda.

EM – Parou de tocar e depois?
BG - Vários amigos meus estavam empregados, com Ângela Rô Rô e nem me lembro mais quem era na época, vários artistas famosos. Mas eu sempre quis ter uma banda, aí entra em banda e sai de banda, participei de várias audições até que uma banda chamada Emoções Baratas, bem rock and roll, bem do jeito que eu queria e foi quando eu comecei a tentar ser profissional, fazer uma coisa mais séria. Até a mudança que acabou virando o Big Allanbik, que passou a ser uma banda somente de blues. Lançamos o primeiro disco em 1992, foi uma coisa muito rápida, com oito meses a banda já tinha um disco lançado. Na minha opinião, foi uma das bandas mais importantes do cenário, uma banda muito boa que durou seis ou sete anos, depois eu segui carreira solo.

EM – A banda acabou porque cada um foi para um lado?
BG – Mais ou menos isso, os interesses começaram a entrar em conflito, os objetivos. Eu já havia começado uma carreira paralela, a partir dessa época, 1991, 92 me dediquei inteiramente à música. Tinha filhos pequenos e tinha realmente de fazer grana, aí comecei uma carreira paralela para poder tapar os buracos na agenda do Big Allanbik. Também para poder fazer um blues tradicional, mais raiz, acústico. Eu e o Alan Green, que era o guitarrista do Big Allanbik, começamos a fazer esse lance paralelo, e a coisa foi indo. Fizemos uma jam session em estúdio que ficou bem legal e fechamos com a (gravadora) Eldorado, então a coisa caminhou muito forte. O Alan Green saiu do Big Allanbik eu não, fiquei até o final. A partir dali comecei carreira solo, em 1997.

EM – Inclusive viajando bastante para fora do país.
BG – Invisto na carreira internacional, porque acho o blues um mercado muito limitado. Procuro estar sempre por lá.

EM – Como você faz os contatos?
BG - No começo, na primeira vez que viajei para fora foi em 95 com o Big Alanbik, fui eu quem organizou a turnê toda, que era uma coisa mais de ego mesmo, queria me testar. Ver se ia agradar lá na terra dos camaradas que inventaram esse troço, porque a Europa é sempre mais aberta em termos de cultura de blues. Se eles iam gostar de mim, ou não. A resposta foi impressionante, neguinho gostou. Passei a ir sozinho também no mesmo esquema, sempre Estados Unidos. É um trabalho de formiguinha, um crescimento lento, mas é sólido. Onde passo os horizontes vão sempre ampliando. Já tenho dois CDs lançados nos Estados Unidos, tenho um terceiro agora, o Sentenced to Living, que iria ser lançado lá pela Top Cat Records, mas eu fechei com uma gravadora belga para lançar no mundo todo e eles fizeram questão que no contrato constasse o mercado americano. O pessoal da Top Cat ficou até chateado com essa exigência.

EM – Você acaba de chegar de uma turnê pelo Canadá e Estados Unidos, como foi?
BG – Fiquei quarenta dias viajando. Todas as minhas turnês são assim, fico fora um mês. O Canadá eu comecei a explorar o ano passado, o pessoal pensa que por a gente estar lá é um puta esquemão, mas não é, é uma puta ralação. Eu não era ninguém lá, comecei do zero, mas comecei a me destacar. Tinha um fã que conheci através da internet e que sempre me enchia o saco para ir (riso).
Sabe como é fã, às vezes o cara se empolga, chama pra fazer, mas quando chega a hora de fazer a produção a coisa acaba não rolando. Pô, o cara tinha todos os meus discos, sabia toda a minha história e toda a hora o cara mandava e-mail me chamando. Eu falei, quer saber, peguei um carnaval que geralmente a gente não encontra nada para fazer, tinha um monte de milhagem aérea e disse: “Olha cara, vou te dar dez dias para ficar aí e não quero gastar dinheiro, posso até não ganhar, mas não quero gastar. Você vai ter de me hospedar e me alimentar”. Ele perguntou se havia algum problema ficar na casa dele e eu disse que não. Resumo da história, em dez dias ele me arrumou 14 shows. Teve dois dias que eu fiz dois shows, três sets de uma hora, ralação. Então, em dois dias eu fiz seis horas de show em duas cidades diferentes. No final ele foi me levar ao aeroporto e pediu desculpa por alguma coisa, disse que não era profissional. E eu disse que se metade dos caras profissionais que trabalham comigo fizessem como ele eu estava feito.

