sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pela primeira vez na história desse país um blueseiro brasileiro grava dois discos seguidos na terra do blues

  

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Divulgação e Straub Studio

O cara é responsável por um feito e tanto: em dois anos gravou dois discos em Chicago com os caras de lá. É o Primeiro blueseiro brasileiro a ter esse privilégio.
Claro, não foi nada por acaso. As produções de Chicago Sessions Vol. 1 e Vol. 2 custaram perseverança, o que não falta em Ivan Marcio, e grana própria, problema de qualquer músico que se propõe a tocar blues no país do samba.
Nessas horas, ter bons contatos faz a diferença. No primeiro trabalho Ivan contou com a parceria do baterista Merle Perkins que esteve no Brasil em 2006, tocando com o Eddy Clearwater no Rio das Ostras Jazz e Blues.
A amizade se consolidou e o projeto de produzir um disco na gringa também. Na Meca do blues, foram quase trinta dias tocando em bares e no mais famoso festival de blues do mundo, o Chicago Blues Festival.
Da segunda vez, muito mais esperto, não só gastou menos, como ganhou dinheiro em gigs na Wind City. O segundo disco veio em parceria com Jon McDonald, guitarrista que acompanha Magic Slim há alguns anos. De quebra, conseguiu com que Jon produzisse e cantasse no CD acústico.
Os “Chicago Sessions” têm pegadas diferentes. O primeiro, com banda de músicos malacos de lá – Michael Coleman e Michael Morrison – é todo com clássicas escolhidos a dedo: Need My Baby (Big Walter Horton), Help Me (Sonny Boy Willianson), Blues With A Feeling (Little Walter), Messin’ With The Kid (Junior Welles), além de G.A.B.I.’s Shuffle, de sua autoria.
O dois também vem recheado de clássicas, mas a escolha foi em dupla, com Jon McDonald que canta nas faixas Key To The Highway, For Women In My Life, Come Back Baby, Little Red Rooster e Walking By Myself.
Sobre o começo da carreira, sobre o blues no Brasil, sobre gravar em Chicago, sobre discos de blues: Ivan Márcio falou exclusiva ao Mannish Blog no domingo em que se apresentou na décima edição do Encontro Internacional da Harmônica, no Sesc Pompéia. Acho que foi no dia 20 de março!

Eugênio Martins Júnior – O teu primeiro disco, o Chicago Blues Sessions Vol. 1, foi gravado em Chicago e com uma banda de gringos, como surgiu essa oportunidade?
Ivan Márcio – Desde quando comecei a estudar gaita foi ouvindo o Chicago Blues. Havia uma série de discos, da Atlantic Blues, com os guitarristas, os vocalistas, que é uma coleção muito bacana. Existe o blues de New Orleans, o blues da Califórnia, mas o que mais me agrava era o Chicago Blues, isso aos 14, 15 anos. A minha primeira banda foi de Chicago Blues, caras como Muddy Waters, Otis Rush e John Lee Hooker sempre estiveram presentes no repertório. Então, a relação de custo benefício entre gravar em São Paulo ou gravar fora, pra mim, ficou muito melhor. Porque não fazer lá fora? Tudo isso surgiu da amizade com o Merle (Perkins), que tocou com Buddy Guy, Junior Wells, Eddy Clearwater, Junior Parker, um cara vivido dentro da escola do blues, ele me disse: “Porque você não vem gravar aqui? Eu te apresento alguns músicos e nós gravamos”. A gente começou com esse projeto, de 2006 até o começo de 2008 foi toda a preparação para a gravação.

EM – E como foi a preparação?
IM – Ele me ajudou no repertório, contratou os músicos e o estúdio. Na primeira quinzena de junho de 2008 fui pra Chicago, toquei com eles em alguns bares para pegar o ritmo de jogo e entramos no estúdio da Delmark Records. Como a Delmark é um selo não pude usar o nome, mesmo tendo o comprovante de pagamento do Bob Koester que é o fundador. Ficou em nome da Riverside Studios. Mas foi um sonho, no final acabei gravando com o Merle Perkins, na guitarra é Michael Coleman, que toca com o James Cotton desde os anos 80, e o Michael Morrison que é baixista e que foi integrante da banda de Willie Dixon, no final da carreira deste. O Dixon não tocava mais contrabaixo, só cantava. É um time de primeira na cena de Chicago e são pessoas mais vividas. Foi uma baita de uma realização de um brasileiro. Creio que tenha sido o primeiro gaitista brasileiro a ter ido a Chicago gravar um disco dedicado a esse estilo.

