sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Badi Assad em Wonderland (29/04/2006)


Entrevista: Eugênio Martins Júnior

Essa entrevista faz parte de uma série que fiz para um jornal de Santos onde trabalhei. Resgatei algumas nos meus arquivos e resolvi reproduzir aqui no Mannish Blog.
A data acima é de quando foi publicada, portanto, é um retrato da época. E o título também é o original do jornal.

A cantora, compositora e violonista Badi Assad traz toda a sua energia, criatividade e sensualidade ao teatro do Sesc, nesse domingo, dia 30, às 20h.
A apresentação marca o lançamento de Wonderland seu novo CD, produzido por Jacques Morelenbaum e com as participações de Seu Jorge e Elisa Lucinha que recita um fragmento da poesia Libração, em A Banca do Distinto, de Billy Blanco.
O CD tem ainda Acredite ou Não, de Lenine e Bráulio Tavares; Black Dove, da norte-americana Tori Amos, que versa sobre o estupro, e Vacilão, de Zé Roberto, famosa na voz de Zeca Pagodinho, sobre o alcoolismo.
Após o exito de Verde, lançado em 2004, Badi, que foi considerada a melhor violonista do mundo pela revista Guitar Player, se aprofunda no seu lado cantora em Wonderland. Ao que parece o caminho é só de ida.
Em Santos ela se apresenta com Décio 7 (percussão), e com o grego Dimos Goudaroulis (violoncelo). Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00.

Eugênio Martins Júnior  - Gostaria que contasse como foi o começo de sua carreira.
Badi Assad – Comecei aos 14 anos de idade, seguindo os passos do Sérgio e do Odair (irmão de Badi, integrantes do renomado Duo Assad), na música erudita, mas aos 19, 20 anos descobri que não era a minha. Usei tudo que sanbia para fazer música popular e depois passei uma época fazendo experimentações com a voz, violão e percussão.

EM – Quando e como aconteceu de você ficar conhecida internacionalmente?
BA – Gravei uma fita demos e queria apresentar em alguma gravadora, mas era uma dificuldade para conseguir falar com as pessoas aqui no Brasil. Acabei entrando em contato com uma gravadora nos Estados Unidos e em duas semanas já estava com um contrato para três discos que não saíram por aqui. Acabei morando naquele país entre 1997 e 2001. Por contrato, a minha nova gravadora, a Deutsche Grammophon, passou a lançar os meus CDs no Brasil, aconteceu com o Verde e o Wonderland.

EM -  Em um país com grandes violonistas, quais as suas influências? E não vale citar o Sérdio e o Odair.
BA – (risos) Ulisses Rocha, Marco Pereira, Rafael Rabelo, Baden Powell, Egberto Gismonti, todos esses músicos. Grande parte do meu trabalho é de música instrumental.

EM – O seu estilo é incomum, como eu disse anteriormente, O Brasil é um país de grandes violonistas, você sentiu necessidade de fazer alguma coisa diferente nesse sentido? Como forjou essa maneira toda especial de se apresentar?
BA – Aconteceu naturalmente porque eu sempre cantei, mas não profissionalmente. O uso da voz ampliou muito o meu horizonte musical. No Wonderland exercito meu outro lado que é o teatral e que também gosto muito. Por exemplo, se canto uma letra que tem certa ironia, eu sou a ironia em pessoa em cima do palco (risos).

EM – Como foi gravar o disco Three Guitars com o Larry Coryell e John Abercombie?
BA – Nós tivemos os papéis definidos, o que deu um certo equilíbrio. O meu violão serviu de base e minha voz é que acabou entrando como improviso, virando o quarto instrumento. Já na parte instrumental, o improviso ficou por conta dos dois.

EM – Fale um pouco sobre o Wonderland. Quais as diferenças e semelhanças entre ele e o Verde?
BA – Quem acompanhou a minha carreira sabe que os meus trabalhos passaram por um processo evolutivo. Do Verde pra cá houve uma certa maturidade, principalmente na minha voz. No Verde, cada tema levou um tratamento diferente. No Wonderland o disco ganhou uma unidade, tanto pela temática, como pelos arranjos.

EM - Por quê esse título?
BA – O repertório parece leve, alegre e cheil de suingue, mas se você olhar de perto os temas são pesados e é exatamente o que acontece em Alice in Wonderland, a história de Lewis Carrol. Aparentemente Wonderland é um paraíso alegre e sem problemas, mas na realidade abriga um bando de doidos.

EM – Gal Costa e Zélia Duncan me falaram sobre a dificuldade que é escolher repertório para um disco. No seu caso, sendo brasileira, mas antenada com o que acontece no mundo, é difícil montar um?
BA – Sou cidadã do mundo e pra mim não existe diferença entre música brasileira e internacional. Elas têm a mesma medida. Tenho uma carreira internacional e é um prazer cantar em inglês para plateias internacionais. Espero que para eles também seja um prazer.

EM – Como está a tua agenda?
BA – Esta preenchida até 2008 (risos). Em julho vou para os Estados Unidos e depois para o festival de jazz de Montreal, no Canadá. Volto ao Brasil e outubro, depois lanço o Wonderland nos Estados Unidos e em novembro Europa.

EM – Além das músicas desse CD o que mais vai tocar?
BA – Duas músicas do Verde e alguma coisa inédita em disco que é surpresa.

EM -  O que lhe interessa na música brasileira hoje?
BA – Com essa séria de shows não tenho tempo nem para respirar, mas sou fã incondicional do Lenine, Chico Cezar e da Zélia Duncan.




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