EM - Essa foi da primeira vez e depois?
BG – Recebi um convite para voltar lá em abril, para abrir adivinha pra quem: Johnny Winter, meu maior ídolo, inclusive essa guitarra que eu vou tocar aqui é assinada por ele, depois eu te mostro. No primeiro set do meu primeiro show no Canadá, um puta produtor assistiu e quando eu fui ao banheiro ele foi atrás de mim e disse: “Adorei seu show, você faz umas frases diferentes e isso é muito difícil no blues porque todo mundo copia todo mundo. Vou trazer o Johnny Winter em abril, você quer abrir o show dele?”. Eu disse: “Espera aí, acho que o meu inglês está falhando, repete aí”. E ele repetiu. Eu falei que lógico que eu queria. Em abril eu voltei e ainda fiz mais dois shows pequenos.

EM – Conheceu o velhinho?
BG – Conheci, ele mandou me chamar. Ele mora no trailer e nem o produtor que pagou o show dele tem acesso. Ele é o maior louco, né? É recluso. Esse cara falou que ia tentar me colocar em contato com ele, mas não me garantiu. Quando estava no camarim após minha passagem de som, pensava como ia fazer para falar com ele. Aí o cara chega e fala que o Johnny havia mandado me chamar. Fui lá no camarim e ele foi super legal.

EM – Como está a saúde dele? Ele vinha ao Brasil em 2007, mas a turnê foi cancelada por problemas de saúde?
BG – Ele melhorou pra caramba. Mas cancelaram não por causa da saúde, foi por causa da metadona que ele toma. Mas dizem que ele conseguiu parar, quer dizer, está menos dependente. O show dele foi muito bom. Havia visto um show dele em Nova Iorque e tinha sido realmente muito ruim. Foi bom por ter visto a lenda, mas musicalmente falando, de olhos fechados, teria sido um show fraco. Mas o show do Canadá foi bom, consegue entender o que ele canta.

EM – Aí o Canadá se abriu pro blues do Big Gilson?
BG – Essa turnê do Johnny Winter foi em 2007, havia contratado uma banda de lá e os caras gostaram de trabalhar comigo e me convidaram pra fazer uma turnê em outubro e novembro, então fui pela terceira vez ao Canadá no mesmo ano. Nunca tinha ido pra lá. Aí meu nome ficou em evidência e um produtor me convidou para participar de um grande festival em um final de semana prolongado, em 2009, em uma cidade que fecha para o blues, são 70 shows em cinco palcos. Pô, toquei no palco principal e toquei um pouco antes da banda Cannead Heat, que tocou em Woodstock.

EM – O Al Wilson e o Bob Hite morreram, quem sobrou do Canned Heat original?
BG – Sobraram o baixista e o baterista, mas o guitarrista que está agora é uma lenda, o Harvey Mandel. Ele estava lá. Aí depois tocou o Elvin Bishop, o Tab Benoit, o Studebaker John, só fera. O nível lá é foda. Fizeram um CD promo do festival e fizeram questão de colocar uma musica minha, recebi um e-mail do chefão do festival agradecendo minha participação, fico muito feliz com esse reconhecimento.

EM - Dessa vez quanto tempo você passou lá na gringa? Onde você tocou?
BG - Foram 30 dias no Canadá e uma semana nos Estados Unidos. Foram 20 shows no Canadá. Nos EUA fui pra Dallas, fiz quatro shows. Geralmente são muitos shows, ano passado na Europa fiz 48 shows em 60 dias. Agora estou planejando uma mega-turnê de lançamento desse disco na Europa que nem sei quanto tempo vai durar. Já tenho certo uns dois ou três meses, mas a gravadora quer que eu fique mais, tá fazendo a maior pressão.

EM – Vai levar os músicos daqui?
BG – Não, pra economizar vou contratar uma banda lá. Queria muito levar os caras daqui. Os caras de São Paulo e os caras do Rio, mas mesmo estando num patamar melhor lá fora você continua tendo que economizar grana.

EM – Ainda é a mesma banda que tocou no festival de Rio das Ostras, em 2007?
BG – Não, é outra. Aquela banda tinha uns caras do Big Allanbik e acabou se tornando uma grande decepção pessoal. Minha banda atual é o Gil Eduardo, que foi o batera fundador do Blues Etílicos, e o Pedro Leão, que tocou no finalzinho do Big Allanbik, o último ano, fez algumas gigs e agora está direto comigo. Ele tocou n’O Rappa Acústico. E esses marginais de São Paulo, que eu adoro. (risos).