EM – Como começou a amizade com o Merle Perkins?
IM – Foi no festival de Rio das Ostras. Toquei com a Prado Blues Band e ele com o Eddy Clearwater. A gente acabou fazendo amizade no hotel. Ele tinha um show aberto em São Paulo e no final das contas eu acabei ciceroneando, fomos passear no Parque Ibirapuera, Liberdade, Centro de São Paulo, um passeio de paulistano. Ele disse que São Paulo é Chicago além, porque ficou impressionado com o tamanho. Ficou impressionado com as classes sociais. Ele também ficou surpreso de o blues ser uma música popular nos Estados Unidos em aqui ser uma música para a elite. Isso, a um certo ponto o incomodou. Ele queria fazer um show mais dançante. Lá nos Estados Unidos as pessoas dançam, o blues é música de bar, para ser dançada. Aqui não, as pessoas apreciam tomando uísque caríssimo, aquelas coisas, e ele ficou impressionado de como um país como o nosso possui essa barreira elitista. O blues deveria ser uma música popular, mas infelizmente não é.

EM – Como foram as sessões? Um branquelo chegando em Chicago sem conhecer os caras...
IM – O Coleman conhecia por vídeo. Os dois discos foram gravados ao vivo em uma sessão. Gastamos seis horas no estúdio e escolhemos dez “takes” das melhores músicas, tenho inclusive músicas inéditas, guardadas. Mas são músicas que ficarem incompletas, às vezes os solos de guitarra ou de gaita não ficaram legais. O mais bacana é que todos participaram intensamente do projeto. Não foi algo que só eu mandava na produção, todos me ajudaram a escolher o repertório, como ia ser o andamento dessas músicas e também o processo de gravação.


EM – Então foi mais fácil você ir gravar em Chicago do que gravar aqui? Saiu tudo do teu bolso?
IM – Uma parte foi do meu bolso, a gravação todo o período que passei em Chicago. A passagem aérea foi paga por uma fábrica de instrumentos que me patrocina. Coincidiu de ter uma feira de música em junho em Nashville e eu ia participar, a Namm Summer, uma das maiores do segmento de instrumentos musicais. Então, como eu estava nos Estados Unidos, acabei saindo de Chicago e indo para Nashville. Foi um bom suporte, mas lógico, se formos calcular quanto eu gastei em pagamento de músicos, estúdio. Tocar com pessoas conhecidas na cena do blues elétrico, não tem preço.

EM – Se fosse aqui teria gravado com músicos brasileiros?
IM – Lógico que aqui eu teria gravado com músicos amigos. Não ia ter uma surpresa como essa.

EM – Quanto tempo você ficou em Chicago para viabilizar esse projeto?
IM – Dentro do que estava planejando a idéia era me ambientar ao local. Nunca havia viajado para o exterior, era a minha primeira vez. Achava que era o mais importante. Acabei ficando 15 dias para gravar. Fiquei conhecendo as pessoas, tocando pelos bares e fizemos a gravação em um dia. Na verdade foram 15 dias curtindo e um dia de trabalho. Fiquei um mês lá.

EM – Fez o circuito de clubes?
IMToquei com o pessoal no Buddy Guy Legends, no Kingston Mines, no B.L.U.E.S., no Rosa's, no Lilly's. Consegui participar do palco Juke Joint no Chicago Blues Festival. É bem bacana, no Grand Park. E ali você vê um festival gigantesco, são sete palcos, das 10 da manhã às 9 da noite.

