sábado, 6 de fevereiro de 2010

Jason Miles flutua entre o jazz e a música eletrônica


Mais uma entrevista arquivada que vem com atraso. Foi mal. Mas como diz o ditado: antes tarde do que nunca. Ela foi realizada em Rio das Ostras, em junho de 2009, por ocasião do festival, onde Jason Miles se apresentou duas vezes: a primeira no palco principal, Costazul. A segunda, abaixo de uma chuva torrencial, com as ondas castigando as pedras da praia da Tartaruga.
Desde os anos 80 Jason Miles tem se destacado como programador de músicos do nível de Miles Davis, Luther Vandross, Marcus Miller, Whitney Houston, Chaka Khan, Diana Ross, Aretha Franklin, Michael Jackson e muitos outros.
Em carreira solo desde o começo da década de 90, seguiu os ensinamentos de Miles Davis, seu mentor artístico, optando pela fusão de ritmos e gêneros musicais.
O reconhecimento veio com o CD The Music Weather Report, em 2000, pela Telarc. Seu mais recente trabalho, o CD Global Noize, traz uma parceria com DJ Logic. Foi com esse trabalho que Miles aportou no balneário carioca com o encapetado Jerry Brooks (baixo), Brian Dunne (bateria), Michael “Patches” Stewart e, lógico, DJ Logic.

Texto: Eugênio Martins Júnior
Fotos: Cezar Fernandes



EM: Como foram os shows, você gostou?
Jason Miles: Incríveis. Estava chovendo durante toda a tarde e bem na hora do show a chuva parou e as pessoas começaram a chegar. Dava para sentir a energia no ar. Foi lindo.

EM: E a banda o que achou, eu vi você tirando fotos do público.
JM: Cara foi muito excitante, eu faço isso o tempo todo.

EM: Como você classifica sua música, jazz ou música eletrônica?
JM: Acho que o que eu toco é música contemporânea.Toco muitos tipos de música e esse é apenas um dos meus projetos Tributo ao Miles. Gosto de transitar por diferentes tipos de música. Já toquei Marvin Gaye, tenho uma parceira com o DJ Logic que se chama Global Noise, que sofre muitas influências.

EM: Essa é sua primeira vez no Brasil, quando conversamos você mostrou um bom conhecimento da nossa música. Como está sendo este contato com os músicos?
JM: Eu amo o Brasil. Sempre admirei os músicos brasileiros. Posso citar Romero Lubambo, Ciro Batista. Um dos primeiros álbuns de música brasileira que eu ouvi na década de 70 foi o Clube da Esquina, um álbum incrível. Ouvi também o Combo Trio, Jorge Ben, Djavan, Tom Jobim, Caetano Veloso, Sérgio Mendes que foi morar nos Estados Unidos. Amo a vibração, os acordes, a melodia.

EM: Seus shows nesse festival foram em homenagem ao Miles Davis. Gostaria que você falasse um pouco sobre a música dele.
JM: Miles era um futurista. Estava sempre à frente. Não se prendia no que havia feito no passado, ele sempre falava isso quando estávamos juntos. Passamos cinco anos trabalhando juntos e aprendi muito com ele, sobre como encarar a vida, música, comida, ele sacava tudo profundamente.

EM: Qual foi a sua intenção ao gravar Miles to Miles?
JM: Bem, senti que nossa história, todos aqueles grandes momentos, ainda não haviam chegado ao fim, a música ainda não havia acabado. É como se em minha cabeça On the Corner, Bitches Brew tivessem continuação, então é como se ele ainda pudesse estar aqui fazendo a música que ele realmente gostava, por isso tantos grooves, hip hop e DJs, ele adorava esse tipo de arte, ele colocou o jazz um passo à frente. Algumas dessas músicas toquei para Michael Brecker e ele adorou e foi o responsável pela vinda de Bob Berg, Randy Brecker, fizemos algumas demos e achamos que ficaram muito boas.


EM: Você gosta de parcerias, como surgiu a mais recente com o DJ Logic?
JM: Conheci Logic há seis anos. Foi na Moog Fest, uma comemoração aos sintetizadores Moog, foi a primeira vez que isso acontecia e ele estava no me show de Miles to Miles. Ele ia em alguns de meus shows e uma noite fizemos uma jam session no Blues Note e tocamos algumas músicas que seriam o embrião de Global Noize, fomos ao Marrocos e fizemos alguns shows e passamos a tocar juntos desde então.

EM: O que você está achando do festival?
JM: Estou achando lindo, cara. Há muita liberdade aqui e as mulheres são lindas. O público respeita a todos os gêneros muisicais. Não vi uma briga ou algo parecido. Os brasileiros deixam a coisa fluir, são tão amigáveis. Olha, nada é perfeito e o Brasil está longe da perfeição, mas eu vejo a intenção de mudança, uma visão de futuro. Agora eu posso entender e sentir mais sobre a música brasileira conhecendo o povo brasileiro. A bossa nova era como as nossas músicas de big band, outro tipo de música, mas a mesma forma de olhar para o futuro. O festival está maravilhoso, as coisas estão correndo bem e eu estou achando uma experiência ótima. Todos estão amando.

EM: Pelo que você disse o Brasil é um país perfeito, você só tem elogios ao país?
JM: Eu sou uma pessoa muito impaciente, talvez o que mais me incomode é que as coisas aqui acontecem muito divagar. Por exemplo, na noite passada eu tive de ficar em uma fila muito lenta para pegar minha comida, quase vinte minutos (risos). Mas eu não entendo os como é o país, o governo, essas coisa. O que eu realmente sinto é que a vibração dos brasileiros é diferente de todos os países que eu já conheci. Mas isso é assim mesmo, as pessoas de outros países vêem as coisas diferentes. O mesmo acontece com os brasileiros que vão aos Estados Unidos e que ficam espantados com as merdas que consumimos e Disneylândia e tal. Eles adoram o país, mas têm uma posição crítica: “Pô, o governo está fodendo tudo”. Tudo o que os Estados Unidos tem um grande impacto em todo o mundo.

 


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