sexta-feira, 9 de maio de 2014

Tia Carrol lança CD Brazil Sessions com Igor Prado Band


Texto e fotos: Eugênio Martins Júnior

Californiana de Richmond, Tia Carrol cresceu infernizando a vida dos pais cantando o dia inteiro as músicas que aprendia no rádio. Stevie Wonder, Larry Graham, Ike & Tina Turner, The Beatles e The Monkeys eram alguns deles. Ela mesma reconhece que às vezes passava da conta.
O caminho não poderia ter sido outro, com a banda de rock Yakety Yak, abriu shows para nomes de peso como Gladys Knight, Ray Charles, Patti LaBelle e Tower of Power. Atuou como backing vocals para artistas da região, entre eles, Sugar Pie DeSanto, E.C. Scott e Jimmy McCracklin, com que atuou em turnê.
Gravou três CDs solos, Wanna Ride, mais rock and roll e Tia Carrol e Soul Survivor, voltados ao soul e R&B.
Recentemente foi lançado no Brasil pelo selo Chico Blues o CD Tia Carrol Brazil Sessions. O disco traz onze temas. Dois deles de autoria de Carrol em parceria com o tecladista brasileiro Flávio Naves, They Call It Animal e The Blusiest Woman. Os outros são temas clássicos da soul muisic, It Is Your Thing (Isley Brothers), How Sweet It Is (Marvin Gaye), um medley com Let the Good Times Roll/Rock Me Baby (B.B. King), Love and Happiness (Al Green), Midnight Hour (Wilson Picket), Mr Big Stuff (Jean McNight) e I’d Ratter Go Blind (Etta James). Além de You Hurt Me (Little Willie John) e If I Can’t Have You (Etta James), com a participação de J.J. Jackson, que já estavam no CD/DVD da Igor Prado Band, Blues & Soul Sessions. 
O CD traz as participações de Sax Gordon, Donny Nichilo, Deacon Jones e Flávio Naves nos teclados. Só não entendi o Brasil com z no título.
A parceria deu certo, depois que virou produtor, Igor tem trazido vários artistas norte-americanos ao Brasil. Tia Carrol é uma se suas preferidas. São turnês que levam um mês com mais de dez shows na agenda. Essa entrevista aconteceu em um desses shows, no Clube do Blues de Santos, produzido por mim no Studio Rock Café.   


Eugênio Martins Júnior – Você começou cantando rock and roll e mudou para blues e soul. Recebeu alguma influência para que isso acontecesse?
Tia Carrol –
Tina Turner. É uma grande performer, com uma grande presença de palco. Vou ser honesta com você, sua voz não é das maiores, e as palavras às vezes não são tão claras, mas se observar seu trabalho, tudo isso se completa. Ela sem dúvida é a minha maior influência. Koko Taylor me trouxe ao blues, ela canta como ninguém. Ela faz você ficar lá sentada aprendendo as letras daqueles blues e você se sente como se fosse golpeado na cabeça, uau!! Tina Turner me ensinou a fazer na vida o que for preciso, sem remorso.

EM – Realmente as duas cantoras têm uma forte presença. Você se inspirou nisso?
TC –
Sim. Aprendi como ter esse poder e ficar confortável com a minha performance. Por muitos anos usei uma voz com falseto (nesse momento Tia Carrol canta como uma adolescente romântica). Depois de Tina e Taylor eu passei a cantar dessa forma: (agora ela imprime maior potência, cantando o mesmo tema só que com uma levada gospel e cheia de suingue). Elas me mostraram força e poder. Antes delas eu tinha medo de mostrar a minha voz.     

EM – Como foi a sua infância? Você cantou nas igrejas como outras cantoras?
TC –
Nunca cantei em igrejas (risos). Cantava em casa, lembro da minha mãe reclamando. As visitas chegavam em casa e eu ia para a porta da frente atender: “Hit the Road Jack...” (risos). Minha mãe me mandava ir sentar em algum lugar e eu dizia tudo bem. Cinco minutos depois lá estava eu lá lá lá. Não conseguia parar.