EM – Conta a história que você me contou em Rio das Ostras sobre a parceria com o The Wolf, e que acabou rendendo o disco Chrysalis.
BG – Aquilo foi engraçado. A esposa do Wolf fazia era a manager dele. Aí ela mandou o material do disco novo dele para um DJ lá no sul da Argentina. Não sei porque, acho que o cara era o meu fã, e perguntou se ela me conhecia, disse que eu era um puta blueseiro. Ela disse que não me conhecia e ele colocou a gente em contato. Eles nunca tinham vindo para a América do Sul e nem mesmo nos Estados Unidos. O The Wolf era amarrado em música norte americana, mas só tinha ido lá uma vez, e mesmo assim a passeio. Ele era louco para entrar no mercado de lá e eu louco pra entrar na Europa. Já havia feito uma Turnê grande na Espanha, mas só, não estava dando certo. Resolvemos juntar as forças, ele me ajudar na Europa e eu ajudar ele lá nos Estados Unidos e aqui no Brasil. Gravamos um disco que foi lançado só na Inglaterra chamado Bring It Back Home, depois gravamos o Chrysalis porque uma gravadora americana havia se interessado e queria um disco numa onde de uma banda chamada Delta Moon. Os caras ouviram o Bring It Back Home falaram que aquilo ia acabar ficando em um gueto do blues. Mas tinha uma música lá que os caras achavam que vendia e disseram pra gente fazer um disco naquela onda. Música para tocar em FM, mas que não seja uma música imbecil. Aí deram o exemplo da Delta Moon, que já era uma banda que eu gostava.

EM – Quem fez o que no Chrysalis?
BG - Eu compus a maioria das músicas, já com uma direção e com prazo, funcionou muito bem assim. Preparei o disco, mandei para ele (The Wolf), a mulher dele fez as letras e ele veio ao Brasil gravar com a gente, gravamos lá no Rio. O triste da história é que logo depois dessa gravação fizemos uma turnê lá nos Estados Unidos, ele ficou amarradão em Nova Iorque, tocamos no Bamboo Room, onde eu gravei um CD. Quando ele voltou para a Inglaterra teve um ataque cardíaco fulminante no aeroporto de Heathrow e morreu, nem chegou a ver o CD pronto. Eu nem ia lançar esse CD, mas o pessoal achou melhor lançar em sua homenagem. Fiquei tão arrasado, a coisa com ele estava pegando o fogo, então a gente tinha uma mega-turnê na Europa, uma turnê no Brasil, na América do Sul e foi tudo cancelado. Fiquei seis meses sem trabalhar, sem cabeça. Queria desistir de ser músico, fiquei pirado. O negócio foi muito forte pra mim. Nunca havia perdido alguém que havia trabalhado comigo. Eu o conhecia há tão pouco tempo, mas parecia que conhecia há cinquenta anos. Conhecia o cara há um ano e meio, mas tinha uma afinidade muito forte e ele confiava totalmente em mim. Eu fico até arrepiado, tenho procurado não falar muito nisso, tenho colocado de lado.

EM – E depois?
BG – Ainda fizeram um show tributo na Inglaterra e a mulher dele me chamou, foi foda tocar com a foto dele em cima do palco, com vários músicos que participaram da carreira dele. A mulher dele que sempre foi uma mulher forte, bem dizer, o homem da casa, ele sempre foi o malucão, o artista, foi a primeira vez que ela chorou e nos abraçou, ela já é uma senhora, né? Quando eu fui embora, entrei no taxi para fazer um show em um outro pub, veio toda uma música na minha cabeça, vou tocar ela aqui hoje, a primeira que eu toquei na passagem de som, uma balada. (It’s Hard to Say Goodbye). Foi a última vez que eu vi a mulher dele viva. O trajeto tinha menos de cinco minutos e a música veio toda em minha cabeça. Quando cheguei ao pub os caras começaram a falar comigo eu pedi um violão subi para o segundo andar e escrevi a letra, só não tinha os acordes. Faltava uma frase que eu não conseguia fazer, aí conversei com o faxineiro que era meu amigo, às vezes eu dormia nesse pub, o que havia acontecido e tudo. Ele me respondeu que o que eu tinha de fazer era continuar a tocar a minha guitarra e essa frase fechou a música.

EM – A mulher dele morreu logo depois disso?
BG – Acho que um ano depois. Ela apareceu com câncer no pulmão, ela nunca fumou. Quando Soube foram só dois meses.

EM – Não brinca?
BG – Foram duas perdas muito difíceis. Já havia perdido parentes, mas ligados à música, que é um negócio muito sério pra mim, nunca, foi a primeira vez. Fiquei mais de um ano pensando neles e chorando todos os dias. Daí fui lutando contra isso.

EM – Vamos tornar a conversa mais leve. Você usa bastante a slide, o que não é muito normal entre os brasileiros, não é verdade?
BG – Adoro slide. Pra mim é uma coisa muito natural. Até fiquei uma época sem tocar muito, porque fiquei meio puto, as pessoas diziam que eu só tocava slide. Aí eu falei que sei tocar sem slide também. Não adianta acho que toco bem sem slide, mas é com ela que eu faço a grande diferença. Sempre que eu vou tocar com os feras lá fora, que eu sei que o buraco é mais embaixo e u vou de slide que sei que me dou bem. (risos). Na slide eu apavoro, boto pra foder em cima dos caras. (risos).

EM – Conta a história do CD gravado no Blue Note. Como foi?
BG – Foi outra parceria. Sempre tive isso bem claro, porque é muito difícil para um brasileiro entrar no mercado americano sozinho. Tem muito preconceito, eles se acham os donos da música. Então, consegui fazer uma parceria com um gaitista americano chamado Bruce Ewan. Ele já tinha uma parceria com o André Christovam, aí eu trouxe ele para cá e ele agitou para mim lá e eu já tinha também uma entrada no Blue Note por causa do Big Allanbik, propus aos caras e acabamos gravando lá com um puta estúdio móvel usado pelo Jerry Lee Lewis, Eric Clapton, Allman Brothers, fez trabalho para a rede CBS. Esse equipamento é usado nesses programas tipo Jô Soares e tal, com bandas tocando na televisão, por isso que a qualidade é boa, foi aí que eu descobri. Aquilo é gravado, mixado e masterizado antes de ir ao ar. É uma gravação de disco, você está ouvindo um disco.

EM - E a história do Sentenced to Living, pra mim é um disco de protesto, procede?
BG – É, ando meio puto com o mundo, tanta guerra, tanta injustiça social, tanta roubalheira, miséria. Tenho andado meio triste com isso daí resolvi fazer várias músicas com esse tema. O próprio título “Condenado à Vida”, já é um aviso. O bebê da capa sou eu mesmo fumando meu primeiro cigarro com seis meses, meu tio que me deu. Não tem fotoshop, a foto é real. Mas eu nunca curti cigarro.

EM – Esse CD é mais rock and roll que os outros.
BG – É, porque quando eu comecei a carreira solo, focada muito nos Estados Unidos, que não tinha mais entrada pra mim, eles são muito mais puristas, principalmente se você não for americano. Quando eu mudei de guitarra, sempre toquei de Gibson, mudei pra Fender aí a coisa já muda de figura. Mudei para a Fender para parecer menos rock and roll, fiquei focado no blues. No Sentensed to Living eu liguei o foda-se pra tudo, agora vou fazer o que eu gosto que é o blues com pegada rock, mais moderna e que é o que está acontecendo lá fora. Então comecei a fazer o que eu faço melhor. Adoro tocar o blues de raiz, mas hoje em, dia adoro tocar um blues mais rock and roll. O Sentenced é bem isso, bem cru, as cordas são todas cordas velhas. Não usei nenhum pedal de efeito, é tudo amplificador no talo, me custou dois jogos de válvulas. As válvulas gastaram todas. O disco está bem honesto, fiz o disco pra me agradar. Pra ouvir e ficar feliz, pro meu gosto pessoal, mesmo. Ele me satisfaz em todos os sentidos.

EM – Qual foi a tua maior emoção no blues?
BG – Como eu te falei, tive a sorte de viver tantos momentos legais, esse lance de abrir para o Johnny Winter. Depois que eu falei com ele, pra você ter uma idéia, tive 39° de febre. Comecei a tocar por causa dele, tenho todos os discos, acho que tenho, tenho até uma vídeo aula, muito tosca, muito engraçada.

