sábado, 2 de janeiro de 2010

O Som moderno da Caviars Blues Band



Texto: Eugênio Martins Júnior
Foto: Divulgação

Começo 2010 com blues na veia. Entrevista exclusiva da superbanda paulistana Caviars Blues Band. Realizada no final do ano passado, ocasião de um show em Santos. O grupo fala sobre seu começo, o Festival Internacional de Blues de Ribeirão Preto e sobre blues.

Com o recente trabalho The Way You Move e uma série de shows que incluíram duas comemorações aos 20 anos de blues no Brasil, no Sesc Santos, e a festa de aniversário do presidente de El Salvador (pode acreditar), a Caviars Blues Band entra no time dos blueseiros de maior destaque no cenário nacional. O CD traz versões modernas para temas de Otis Rush, Eric Clapton, Sonny Boy Willianson, Albert King, Albert Collins e Robben Ford.

A Caviars é Guappo (vocal e gaita), Xilo Moretti (guitarra), Ney Haddad (baixo) e Alaor Neves (bateria).

Vale lembrar que os shows em Santos, dentro da Mostra Blues, foram frutos de uma parceria entre o Mannish Blog, Projeto Jazz, Bossa & Blues, Revista ao Vivo, Sesc Santos, Lucas Shows e Eventos e Harmonica Master.

Eugênio Martins Júnior - Como foi o começo da Caviars?
Guappo - Conheci o Alaor e ele me convidou para montar uma banda de blues. Eu já tocava um tempo com o Xilo e ele chamou o Ney, que já tocava com ele. A partir do primeiro ensaio já rolou uma química musical. A banda funcionou.

EM - Como você começou na gaita?
Guappo - Foi ouvindo blues, mesmo. Ouço desde moleque, sempre tive essas referências. Tinha uma gaita lá na época e foi amor à primeira vista. Quando comecei a tocar já havia algumas pessoas que tocavam no Brasil, Flávio Guimarães e Sérgio Duarte. Fui conhecendo esses caras e depois fui para os Estados Unidos, fiquei um tempo lá e conheci um monte de gente da gaita e fui me aprimorando.

EM – Onde você morou nos EUA?
Guappo - Fiquei mais viajando. Toquei com um guitarrista chamado Michael Powers, um cara do circuito de blues de Nova Iorque com quem aprendi legal. O Brasil tem uma vantagem porque a cena internacional é muito forte, muitos artistas vem para cá, todo ano tem alguém vindo, há algum tempo é assim.

EM - Eu faço essa pergunta a todos os músicos de blues brasileiros para saber o que eles acham. O que você acha da cena brasileira?
Guappo - Não é uma cena forte porque blues não pega como a música pop, mas a cena do Brasil é estruturada, vamos dizer assim. Tem muita gente que toca muito bem, os músicos de blues no Brasil são bem competentes. A estrutura física não é forte, não tem lugar pra tocar, mas a emocional é forte, você vê isso quando os músicos de blues americanos chegam ao Brasil e se sentem à vontade. Eles gostam de tocar com a gente. Tanto que muitos músicos de blues quando vem ao Brasil acabam tocando com bandas daqui e o som rola muito bem.

EM - Quanto tempo vocês estão juntos?
Guappo - A Caviars tem cinco anos e um CD recém lançado.

EM - Eu tenho o CD que tem muitos clássicos com roupas diferentes. Como vocês elaboram esses arranjos?
Ney Haddad - São arranjos inspirados nos próprios músicos americanos, gostamos muito dessa onda mais moderna. Muita coisa nós começamos copiando e fomos adaptando ao nosso som. Quando você fala de blues, vêm logo à cabeça as referências, os clássicos como B.B. King, Albert King, Albert Collins. A coisa mais do sul dos Estados Unidos, Lightning Hopkins, o próprio pessoal do Texas, Stevie Ray Vaughan, mas tem muita gente no cenário norte-americano que ainda não é muito conhecida. Que pouca gente ouve, mas pra gente eles fazem a ligação entre o blues dos anos 40, 50 e o pessoal do blues com influência de jazz e fusion, como Robben Ford e outros que sõ nossas influências. Vou citar aqui a Paul Butterfield Blues Band, com o Michael Bloomfield, na guitarra. Esses caras talvez tenham feito essa transição.

EM - Tenho a impressão que os blueseiros brasileiros foram influenciados primeiro pelo pessoal dos anos 60 como o Cream, os Bluesbreakers, Led Zeppelin e Stones, principalmente, procede?
Guappo - O Eric Clapton influenciou muitos guitarristas, iIsso é muito claro. Eu comecei influenciado por gaitistas como o Paul Butterfield, o Marc Ford, irmão do Robben Ford e o Eddie Just, são gaitistas mais venenosos, com estilo mais rock. Essa veia é uma das grandes influências da nossa banda.

EM - Qual foi o show de blues que você viu nos Estados Unidos que te marcou?
Guappo - Vi dois shows do Clapton, muito show de jazz. Vi Little Charlie e Nightcats, que tem o gaitista Rick Estrin. Lá têm shows todos os dias.

EM - E você Alaor, qual foi o show de blues que mais marcou?
Alaor Neves - Vi bastante coisa lá fora, mas mais de jazz e fusion na época. Vi Robben Ford. Vi B. B. King, fui ao Village em Nova Iorque e vi gente que eu nunca havia ouvido falar e que ainda continuo sem ouvir, mas essa gente faz um blues super legal, moderno, bacana. Mas o meu background é de rock.

EM - Alaor, fala um pouco sobre aquele festival de Blues em 1989. Os músicos brasileiros e os gringos foram todos de ônibus juntos para Ribeirão Preto.
Alaor Neves - Foi a banda inteira do Albert Collins, estava a Etta James, o Buddy Guy, Blues Etílicos, Andre Christovam, todos com suas respectivas bandas. Eram dois ônibus na estrada com músicos e bandas e pessoal da produção. Foi primeiro festival de blues internacional de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

EM - Você estava na banda do André?
Alaor Neves - Não era a banda do André, era uma banda. Foi muito legal, imagina você viajar no mesmo ônibus do Albert Collins, pra quem nós abrimos. Rolou de tudo que você pode imaginar, porque foi uma coisa inusitada, não era São Paulo nem Rio, era Ribeirão Preto. A gente mudou a cara da cidade e ninguém se ligou nisso, a cidade mudou por nossa causa e nunca mais voltou a ser a mesma.

EM – E todos os anos acontece um festival de blues lá em Ribeirão.
Ney Haddad - Sim, e todo mundo espera o festival de blues e sempre está cheio.

Alaor Neves – A temática do blues é muito atraente, é um pouco do teatro da vida das pessoas, no coletivo e individual. Agora no Brasil a gente está vendo isso, o Celso Blues Boy, as letras dele são verdadeiros blues. Às vezes você ouve uma harmonia de blues, mas se for ver, as letras não estão no contexto, não é aquela coisa sofrida, bebida, embriagada, tipo: “Porra ela me deixou, mas agora eu vou me levantar, vou em frente e tal”. Sempre foi meio (solfeja o riff de Mannish Boy): “Estava na praia tomando sorvete. Quando vi uma gostosa passar”. Não tem nenhuma relação. O André Christovam que veio com essa sacada de fazer letra contundente, temas blues.

Ney Haddad – O blues é um estilo de vida, mostra o sentimento das pessoas que se expressam pelo blues, as tristezas, os amores e tal. Por contar a vida da história das pessoas envolve muito sentimento. É isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário