sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Muddy Waters era como um pai para mim, diz Willie "Big Eyes" Smith



Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

Ele já tocou com Bo Diddley, Johnny Shines, John Lee Hooker e participou como baterista do derradeiro grupo de Muddy Waters, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos.
Sua bateria é ouvida em todos os álbuns de Muddy que ganharam o prêmio Grammy, entre eles, Hard Again e I’m Ready. Mas também é ele quem aparece na cozinha de King Bee e do ao vivo Muddy “Mississippi” Waters, ambos produzidos por Johnny Winter.
Hoje investe em carreira solo como gaitista, baterista e cantor. Em passagem pelo Brasil para uma série de shows no ano passado, Willie “Big Eyes” Smith concedeu essa entrevista exclusiva ao Mannish Blog.
O atraso na publicação se deve ao fato de que só agora, após quase nove meses, a gravação ter sido localizada nas profundezas dos meus guardados. Acontece.

Eugênio Martins Júnior: Você se lembra quando e como foi que você conheceu o blues?
Willie Big Eyes Smith: Acho que aos oitos anos. Que eu me lembre foi a primeira vez que eu ouvi blues. Vivia com os meus pais e minha avó possuía alguns discos, aqueles velhos discos de blues de Robert Johnson, Little Brother Montgomery, Leroy Carr, Tampa Red, todos esses caras. Morávamos em uma fazenda, um pouco isolados e ela sentava lá e tocava os discos, mas eu ainda não estava pronto pra ouvir, não fiquei muito empolgado.

EM: Fale um pouco sobre Helena, sua cidade natal no Arkansas, ela sempre foi um berço de blueseiros, não é verdade?
WBES: Sim, Sonny Boy Willianson, Roosevelt Sykes, Willie Love, todos estavam por lá por causa do King Biscuit Time, famoso programa de rádio da época, eles tocavam e moravam por ali. Mas Helena é como todas as cidades do sul, como Missouri, Mississipi, Texas.

EM: Qual foi a sua primeira impressão da cidade grande quando foi pela primeira vez à Chicago?
WBEY: A primeira vez que eu pus os pés em uma cidade grande foi em 1941 e não tinha mais do que cinco anos de idade. A minha avó tinha um filho que vivia em Chicago. A segunda vez eu devia ter uns oito, depois dez e depois doze. Quando eu fiquei grande o bastante para ir sozinho foi em 1953, com 17 anos de idade. Ia para uma visita de duas semanas, mas não quis voltar mais pra casa, comecei a trabalhar comprei um carro e só depois voltei.

EM: Você tocou com Bo Didley e Johnny Shines, duas verdadeiras lendas do blues, conte como foi a convivência com essas duas feras.
WBES: Eu e Bo Diddley começamos juntos, costumávamos procurávamos trabalho todos os dias nas casas noturnas, tocávamos nos finais de semana e esses empregos não duravam muito tempo. Fui apresentado ao Johnny Shines por Arthur "Big Boy" Spires, éramos muito unidos nessa época.

EM: Você tocou com Muddy Waters uma das maiores lendas do blues, como foi esse envolvimento?
WBES: Em uma das primeiras vezes que estive em Chicago minha mãe me levou para vê-lo tocar. Foi de mais para mim, foi quando decidi que era isso que queria fazer. Na outra semana ela me comprou um teclado e eu sentei e trabalhei nele e em dois meses estava tocando.

EM: Como era Muddy Waters?
WBES: Para mim era como se fosse meu segundo pai. Eu era jovem e ele me explicava o que eu devia fazer, você sabe, dizia para eu ficar longe de encrencas, era basicamente isso: “Tome cuidado, Chicago não é brincadeira”. Tudo o que eu precisava, com Muddy eu tinha.

EM: E Você conseguiu se manter fora dos problemas?
WBES: (risos) Sim, consegui.

EM: Nos últimos anos de sua vida Muddy gravou alguns discos que eu mais gosto e King Bee é um deles. Nele você participa com Johnny Winter, Bob Margolin, Pinetop Perkins e outros. Gostaria que vopcê falasse um pouco sobre aquelas sessões.
WBES: Foi como todas as outras, nós chegávamos lá e trabalhávamos duro. (risos). Todos tocavam muito bem, todo o tempo e você tinha de entras na onda, porque se você não se equiparasse aqueles caras estava fora.

EM: O que o blues representa para a cultura norte-americana?
WBES: Representa muito, veja, a cultura americana existe antes de mim, de Muddy. Mas Muddy era o cara que todos os músicos se espelhavam que queiram fazer o que ele estava fazendo e isso manteve o blues vivo. Naquela época era uma música negra, não era uma música que todos gostavam, mas ela sempre esteve lá.

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