EM – Você tem feito muitos shows no Brasil com Igor Prado Band. Como vê essa parceria com uma banda de blues brasileira?
TC –
A banda tem sido tão bacana em me trazer aqui para tantos shows. Me mostrando tanto do Brasil, quão forte é o blues por aqui. Eles são muito talentosos, é engraçado, quando venho ao Brasil os músicos da minha banda nos Estados Unidos acham que eu vou voltar e despedi-los. Eles me dão o suporte necessário, quero dizer, houve uma vez que vim direto de New York onde tive um pequeno show. Meu vôo havia sido cancelado por causa de uma tempestade de neve e fiquei presa trinta horas no aeroporto. Finalmente embarquei e peguei um vôo de dez horas até o Brasil. Depois passei apenas duas horas descansando no hotel, mais três horas de avião e duas horas de ônibus para chegar à cidade do show. Cheguei ao hotel só para tomar banho e trocar de roupa e ir direto para o palco. E estávamos prontos. Deveríamos ter ensaiado no dia anterior, mas nem precisamos. Não sei como aconteceu, mas nós simplesmente ligamos na tomada e tocamos. Como se tocássemos há centenas de anos. É impressionante. Com as outras bandas sempre tive de ensaiar, porque eles não sentem minha música como os irmãos Prado e os outros garotos, Rodrigo e Flávio. Como se fossemos da mesma família.


EM – Antes dessa parceria você sabia que existia blues no Brasil?
TC –
Não sabia nada sobre o Brasil até conhecer Igor Prado há quatro anos no Lucerne Blues Festival, na Suiça. Eles tocavam com o Lynwood Slim. Quando os ouvi tocar perguntei se era verdade que eram do Brasil. Não fazia ideia na época, mas depois de vir ao Brasil algumas vezes vi que as pessoas amam o blues. Tenho visto jovens com tatuagens dos grandes do blues nos braços, B.B. King, Fats Domino, Snooks Eaglin. Uau!! Aqui o blues é levado a sério!

EM – Aprendeu alguma coisa sobre a música brasileira com os rapazes nas vezes que veio ao Brasil?
TC –
Sim, o bom e o ruim (risos).  Aprendi a apreciar o forró com acordeom que eu adoro e alguns artistas clássicos do Brasil. Ganhei um CD com Cartola. A primeira vez que ouvi no meu toca discos não fiquei tão tocada, mas depois de duas audições aquela música me impressionou.

EM – Há alguns anos não se via tantos artistas norte-americanos por aqui, mas essa realidade mudou. A que você atribui isso? As bandas brasileiras são boas mesmo ou a crise econômica nos Estados Unidos está fazendo com vocês busquem outros mercados?
TC –
Bem, a economia no meu país não está como antes e há grandes artistas de blues no Brasil. O que deu a oportunidade de artistas americanos e brasileiros unirem seus talentos. O trabalho duro dos agentes e produtores está por traz disso também. Esse é o terceiro ano que venho aqui e espero continuar vindo. 



EM – Em sua opinião, quais as semelhanças e diferenças entre músicos de blues brasileiros e americanos? O que eu quero dizer é que essa não é a nossa música, mas mesmo assim gostamos de tocá-la.
TC –
Você está certo. Mas vocês aprenderam com os melhores e tocam como os melhores e têm a devida dedicação para tocá-la corretamente. Vocês pagam tributo aos grandes e é difícil dizer, mas muitos músicos no meu país não fazem isso. Eles preferem fazer seu próprio som, mas não aprenderam nem o básico. Não digo todos, mas a maioria faz isso.

EM – O brasileiro é um povo muito musical e sabe reconhecer esse talento nas pessoas.
TC –
Considero isso um presente de deus que devo compartilhar e não guardar. É uma honra e uma benção. O Brasil é um dos melhores lugares onde cantei. Os brasileiros fazem me rir, me chamam pra dançar.   

EM – O que você mais gosta e o que mais odeia no Brasil?
TC –
Adoro a comida e a cultura. As famílias te convidam para entrar em suas casas e te tratam como se fossem da família. Aqui eu não me sinto longe de casa. O brasileiro é muito amável. Dessa vez fiquei quase trinta dias e ainda tenho mais uma semana por aqui. O meu português está melhorando. Não sou uma grande oradora, mas entendo muitas coisas em português. O que aprendi sobre as pessoas no Brasil é que elas estão sempre tentando ajudar. Estão sempre tentando entender o que estou falando.
E o que eu não gosto no Brasil é que é um país muito grande e parece que pessoas que não estão nos grandes centros foram esquecidas. Mas existem pessoas sem teto e pessoas pobres em todo o mundo.

EM – Sim, mas no Brasil nós temos demais. É um dos nossos grandes problemas sociais.
TC –
Talvez porque seu país seja tão grande e as pessoas vivem se mudando. É um dos problemas mais difíceis de resolver porque além de criar condições para as pessoas, tem de lidar com suas emoções e problemas pessoais.  




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