EM – Quem você viu, ou melhor, ouviu lá?
IM – Vi John Hammond, Pinetop Perkins (falecido recentemente http://mannishblog.blogspot.com/2011/03/uma-vida-dedicada-ao-blues-morre-aos-98.html), Big Eyes Smith, Sam Lay, KoKo Taylor, James Cotton, Johnny Winter, Eddy Clearwater, B.B. King, o pessoal que acompanhou o Howlin' Wolf por um bom tempo, muita gente.

EM – Desculpa estar insistindo nessa questão, mas é que me chamou muito a atenção esse lance de você falar que custa mais barato gravar um CD lá em Chicago do que aqui em São Paulo? Quanto exatamente você gastou no final das contas?
IM – É tudo uma questão de orçamento. O que você quer fazer. Eu, por exemplo, fui sem nenhum luxo. Dormia em albergue, comia fast food todos os dias, gastava em refeição por dia cinco dólares, comia muito mal. Não pagava entrada nos bares porque ia sempre acompanhado pelos músicos. Gastei entre estúdio, músicos, hospedagem e impressão do CD, uns seis mil dólares. Comecei com cem discos impressos e até hoje faço isso, vendo cem e mando imprimir mais cem. Devo ter vendido uns setecentos discos em show.

EM – E esse segundo disco, o Chicago Blues Sessioss Vol. 2, quando começou essa outra odisséia?
IM – A idéia era mesmo gravar um volume dois em Chicago. Acabei ficando doente em agosto de 2008. Fui diagnosticado com a doença de Chron, uma doença meio chata no intestino. Fiquei parado de agosto de 2008 até o começo de 2009. Ou seja, fiquei sem trabalhar, inclusive tive a força de muitos amigos que me ajudaram. Gastava em medicamento 1.500 reais por mês. Hoje está tudo estabilizado, mas fiquei um bom tempo sem trabalhar. Com isso tive tempo de planejar algumas coisas. Uma pessoa que me ajudou bastante foi o Giba Byblos, que tem um blog bem legal também, ele tem uma grande amizade com o Jon McDonald e sugeriu a gravação. Ele me passou o contato e o Jon e eu começamos a conversar por e-mail e do mesmo jeito que com o Merle, fizemos todo um planejamento. Só que dessa vez o Jon caiu de cabeça na produção. Ele falou que ia me produzir, então já foi um presentão ele assinando como produtor. A minha idéia era gravar um disco acústico e com clássicos do blues, no mesmo segmento do primeiro. Ele topou e me deu outro presente, cantar no disco. Além de ser um grande guitarrista e produtor é um ótimo cantor. Dentro das músicas que eu tinha como opção, ele ajudou a escolher algumas. Cheguei a Chicago em junho de 2010, nesse caso comprei a passagem. O custo foi menor do que o primeiro disco por ser um músico apenas, o estúdio também foi mais barato. O engenheiro de som e o irmão trabalham na parte de áudio do programa da Oprah Winfrey, então têm um gabarito legal. Acabamos fazendo um esquema diferente porque o estúdio deles é no porão da casa, mas lá a acústica não era muito legal. O Jon pediu para gravar em cima, na casa. Os caras aceitaram e subiram com todo o equipamento e fizemos a sessão na sala. Temos fotos onde aparece a cozinha com gente fazendo café e tal. Foi um clima muito caseiro e a gente acabou fazendo com mais calma. Eu também estava mais maduro, na relação com os músicos de lá, com o pessoal. Alguns termos de gravação completamente diferentes. Aproveitei muito mais a sessão. E fiz a mesma coisa, fiquei quinze dias revendo alguns amigos, tocando. Cheguei a Chicago às oito da manhã e o Merle já estava no carro me esperando para a gente viajar quatro horas e meia, até Kansasville.
Em vez de gastar dinheiro, acabei ganhando um pouco. Com esses shows consegui almoçar e jantar decentemente. Então é como eu falo, é possível gravar um disco fora, mas a gente não pode ter o mesmo luxo que temos no Brasil. Eu rodava quarenta minutos de trem pra chegar a um bairro mais pobre, onde pagava dez dólares e comia à vontade.

EM – Você chegou a ir na Maxwell Street?
IM – Sim, pra mim foi um sonho. Essa camisa eu paguei dois dólares na Maxwell Street (risos). Atualmente a Maxwell é um quarteirão. Virou uma rua histórica e a feira é em outra rua, dominada pelos mexicanos, porto-riquenhos, eles têm uma feira que vende coisas usadas, não mais o que era antes. Tanto que a banda toca em frente uma placa dizendo: “Vamos salvar a Maxwel Street”, os turistas vão lá e colocam uma gorjeta pra ajudar a fundação deles. É legal, mas a gente vê que não é a mesma experiência como é no filme Os Irmãos Caras de Pau (The Blues Brothers), já não é mais aquilo. Hoje ela é voltada para o público latino.

EM – Você foi na Chess Records?
IM – Hoje é um prédio comercial, mas a porta é a mesma. O Merle mandou eu abrir a porta e eu não tinha me ligado. Aí eu entrei e tal, aí ele me mandou sair e depois me falou que a gente havia acabado de entrar e sair da Chess.

EM – Quando foi a primeira vez que você ouviu um Blues?
IM – Foi Elmore James, acabei comprando o disco por engano, pois queria comprar o disco do Menudo (risos). Brincadeira, eu era rockabilly, tinha meus treze anos, usava aquele topetão, jaqueta de couro...

EM – Curtia Kães Vadius?
IM – É então, eles são do ABC, minha região. Ia muito a um sebo para fazer troca por discos de rockabilly. Aí vi um negão na capa com um violão. Comecei a ouvir os riffs, principalmente de Dust My Broom, fiquei impressionado. No final das contas um amigo apareceu na roda dos rockers com uma gaita. Mas era uma gaita toda sem vergonha. Eu peguei a gaita e comecei a fazer um som. Foi totalmente intuitivo, ouvia a música de Elmore James e imitava o que ele fazia na slide. Com quinze anos ganhei o meu primeiro cachê em uma banda de rock. Foi assim que comecei. Só ouvia vinil porque na época CD era coisa de playboy. A gente ia a um supermercado famoso que vendia CDs e só tinha música clássica. Os primeiros discos que remasterizaram eram de música erudita. Em seguida a Movieplay do Brasil lançou vários discos de blues.

EM – Eu tenho vários dessa série. Eram coletâneas com gravações muito boas da Chess, Howlin' Wolf, Buddy Guy, Junior Wells...
IM – Exatamente, Howlin' Wolf, Muddy Waters, Little Walter, Sonny Boy, KoKo Taylor, Super Super Blues Band. E logo na sequência a banca de jornal começou a lançar uma série chamada Mestres do Blues. Mas não era da Chess era da... não lembro.

EM – Eram da Charly Records.
IM – Isso mesmo. Então foi aí que tudo começou. Nunca mais parei. O primeiro CD que peguei na mão foi de um negão todo “capengado” na capa, todo zoado, chapeuzinho coco,era o Sonny Boy. Aí eu ouvi e: “Cara. A minha gaita não faz esse som!” A foto do LP era grande e eu vi que estava escrito Marine Band. Eu levei o disco na loja de instrumentos e mostrei pro cara. Tive a sorte de ser no mesmo tom que o cara mais usava.


EM – E que tom era?
IM – Era Dó. Tudo conspirou. No final das contas acabei aprendendo a tocar ouvindo Sonny Boy. Little Walter foi incrível porque eu não fazia idéia de como ele conseguia tocar com aquele som distorcido. Nunca me falaram que era um amplificador valvulado e um microfone antigo. Pra mim aquilo era muito maluco. No início sempre toquei com gaita limpa. Meu pai me ajudou, ele comprou um amplificador chamado Check Mate 20, dos irmãos Vitale, era um transistor, eu gostava dele. E tinha um microfone que eu achei, era um Le Son, que eu achatei a cabeça pra encaixar a gaita, porque achava que era isso que fazia. Foi isso que usei por anos. Só fui ter um microfone “bullet”, pra gaita, e um amplificador que não era valvulado, um Fender, pequeno, que tinha um botão de overdrive que eu achava que era aquilo que rachava, aos 20 anos. Dos treze aos 20 usei gaita limpa e isso eu digo aos meus alunos, usar como foco. Usar amplificador e microfone, mas usar gaita limpa.

EM – E em Chicago como foi, você levou o equipamento?
IM- Só levei o microfone. A maioria dos bares tem amplificador, mas a maioria deles não são bons, os caras usam qualquer coisa. A gente aqui é que tem muita tara pela Fender, amplificadores “vintage”. Na real os bares têm Peaveys, transistores. A exceção é o Buddy Guy Legends que tem o Victoria Amp, que o patrocina. Pouquíssimos bares tem equipamentos bons, eles são deficientes também com os “P.A.s”.

EM – Vamos falar a real, lá nos Estados Unidos o blues é tocado em boteco.
IM – É, tanto que eles fazem o som mais baixo possível no palco. Eles usam os P.A.s para espalhar o som. Eles tocam no palco para se ouvir e as caixas para fazer o “spread”, que é espalhar a massa sonora. Esse é o segredo para usar bem esse equipamento. Geralmente os guitarristas e baixistas levam os seus equipamentos, mas é raro. Os mais velhos não levam, não.

EM – Vamos voltar um pouco, como começou a Igor Prado Band?
IM – Eu já estava numa fase em que a minha banda estava com problema de relacionamento. O Igor e o Yuri estavam começando e a gente se encontrava muito. Eles são de São Caetano e eu sou de Santo André. Aí surgiu a idéia de montar uma banda, mas a gente estava numa fase que já tinha ouvido muito John Lee Hooker, Muddy Waters e a gente tinha acabado de conhecer o Little Charlie e The Nightcats...

EM – Que hoje é a banda do Rick Estrin.
IM – Sim, hoje é Rick Estrin e The Nightcats. Nós fomos buscar outras fontes, Duke Ellington, Louis Jordan. Isso somou muita coisa, a gente acabou tendo uma bagagem diferente. Por exemplo, a gaita e a guitarra elas soavam como metais. Nós não tínhamos piano então a gente fazia essa simulação do piano na gaita, às vezes na guitarra. Começamos a ouvir T Bone Walker. Caímos em uma onda totalmente diferente do som pesado do Chicago Blues. O nome veio porque o Igor e o Yuri são irmãos e já existia a Charles Ford Band, do Robben Ford, Patrick Ford, Mark Ford. Ivan é nome russo, Igor, Ivan, aí ficou. Passaram vários baixistas, inclusive um que faleceu o Pete Wooley, que tocou com o Paulo Meyer, morreu afogado. (N.R. Pete Wooley morreu em Angra dos Reis em 2006). Um exímio baixista de jazz, tocava blues rock também. Logo após o Pete entrou o Marcos Klis. Indicado por outro amigo, aí casou porque o Marcos é aquele cara mais velho, mais calmo. Gente finíssima. E até hoje ele fala que é grato a nós por ter aprendido tocar blues, groove essas coisas.


EM – E hoje ele toca com o Ari Borger.
IM – Sim e eu fico contente de ver todos trabalhando. A Prado não existe mais. Hoje existe a Igor Prado Band, participo com eles, toco às vezes, quando eles me convidam. Cada um tem o seu trabalho. Hoje estou focado no meu, tenho um público. Consolidado. Fui buscar o meu caminho que sempre foi o Chicago Blues.

EM – Cada um foi buscar seu caminho. Eles para um lado e você para o outro.
IM – Sim, pouquíssimas músicas da Prado eu cantava. Cantava mais as músicas carregadas de blues tradicional. Não foi nenhuma desavença, foi a necessidade de cada um. O Igor queria seguir a onda do Junior Guitar Watson, Little Charlie Band, do que o lance de banda e isso é legal. A gente não pode limar a criatividade de ninguém pra manter uma banda. A gente chegou a tocar em casamento com a Prado. Fizemos algumas coisas. É lógico, se pintar um convite pra tocar com a Prado Blues Band a gente vai fazer, será ótimo rever o pessoal.