EM – E qual foi o show inesquecível que você assistiu?
BG – Já assisti muito show, mas gosto de gente que inova tem um cara chamado Ian Siegal, ele consegue tocar um slow blues que não é slow, consegue tocar um shuffle que não é um shuffle. Toquei duas levadas na passagem de som assim. Então tu vai ouvir não é uma levada de slow blues, principalmente a batera. E os caras são assim muito criativos.
Tem o Ian Parker também eu cheguei abrir show dele na Inglaterra. O Parker é mais pop, boa pinta, faz pose e tal. Mas toca pra caralho, fizemos um show num lugar grande. Na semana seguinte tocou a Amy Winehouse e também a banda do Clapton sem ele, com Andy Fairweather Low, o baixista, o baterista. O lugar era foda, tenho o apoio dos amplificadores Marshall, então eles me deram um amplificador direto da fábrica, aí passei o som, tudo bonito, começou a primeira musica e eu fazendo a base, mas quando fui entrar no solo pifa o amplificador. Porra, fiquei puto, o lugar cheio, lugar maior responsa e eu com a cara de bunda. Aí mexi em cabo, não era nada, não sabia que era o amplificador. Falei com o road manager do Ian Parker e pedi para ele me emprestar o ampli pra eu terminar de fazer o show, disse que não ia mexer nem nos botões, que eu tinha os meus pedais. O cara foi lá e falou com o Ian e ele disse que podia mexer nos botões e tal. Então esse foi um dos shows que me emocionou, que eu achei a atitude co cara legal e o show dele é muito bem montado.

EM – Já que você falou no assunto, qual é o teu equipamento?
BG – Cara, tenho uma porrada de guitarras. Amplificadores eu gosto dos Fenders, tenho um Pro-Reverb 64, que é foda, nunca vi um amplificador como esse e tenho um Bassman também. Mas eu gosto dos Marshall Bluesbreaker também, que é baseado no Bassman. Esse ampli que eu estou com ele é uma evolução dele, é o Modern Vintage, que tem um som bem moderno, tanto que eu não uso pedal nenhum, só a guitarra direto no ampli. Como agora eu tenho o apoio da Marshall, estou usando muito ele. Guitarras tenho uma Strato, que eu chamo de Nikita, é uma reedição da 54. Tenho uma Gilsonator, que uma Resonator que eu desenhei. Essa (mostra a guitarra) vem de um luthier do Canadá chamada Frankenstein, o nome é horrível. Ele mistura pedaços de guitarras, ele gosta de fazer essas coisas. Me fez uma SG branca que eu deixei no Canadá para não ter de carregar. Uso duas guitarras para slide com afinação aberta. No disco eu uso mais, usei uma Fender Squier que eu gosto muito, tenho uma Les Paul 72. Tenho violões, tenho outra Resonator. Não sou colecionador, não. As coisa que eu tenho eu uso.

EM – Uma pergunta que eu faço a todos os músicos de blues Brasileiros. O que você acha da cena nacional?
BG – Duas coisas. Tem muita banda, mas não de qualidade. É aquele negócio, o cara pode não ter tempo para se dedicar tanto, é difícil viver de blues. Às vezes nem é falta de talento, é falta de tempo, pesquisar mais, ir mais fundo na história. Então acho que apesar da quantidade grande, há poucas bandas boas. Por outro lado outra coisa contribui para isso que é a falta de casas noturnas. Temos os Sescs os festivais que pagam uma graninha decente, mas você não consegue fazer Sesc toda a semana nem tocar em festival. Não tem casas para te segurar. Lá fora são quatro shows legais, grandes, mas o resto é casa noturna, é ralação. Não tem road, tem de carregar os equipamentos, são três sets de uma hora, até P.A. a gente tem de carregar, mas olha só, tem lugar para tocar, você consegue se manter. Quando a gente começou com o Big Allanbik, em 1991, 92, havia várias casas no interior. Hoje eu vou muito pra fora. No começo eu ia mesmo para me testar, mas agora é uma questão de sobrevivência, se eu não for para lá tocar eu vou fazer outra coisa, vou vender laranja na feira.

EM – Cita as bandas que você gosta no Brasil.
BG – Vou falar só dos guitarristas. Tem um cara que eu gosto muito que é o Otavio Rocha, meu camarada, o Fernando Noronha, que foi um cara que eu lancei quando tinha selo. Gosto muito do Marcos Otaviano, Álvaro Assmar, o Igor Prado que eu não conheci pessoalmente e nem tanto trabalho dele, mas o pessoal fala muito bem dele. Só vi um show com ele, mas achei legal. O Nuno é muito bom, tem nível internacional.

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