EM – Como você vê o blues no Brasil hoje? Na minha opinião vai bem, tem um monte de gente tocando e aparecendo.
IM – Acho que hoje é uma grande responsabilidade pra gente, vamos dizer, a segunda geração do blues brasileiro, a qual eu me incluo, mesmo tendo quase vinte anos de carreira, que é manter o que eles já fizeram. É ter o respeito desses caras. Coisa que não vejo muito, esse respeito dos jovens. Por exemplo, Carlitos Patroni da Atlântico Blues, Maurício Sahady do Rio de Janeiro, Álvaro Assmar, o próprio André Christovam, o Zé da Gaita, o Flávio Guimarães, Blues Etílicos, Nuno Mindelis, apesar de o Nuno não ser do início, do boom. Eles abriram o caminho pra gente e a nossa obrigação é manter. Eu falo para os meus amigos: “Bad Days, good days”.

EM - E esse evento que a gente está participando? No Brasil é tão difícil as coisas chegarem à décima edição, bicho. Fale um pouco sobre ele.
IM – É a paixão dos realizadores. Pra você ver como é. Pode perceber que se não fosse o Sesc, que é um lugar que oferece uma estrutura de qualidade, que faz com que a gente se sinta artistas de verdade e no Brasil não é assim. Se o festival de gaita está aí há dez anos e eu faço parte dessa história, posso dizer pra você que o festival está aí movido por uma coisa, a paixão pela gaita, pelo blues e pelo apoio que o Sesc nos dá.

EM – Qual o equipamento que você usa hoje? Sempre gosto de perguntar isso porque, como você já disse, tem gente que tem verdadeiros fetiches pelos equipamentos e eu sou um deles.
IM – Pra cantar e tocar gaita limpa uso um microfone SM58 da Shure, de preferência sem fio. Tenho um amplificador Phelpa 1964, é nacional, feito no Jabaquara, é bem legal. Agora Microfones uso um pouco de cada coisa, Super Lugs, Astatic, SM58 ligado no “ampli”. Sou um curioso, às vezes uso pedal com oitavador, às vezes uso um pedal de delay. Não sou muito ligado ao tradicionalismo apenas . Gosto de somar. Tudo que é feito pra nos dar um som bacana gosto de usar, mas o meu set é esse, um microfone Astatic e um SM58.

EM – Você acabou de lançar dois CDs em Chicago, mas e o próximo? Vai ser gravado lá também?
IM – Não sei. Hoje só tenho de agradecer. Não imaginei que desde quinta-feira a domingo, numa rotina fora do comum, que é rever os amigos, vendo tanto entusiasta de gaita, a galera vindo de tudo quanto é lugar do país, vindo tirar foto, me abraçar, comprar meu disco autografado. Me tratando como um artista mesmo. É um sonho, acho isso muito legal. Bom, tenho alguns projetos paralelos para retomar, mas ainda estou estudando e ainda não dá pra falar. Tenho uma turnê com o Mud Morganfield em maio. Vou ser o gaitista dele na turnê. Vai ser a Igor Prado Band, Donny Nichilo no piano e eu na gaita. Só vamos fazer tradicional anos 50. Vou tentar gravar alguma coisa esse ano, pra registrar. E em maio, se tudo der certo, vou tentar lançar uma vídeo aula com o apoio da Harmonica Master, do Morenno. E o grande barato é que é uma vídeo aula totalmente diferente do que há no mercado. É dedicada ao público intermediário e avançado. Além de tocar as músicas do primeiro CD, o Chicago Blues Sessions Vol. 1, ainda possui o playback da banda. Então, o aluno pode interagir com a televisão. Ela poderá servir também para um guitarrista, um pianista. Você pode tocar com a banda.


4 comentários:

  1. Estava presente no dia desta entrevista, muito bom ouvir o Ivan ser entrevistado por um cara que entende e valoriza os músicos. Parabéns Ivan e Eugênio pelo trabalho de vc´s pelo Blues no Brasil. []´s Rodrigo Morenno

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  2. Caro Rodrigo, você faz parte dessa história.

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  3. O Marcinho é O BLUESMAN!!! Parabéns pelo trabalho, cara!!

    Rui Bueno - Mr. Mojo

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  4. Ivan, muito bom mesmo conhecer um pouco mais a sua história! Estou feliz com o seu sucesso! Parabéns pelo trabalho que vem realizando!
    Abraço!
    Luiz Rocha

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